A História Que Não é Sobre Nós (Sobre José)

“Esta é a história de Jacó” (Gênesis 37:2 – ARA)

Assim começa a história sobre a vida de José.

José é um personagem bíblico, um dos filhos do patriarca Jacó, vendido como escravo para o Egito pelos próprios irmãos, assediado pela esposa do seu chefe, preso injustamente, mas que tem um final daqueles que olhamos e concordamos que somente Deus poderia fazer algo do tipo.

José tem sua história muitas vezes utilizada para falar sobre triunfo, sobre como Deus pode nos honrar, sobre como devemos ser obedientes e fugir das tentações, sobre como Deus usa o mal para o bem… bem, isso tudo é verdade. José nos ensina tudo isso. Mas se nos limitarmos apenas a esses aspectos, estaremos perdendo o mais importante que José tem a nos dizer.

Se olharmos apenas para estes pontos da história, além de perdermos o essencial sobre a vida de José, tenderemos também a projetar tudo isso sobre a nossa vida nos esquecendo que a história de José não é sobre como ele triunfou diante das dificuldades, mas sobre como ele guardou a promessa do Senhor seu Deus e confiou que a história não era sobre ele.

José, o forasteiro

José é comumente conhecido como “José do Egito”, e há inclusive uma novela com este nome. Mas José não era do Egito. José era de Canaã. Ele foi vendido para o Egito como um escravo e ali permaneceu até que Deus cumprisse o seu propósito. Nisto, quero fazer um paralelo com a nossa vida, querida amiga.

Você já parou para pensar que, embora você viva em qualquer lugar deste mundo, você não é deste mundo? Nossas lutas e dificuldades, triunfos e vitórias, na terra em que vivemos, não são eternas porque este mundo não é o nosso lugar de habitação final. Nós, como José, estamos aqui, mas não somos daqui.

José poderia ter facilmente “vestido a camisa” do Egito. Ter vivido como um egípcio, adorado aos seus deuses, sucumbido aos seus costumes, rejeitado o seu Deus para fazer parte de um povo que não era seu povo. Poderia ter se vendido a troco de aceitação e aprovação. Mas José não agiu desta forma. Ele sabia que estava ali, mas não pertencia àquilo tudo.

Saber quem somos, a quem pertencemos e onde é o nosso verdadeiro lar, nos livra de uma vida de idolatria, de falsidade, de conformação com aquilo que não nos pertence. Saber quem somos no Senhor, saber que Deus é o nosso Pai, que Jesus é nosso Senhor, que o Espírito habita em nós, nos livra de uma vida de conformidade com o nosso Egito, seja ele qual for.

Quando sabemos quem somos e onde é o nosso lugar, pouco importa se nossos irmãos nos machucaram, se mentiram sobre nosso caráter, se nos esqueceram numa prisão injusta; e também pouco importa se triunfamos, se vencemos nossos inimigos, se estamos em uma posição de honra. Saber que somos forasteiros nesta terra nos ajuda a entender que não importa a situação pela qual estamos passando, seja ela boa ou ruim, a única certeza que temos é que tudo aqui é passageiro. As dores não nos assustam e os triunfos não nos impressionam, pois há preparado para nós um lugar onde essas coisas não têm poder sobre o nosso coração.

O que José nos ensina, é que está tudo bem ser de Canaã e viver no Egito, porque no fim, quando Deus intervier em favor do seu povo, existe um lugar onde a sua promessa há de se cumprir, e nós estaremos lá. Precisamos viver convictas que deste lado do céu somos apenas forasteiras, assim como José era forasteiro no Egito.

Ter certeza de nossa verdadeira identidade, sobre o nosso lugar na Criação, nos faz livres para sermos o que Deus nos criou para ser em qualquer lugar e em qualquer situação em que nos encontrarmos. Em tudo José era abençoado, da prisão ao governo do Egito, Deus estava com ele, e ele estava satisfeito em seu Deus, seu Criador, seu Senhor.

Vivendo pela fé e não pelo que vemos

“Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem como deu ordens quanto aos seus próprios ossos.” (Hebreus 11:22 – ARA)

Pouco antes de morrer, José fez com que os filhos de Israel lhe jurassem algo muito peculiar. De tudo o que ele poderia pedir, pediu que os seus ossos fossem levados do Egito. José diz: Certamente vos visitará Deus, e fareis transportar os meus ossos daqui.” (Gênesis 50:25 – ARA, grifo meu). José estava certo que Deus interviria em favor do seu povo. José não diz “se acontecer, por sorte, de Deus os visitar, levem meus ossos aqui”. José afirma que certamente Deus os livraria daquele lugar e os levaria para a Terra Prometida. Essa demonstração de fé nas promessas divinas levou José para a galeria dos heróis da fé, em Hebreus 11.

José se lembrou da promessa proferida a Abraão e suas instruções para que levassem seus ossos à Terra Prometida expressavam fé em coisas ainda não vistas. Como José, nós também não andamos pelo que vemos, por aquilo que podemos apalpar ou compreender. José sabia que o Deus que o levara ao Egito por um propósito muito acima da sua compreensão, era o Deus dono de toda a história da humanidade, que é fiel, que não mente, que cumpre com tudo o que diz. Não importa qual seja a promessa, importa mesmo Quem prometeu.

José, no fim das contas, não viveu uma vida triunfante porque venceu obstáculos, superou suas dificuldades ou foi honrado depois de ter sido tão humilhado. Não podemos ter essa perspectiva sobre nossa vida. A providência do Senhor estava sobre José desde quando este fora jogado no poço pelos irmãos. A providência do Senhor o acompanhou como escravo em outra terra, como injustiçado e assediado. A providência o acompanhou na prisão e no governo do Egito porque simplesmente a história de José não é sobre José.

Querida, esteja você no poço escuro ou numa posição elevada, saiba que a providência do Senhor, seu braço forte e sua mão poderosa nunca saíram de perto de você. A sua história, a sua vida, nada disso é sobre você. Você pertence a uma história muito maior, e o Senhor, o dono da história, orquestra maravilhosamente cada acontecimento para culminar em glória ao seu nome que é Santo; para cumprir cada propósito que por ele fora determinado desde a fundação do mundo. Como José, Deus conduz cada passo de nossa vida para que cumpramos o que ele ordenou. Não precisamos entender o porquê de cada coisa, precisamos confiar em quem escreveu a história.

Quando a vida de José parecia ir de mal a pior, o Senhor Deus ainda era o dono da história. Quando sua vida prosperou, o Senhor Deus ainda era o dono da história. Isso também é verdade para as nossas vidas.

Por mais que José nos ensine sobre obediência, sobre contentamento, sobre fugir da imoralidade, sobre como Deus torna o mal em bem, o legado de José para nós é muito superior a tudo isso.

A verdadeira lição sobre José para nós se encontra no fim de sua vida, quando pela fé ele crê na promessa de Deus feita a Abraão. A fé de José o capacitou a olhar além do Egito, das dificuldades ou prosperidade. A fé de José enxergou a promessa de Deus.

Assim como a história de José começa dizendo que a história é sobre Jacó, seu pai, a nossa história também não é sobre nós. A história é sobre um Bom Pai que pela morte do Filho e pelo poder do Espírito comprou para si um povo forasteiro e os prometeu um Novo Lar. Agora a nossa vida se firma nesta promessa. Que levem nossos ossos à Terra Prometida.


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