O Início de Tudo  (Sobre a Criação)

Um dos primeiros versículos que aprendemos quando crianças é Gênesis 1:1 – “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Os dias da criação, o primeiro casal, as musiquinhas sobre os animais… Tudo isso, ensinado de maneira lúdica e criativa, é muito importante para educação bíblica das crianças. Mas não nos deixemos enganar: estudar sobre a criação não é coisa apenas para crianças. Meditar sobre Gênesis 1:1 pode abrir nossos olhos espirituais para verdades profundas sobre Deus.

A palavra gênesis significa “como tudo começou”. O livro de Gênesis foi escrito durante o período de 40 anos de peregrinação do povo de Israel até a terra prometida. É provável que este livro, assim como o restante do Pentateuco, tenha sido escrito um pouco antes da entrada do povo em Canaã. O objetivo do relato era realinhar a fé dos israelitas, que passaram 400 anos no Egito em contato com culturas e religiões diversas, adorando deuses que não eram o verdadeiro Senhor.

Com o povo prestes a entrar na terra de Canaã, lugar povoado por nações pagãs, Moisés, inspirado pelo Espírito, registra a história que o próprio Deus havia revelado a seu servo. Tudo isso com o fim de relembrar e registrar verdades centrais: Como o mundo surgiu? Por que estamos aqui? Existe verdade? Como viver nesse mundo? Por que Deus fez aliança com Israel e não com outros povos?

Podemos encontrar respostas para essas e outras perguntas no primeiro livro das Escrituras, mas nesse texto focaremos em analisar o primeiro versículo de Gênesis.

Aquele que é

É interessante notar que Moisés começa o livro de Gênesis retratando Deus como o ser anterior a todas as coisas – “No princípio, criou Deus…”. Deus não é explicado em sua origem, Ele é simplesmente apresentado. Ele sempre foi, é e será, “Eu sou o que sou” é o seu nome (Ex 3:14).

Uma das primeiras formas de identificar Deus é dizer que ele criou todas as coisas. Era assim que Paulo comumente apresentava o Senhor aos pagãos: “Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo que há neles” (At 14:15); o Deus que “a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At 17:24-25).

Meditar na criação vai muito além de encontrar explicações para o surgimento do universo. Compreender, pela fé, que Deus é criador e sustentador de todas as coisas, que tudo passou a existir por sua vontade e mediante sua palavra, gera em nós temor reverente e genuína adoração.

Não há como meditar no caráter criador de Deus e não se maravilhar com Sua bondade, beleza, providência e poder. Isso é afirmado no cântico dos vinte e quatro anciãos em Ap 4:11, “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”.

Uma vez que, do nada, Deus criou todas as coisas pelo poder de sua palavra, isso significa que Ele é o dono do universo e, por isso, rege-o como quer. Por ser soberano e todo-poderoso, eterno e, por isso, anterior a todas as coisas, esse Deus criador deve ser o único objeto de nossa adoração diária (Sl 90:2).         

Todas as coisas, um só fim

A expressão “os céus e a terra” em Gn 1:1 significa a totalidade das coisas. Dizer que Deus criou céus e terra abarca todo o universo, as coisas visíveis e invisíveis (Sl 33:6-9; Cl 1:16). Tudo que vemos e conhecemos, tudo que não vemos ou sequer supomos existir, foi criado por Deus com um fim. O mundo não surgiu do caos e é destituído de sentido. Se todas as coisas houvessem surgido do nada, sem a criação intencional de um Ser, estaríamos fadados ao mesmo fim: o nada. A criação foi feita por Deus de propósito e com um propósito.

O principal fim da criação é glorificar o próprio Deus. As galáxias distantes, os insetos minúsculos, as feras do campo, a delicada borboleta, você… Tudo feito por ele, por meio dele e para ele (Jo 1:3; Cl 1:16). Você já parou para meditar que o canto dos pássaros e o rugir do mar existem para a glória de Deus? Já parou para pensar que o universo é tão vasto porque aponta para a glória de seu Eterno Criador? De modo semelhante, você já meditou sobre o fato de que o mesmo Deus que esculpiu todos os montes e vales desenhou cada linha do seu rosto? Isso não deveria nos deixar assombrosamente maravilhados (Sl 139:13-16)?

Além de criar todas as coisas, Deus sustenta tudo que existe (Ne 9:6). Não é como se Deus tivesse criado tudo a milhares de anos e houvesse se distanciado de sua criação. Não somos provenientes do caos e nem regidos pela sorte, mas Deus, que a tudo criou, a tudo sustenta e governa. Somos parte da grande história que Deus escreveu desde antes da fundação do mundo e podemos confiar que o Criador e sustentador de todas as coisas é soberano sobre cada aspecto de nossa existência.

Desfrutando da criação em louvor ao Criador

Quando enxergamos a soberania, beleza, bondade e providência de Deus ao criar o universo, temos nossa visão reajustada para lidar biblicamente com o mundo que nos cerca. Dia após dia a natureza brada a existência e a majestade de Deus. Em nosso cotidiano, a criação nos dá claras pistas de quem Deus é.

Deus criou todas as coisas para o louvor da sua glória e para que sintamos prazer em apreciá-las (1Tm 6:17). No entanto, assim como não devemos adorar as coisas criadas no lugar do Criador, não devemos desfrutar da criação como um fim em si mesmo. O prazer que sentimos ao provar boa comida, contemplar o pôr-do-sol ou desfrutar da companhia de amigos foi criado por Deus. Ele quis que sentíssemos prazer em sua criação como uma forma de apontar para Ele mesmo.

Sendo assim, não é pecado desfrutar da criação divina e sentir prazer nisso, pelo contrário. Quando nos relacionamos com a criação como ela de fato é, uma amostra da beleza e majestade de Deus, glorificamos ao Criador em adoração. Perder o deslumbramento com a criação e menosprezar o seu desfrute é fugir da bondade do Criador. 

As galáxias desconhecidas, a força do mar, os delicados traços de uma flor, o formato de uma nuvem, o cheiro de café coado, o olhar compreensivo, o prazer da boa leitura, a inteligência dada aos homens para desenvolver ciência, a criatividade do compositor da boa música, o som da voz de quem você ama, o formato de seu sorriso, a cor de sua pele… Toda a criação, toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm dele e bradam em alta voz: Ele é bom! Ele é santo! Ele é belo! Ele é glorioso! Ele, o Deus criador!


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Novembro com o tema “Gênesis”. Para ler todos os posts clique AQUI.