Querida Flavinha, carta 2 – Mulher, de propósito e com propósito

Essa série, “Querida Flavinha”, é uma compilação de cartas sobre casamento que estou escrevendo e enviando à minha prima, Flávia. Ela me permitiu postar o conteúdo no Graça com o objetivo de ajudar quem estiver, assim como ela, se preparando para o matrimônio. Essa é a Carta 2, sobre feminilidade.

Clique aqui para ler a carta 1, “Deus, a Trindade e a gênese do casamento”.

____________________________________________________

Querida Flavinha,

Como você sabe eu estou, pela graça divina, grávida de 14 semanas, o que significa que em apenas 6 semanas eu vou poder descobrir o sexo do nosso bebê! Você nem imagina minha antecipação! Menina, menino? A verdade é que não me importa, eu quero aquilo que Deus enviar. Mas confesso, por outro lado, que o pensamento de possivelmente ter uma menina me deixa um pouco ansiosa. Nesse mundo quebrado e caído em pecado é difícil, e até mesmo perigoso, ser mulher. Meu coração se quebra ao pensar em mulheres em sofrimento ao redor do mundo (e até aqui, na esquina de onde estou, pois o sofrimento está em todo lugar). Desde mulheres presas na escravidão do tráfico sexual, meninas trabalhando em minas de carvão e mulheres em países de regimes violentos contra elas, até mulheres vivendo na mentira do Feminismo extremo, buscando fora de Jesus a alegria e paz que somente Ele pode dar.

Em uma sociedade como a nossa existe muito pensamento em torno do “ser mulher”. Na verdade o mundo vai gritar em nossos ouvidos, constantemente, sobre o que significa ser do sexo feminino, e vai nos apresentar uma liberdade que na verdade vem cheia de amarras. Se não nos amoldamos ao padrão imposto somos taxadas de “traidoras do movimento”. Mas, querida Flavinha, as vozes do mundo precisam ser silenciadas em nossa mente. Tanto seus gritos quanto seus sussurros, tanto as mentiras escancaradas quanto as sutis. O mundo vai tentar remover de você toda a doçura, toda a piedade, toda a delicadeza, e te transformar em alguém “empoderada” no pecado, na autossuficiência, na arrogância. Flavinha, há sim uma realidade absoluta sobre ser mulher, mas ela se encontra somente no Deus que criou a mulher

Quando você nasceu seus pais devem ter se enchido de alegria. Eu mal consigo imaginar — uma menininha depois de dois meninos! Seu pai até hoje te enche de mimos, porque você é a princesinha dele, e seus irmãos te protegem porque você sempre será a irmãzinha deles. Deus te criou mulher de propósito, e essa verdade precisa criar espaço em seu coração. Você não foi um acidente, assim como a primeira mulher, Eva, também não o foi. Deus planejou a criação perfeita da mulher, da costela do homem, e quando Ele terminou pôde exclamar que era “muito bom”. A mulher não foi uma criação extra, vinda somente para complementar a “criação principal” do homem. Não, nós fomos planejadas por Deus, escolhidas por Deus, comissionadas por Deus, amadas por Deus. Como mulheres, e não homens. Há importância colocada sobre ser mulher, há responsabilidade e há beleza. Deus nos fez mulheres de propósito.

Mas Deus não somente te criou de propósito, Ele também te fez com um propósito. Você, Flávia, foi criada à imagem e semelhança do Deus Todo-Poderoso para viver para a glória dEle. O Catecismo de Westminster diz em sua pergunta primeira que “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Claro que aqui a palavra “homem” traz o significado de “ser humano”, ou seja, tanto homens quanto mulheres têm como propósito glorificar a Deus. Infelizmente enquanto não vivemos para essa finalidade, permanecemos vazias e incompletas. C. S. Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia, disse, “Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo”. Oh, como isso é verdade! Nós fomos feitas para outro mundo e precisamos viver com os olhos nele. Portanto, como mulheres (assim como os homens) nós temos um propósito claro.

Só que agora você também é não somente mulher, mas noiva, prestes a ser esposa. Isso também tem uma significação especial, única. Entretanto, eu quero que você entenda uma coisa desde o começo: você não tem como finalidade da vida ser uma boa esposa. Por vezes nos sentiremos confusas e acreditaremos nisso. Sua finalidade é glorificar a Deus. Isso significa que você, Flávia, é em primeiro lugar e acima de tudo filha de Deus. Sua identidade não estará jamais em Guilherme, em um estado civil, em filhos, em um emprego, ou seja mais no que for. Sua identidade, quem você é, sua essência, está total e somente em Cristo Jesus, seu Senhor, que morreu por você. O apóstolo João disse, “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus” (1 João 3:1). Uau! Realmente, quão grande amor Ele tem que enviou Seu próprio Filho para que nós fôssemos filhas adotadas na família divina. Nunca esqueça de onde sua identidade realmente está, querida. Quando o Pai olha para a Flávia, Ele não vê os pecados, a sujeira, a maldade. Ele vê o sangue do Filho, e por isso te ama com amor eterno. Isso é quem você é, nada mais te define.

Isso é importantíssimo de entendermos e crermos porque com o tempo poderemos começar a cair no pecado de colocar nossa identidade em nossos maridos. Como você pode imaginar, vários problemas surgem disso — ciúmes, pressão, manipulação psicológica, sentimento de inferioridade ou possessão, entre outros. Querida, Guilherme é de Deus acima de tudo, e você também, e assim sendo cabe a Ele fazer de vocês (e com vocês) o que quiser. Eu tenho aprendido isso nessa fase de gravidez. Esse bebê é totalmente de Deus e cabe a Ele escolher seu futuro, a mim só resta descansar na Soberania do Pai. A você cabe o mesmo. Entregue a si mesma ao Senhor e coloque Guilherme no altar dEle também, derramando tudo ali. Abra suas mãos e reconheça que você não está no controle. E então descanse que o futuro de vocês como indivíduos e como família está nas mãos que foram perfuradas por vocês.

Como mulher você foi chamada para glorificar a Deus em tudo, e isso inclui o casamento. Como esposa você foi chamada a ser a ajudadora idônea (que é uma palavra difícil que simplesmente significa “adequada”, “competente”) do Guilherme. Há uma linda responsabilidade nesse chamado. Você foi chamada a ser a companheira de guerra do seu marido, aquela que o auxiliará nas batalhas espirituais dessa jornada aqui. A vida cristã não é fácil, nós sabemos disso. Perseguições virão, dificuldades, dores. Seu chamado é para ser aquela que permanece, mesmo em meio aos ventos fortes e tempestades, ao lado do seu amado, lutando com ele e por ele. O termo hebraico para ajudadora idônea é “ezer” que significa “aquele que ajuda”. A palavra é usada para o próprio Deus várias e várias vezes nas Escrituras. Um exemplo lindo está no Salmo 33, verso 20, “A nossa alma espera no Senhor; ele é o nosso auxílio [“ezer”] e o nosso escudo”. Ser “ezer” não é então, como muitos pensam, ser menos. Auxiliar seu marido é um privilégio que exigirá de você tornar-se uma esposa competente, preparada para tão alto chamado. Exigirá que você confie totalmente que Deus te capacitará a essa tarefa diariamente, porque é somente na força dEle que podemos cumprir nossa missão de sermos auxiliadoras competentes, aliadas na guerra.

Querida Flavinha, ser mulher é um privilégio. Jamais deixe os perigos do mundo ou os gritos do inimigo te convencerem do contrário. Deus te planejou mulher e te criou de propósito e com propósito. Glórias a Ele por tão alto chamado!

Com muito amor,
Sua prima,
Fran