Muito Maior do Que o Título é a Vocação (Sobre Pastorado Feminino)

Quero contar a vocês a história de uma moça cristã que conheci muito curiosa e de mente inquieta, sempre com sede de conhecimento e com mais vontade ainda de transmiti-lo. Essa moça, aos 13 anos, começou a frequentar uma igreja tradicional e que tinha apenas um ministério onde era permitido, e de modo muito restrito, que mulheres solteiras (e somente solteiras) pudessem ensinar a Bíblia. Ela poderia ler a Bíblia e transmitir esse conhecimento apenas a outras moças e às crianças de sua comunidade, e ainda assim deveria ser de forma particular, ela não poderia em hipótese alguma ir à frente da igreja ou no púlpito passar algum ensino.

Aos 15 anos ela entrou para esse ministério específico e nesta idade já havia lido a Bíblia inteira, porém não conseguia compreender muito a Palavra porque a igreja em questão não tinha apreço pelo estudo teológico por medo de que a intelectualidade pudesse prejudicar a espiritualidade da Igreja. Essa moça, então, começou a ajudar as jovens da sua comunidade por meio de conselhos e a orientá-las na leitura de capítulos das Escrituras que pouco ou quase nunca eram pregados nos púlpitos. 

Por gostar de História, descobriu um professor que ensinava sobre história e arqueologia bíblica e isso aguçou sua sede por conhecimento que há muito estava adormecida pelo marasmo daquela forma de serviço em sua comunidade local. Descobrir aquele universo de informações históricas sobre a Bíblia fez com que ela começasse a transmitir cada nova descoberta aos jovens que se interessavam pelas informações e até mesmo ao seu líder de jovens. Neste momento ela não só falava com moças, mas com moços também. 

Até que aos 26 anos, ela descobriu que a teologia  que diziam que poderia prejudicar sua vida espiritual na verdade reformou e coloriu com cores vibrantes sua vida com Deus. Ela finalmente chegou à fonte inesgotável de sabedoria e conhecimento; ela, que estava sempre às margens daquele manancial de águas vivas, agora decidiu mergulhar e quando retornou a superfície, seu chamado irrompeu em seu peito e ela começou sua jornada de aprender para ensinar, discipular e aconselhar a sua comunidade local conforme a Palavra de Deus.

Nunca houve em sua igreja um ministério onde mulheres eram incentivadas a conhecerem e aprenderem mais sobre a Palavra de Deus, tudo se restringia a pregação no culto público, mas essa moça decidiu reunir as mulheres casadas e solteiras de sua comunidade para aprenderem juntas; como também ajudou seu líder de jovens a incentivar sua comunidade a estudar a Bíblia — ela ajudava nas explicações, distribuía Bíblias de tradução dinâmica, ficava depois do culto tirando dúvidas e ensinando… ela floresceu em meio a adversidade e isso, como podemos ver, não veio dela, mas a graça de Deus operou através dela e a capacitou para o trabalho na seara de Cristo. 

Tudo isso foi feito sem apoio dos homens, dos ministros da sua igreja local, e esse grupo de mulheres que ela reuniu para aprender mais sobre a Palavra não era oficial e nunca foi reconhecido (aliás, nem poderiam saber que elas aprendiam teologia e estudavam a Bíblia), mas o que Deus fez entre essas mulheres foi um verdadeiro avivamento. De repente mães, donas de casa e jovens solteiras estavam juntas lendo e discutindo Cristianismo Puro e Simples, de C. S. Lewis, e descobrindo a História da Igreja, como também boa e forte teologia.

Alguns de vocês podem estar pensando que ela deveria ter saído o quanto antes dessa denominação ou podem pensar que ela estava intentando uma reforma ou até mesmo uma revolução em  sua igreja local, mas essa moça era movida pelo sentimento de cuidado, e por um desejo de transmitir à sua comunidade o que lhe era mais precioso: o bom depósito da fé. 

A verdade é que ela foi movida pelo dom de pastorear. Ela apascentou um rebanho, e se tornou, ainda que não oficialmente, uma pastora. Eu sei, pode ser estranho para alguns e vocês também precisam saber que essa não é uma história fictícia, essa é uma história real de quando a necessidade fez com que uma jovem exercesse uma espécie de pastorado feminino.

Buscando o equilíbrio na vocação

Para mim, até pouco tempo, a ordenação feminina ao pastorado ou simplesmente o título de pastora tratava-se de algo inquestionavelmente errado e um dos pontos centrais para definir se uma igreja era bíblica ou não. Porém, a exemplo da história da moça que conheci e ouvindo outros posicionamentos teológicos, pude perceber que as nuances trazidas pelas interpretações dos textos bíblicos chaves para esta discussão, como 1 Coríntios 11.6-8, 1 Coríntios 14.32-35 e 1 Timóteo 2.11-12, estavam muito longe de estabelecer um posicionamento definitivo.

O trabalho de cuidar, guiar, ensinar e proteger, próprio de um ofício ministerial exercido por homens como pastores, não é, e nem nunca será, exclusivo deles. Todo cristão chamado a trabalhar na seara de Cristo, nesta tão gloriosa vocação de servi-Lo pela vida ou pela morte, demonstrará ao longo da caminhada cristã estes tão nobres serviços à sua família em Cristo, afinal nosso Senhor, o Sumo Pastor, nos deu seu exemplo fazendo-se servo (Fp. 2). 

Assim para que os membros do Corpo reflitam esse exemplo do Mestre, Deus, em sua multiforme graça, por meio do Espírito Santo, distribui entre o Corpo de Cristo tantos dons quantos forem necessários (1 Co 12.11) para que a Igreja seja edificada (Ef 4.11-12). Neste sentido, homens e mulheres são vocacionados e capacitados por Deus a desenvolverem seus dons a fim de realizarem as boas obras planejadas de antemão para eles (Ef. 2.10). 

É importante, para darmos continuidade a esse texto, trazermos duas visões doutrinárias que nos ajudam a compreender o papel da mulher na Igreja, são elas: o complementarismo e o igualitarismo, nomes dados a duas visões doutrinárias diferentes sobre o tema.

O complementarismo declara que, embora Deus tenha criado homem e mulher iguais em essência e valor, Ele estabeleceu funções diferentes e complementares para ambos; ao homem, Deus estabeleceu a liderança, e à mulher, Deus estabeleceu a submissão como auxiliadora idônea do homem. Consequentemente para esta visão doutrinária a mulher não pode exercer cargos de liderança eclesiástica, portanto, não pode exercer o ensino autoritativo sobre os homens, pois seria uma inversão dos papéis estabelecidos por Deus desde a criação. Sobre a visão complementarista e a não-ordenação de mulheres ao pastorado, assista ao vídeo do Pr. Yago Martins nesse link. (https://youtu.be/U5qQ_iQXcf0).  

É importante dizer que dentro da visão complementarista há gradações de posicionamento; um deles estabelece que a mulher nunca pode ensinar um homem, outro já pontua que a mulher pode exercer qualquer outro cargo na Igreja, menos a liderança eclesiástica. Um posicionamento mais intermediário entre igualitarismo e complementarismo estabelece que a mulher pode exercer liderança eclesiástica desde que ela esteja sob uma liderança masculina. Assim, notamos que dentro de um mesmo campo doutrinário há divergências de opinião.

Já o igualitarismo é a visão doutrinária onde homens e mulheres são iguais em essência, valor e funções, e a ideia de submissão da mulher é vista como tendo sido introduzida pela queda de Gênesis 3. Fundamentados em Gálatas 3.28, que diz: “’Não há mais judeu nem gentio, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus”, igualitaristas defendem, portanto, que a mulher não apenas pode, mas deve ser ordenada a uma liderança eclesiástica e assim exercer o ensino sobre a Igreja como um todo. Para um aprofundamento no tema assista ao vídeo da resenha do livro “Women in the Church” (Mulheres na Igreja), de Stanley J. Grenz e Denise Muir Kjesbo, feito pela nossa querida Francine no RE:VIEW Clube Literário, nesse link.

A problemática sobre estas duas visões doutrinárias é tão robusta e intrigante que em ambas as visões temos grandes teólogos, e um exemplo interessante é o de N.T. Wright e Craig Blomberg. O primeiro era, inicialmente, contra o pastorado femino, mas estudando mais sobre o tema acabou tornando-se a favor; já o segundo era a favor e tornou-se contra com o tempo. 

É importante dizer que no que tange ao ministério de mulheres, há consenso entre as duas correntes doutrinárias. Teólogos como Augustus Nicodemus, Norma Braga e Renata Gandolfo, como complementaristas, defendem que as mulheres, embora não devam ser pastoras, podem e devem ser encorajadas a se aplicarem nos estudos de Teologia e atuarem ativamente no aconselhamento bíblico e discipulado de outras mulheres e crianças, como também no ensino destas, em observância mesmo ao que o Apóstolo Paulo deixou estabelecido em sua carta a Tito, capítulo 2. Assim, a mulher cristã serve a Igreja de Cristo com seus dons, com sua vocação, enquanto é liderada e incentivada pelos homens que são seus pastores.

Em outra ponta e tentando estabelecer o equilíbrio entre essas duas visões doutrinárias apresentando os pontos fortes e fracos de cada uma delas, no podcast do Bibotalk, os teólogos Alexandre Miglioranza (igualitarista) e Victor Fontana (complementarista), comentam a passagem de 1 Timóteo 2:11-12 onde o Apóstolo Paulo orienta que as mulheres devem aprender em silêncio, não permitindo que elas ensinem e nem exerçam autoridade sobre o homem. 

Esta passagem parece complicada para as duas visões sobre o papel da mulher na igreja. Para igualitaristas ela tende a ser mais ostensiva, mas mesmo para os complementaristas que não aceitam a liderança feminina eclesiástica e que entendem que mulheres podem e devem ser ativas no ministério ensinando crianças, jovens e outras mulheres, bem como ministrando em conferências, sentem-se desafiados na correta interpretação e aplicação desse texto bíblico.

O teólogo Victor Fontana nos lembra que a teologia paulina não tem por objetivo ser sistemática, mas situacional, ou seja, trata-se de uma teologia que visa trazer recomendações específicas para uma determinada cultura na história da Igreja, recomendações essas que são norteadas por princípios aplicáveis em qualquer era da Igreja.

Alexandre Miglioranza argumenta que esta recomendação de Paulo a Timóteo tem caráter de urgência cultural, já que Paulo estava se retirando de Éfeso (At 19) e deixaria na liderança o jovem Timóteo (1Tm 4.12-14). Como muitos pagãos estavam se convertendo ao Evangelho (At 19), dentre eles havia também mulheres que eram sacerdotisas e que eram acostumadas a atuarem expressivamente nos cultos pagãos, daí a recomendação para que as mulheres aprendessem em silêncio. Gordon D. Fee e Douglas Stuart, no livro “Entendes o que lês?”, publicado pela Editora Vida Nova, trazem uma interpretação semelhante quanto ao texto bíblico de 1 Timóteo 2.11-12.  

E ainda, se voltarmos aos versículos 8 e 9, de 1 Timóteo  2, podemos perceber que o princípio que norteia a passagem em questão é o de ordem no culto, assim como em 1 Coríntios 11 e 14. Essa interpretação mais situacional traz o entendimento de que as recém-convertidas sacerdotisas pagãs deveriam abandonar os velhos hábitos e aderir ao novo modelo de cultuar ao verdadeiro Deus Triúno. 

Portanto, nada impediria que, com o tempo e a adaptação, as mulheres pudessem participar mais ativamente na Igreja, por meio de pregações, ensinos e até mesmo liderando. Em 1 Coríntios 11, o Apóstolo Paulo recomenda que a mulher, desde que esteja coberta, poderia profetizar e orar no culto público, como também sob o seu ministério, mulheres como Júnia, Trifena, Trifosa, Evódia, Síntique, Priscila, ganharam destaque como cooperadoras na pregação do Evangelho (Rm 16, At 18, Fp 4).

A questão de considerarmos esta recomendação apenas situacional, ou seja, específica para um contexto histórico-cultural daquele período e daquela igreja, também faz com que complementaristas questionem a falta de dados históricos que confirmem a posição de que haviam mulheres que ensinavam sob o ministério do Apóstolo Paulo e se este padrão foi, de fato, seguido pela igreja primitiva. 

Porém, nos lembra Victor Fontana, que na Igreja pós-apostólica, já entre os pais da Igreja, as mulheres, na verdade, foram desconsideradas. Isso nos mostra que se as mulheres ensinavam sob o ministério de Paulo, então esta recomendação não foi seguida pela Patrística e exatamente porque, na verdade, não haviam mulheres que lideravam a Igreja, portanto não se trata de uma recomendação situacional. Uma vez que todas as recomendações para o exercício de ofício pastoral eram destinadas somente aos homens (Ef 4 e 1Tm 3), logo o princípio universal em 1 Timóteo 2.11-12 é o do comportamento e submissão da mulher ao ensino autoritativo e a liderança de homens especificamente chamados e capacitados ao pastorado. 

A questão é que a ausência de evidências históricas sobre mulheres liderando a Igreja primitiva não podem ser consideradas como provas absolutas de que essa atuação eclesiástica não acontecia. Sabemos muito pouco sobre o funcionamento cotidiano dessas comunidades cristãs, inclusive não há sequer registros históricos de ordenação ao pastorado de homens. 

O teólogo Victor Fontana pontua que até mesmo as cartas chamadas pastorais (as duas cartas a Timóteo e uma a Tito) só são reconhecidas como regulamentações ao ofício de pastorado a partir da era medieval com Tomás de Aquino, e só no século XIX são chamadas de fato cartas pastorais, limitando-se até então as recomendações para a escolha de homens ao episcopado (bispos e diáconos).

Entendemos, então, que considerar as lacunas históricas para firmar um ou outro posicionamento e estabelecer que, quanto a atuação das mulheres na Igreja pós-apostólica, os pais da Igreja fizeram a melhor interpretação, implicaria em questionarmos até onde os avanços na hermenêutica e na exegese da igreja atual estão corretos também. 

Daí a necessidade de se buscar equilíbrio, entendendo que quanto às visões doutrinárias sobre o pastorado feminino, temos uma doutrina de ordem secundária ou de nível 2 e que discordâncias aqui não atingem pontos centrais da fé cristã, nem tornam alguém mais ou menos cristão, mas apenas distribuem os membros do Corpo em denominações diferentes (para um melhor entendimento sobre níveis de doutrina, acesse esse artigo de Francine V. Walsh no blog do Dois Dedos de Teologia).

É necessário mesmo um título para exercer sua vocação? 

Voltando à história da moça que conheci, quero esclarecer que ela não está mais na mencionada denominação e que, sim, segundo ela, não foi fácil estar neste posto em sua comunidade. Ela sentiu na pele o peso e a responsabilidade de ensinar, principalmente aos homens (ainda que nos bastidores), e essa não era uma situação confortável para ela e a falta de uma liderança que a estivesse orientando e apoiando fez com que ela se sentisse sozinha e com medo de errar, mas em tudo Deus a ajudou. 

O grupo de estudos bíblicos e teológicos, ao qual ela deu início, não se desfez pela sua saída da antiga igreja, pelo contrário, a cada dia cresce e se desenvolve, como também agrega mulheres de outras igrejas e tudo isso foi obra da mão de Deus que operou a despeito dos pecados dela, tudo para honra e glória de Deus! Aprendi e muito com a história dessa moça e vejo, com mais clareza, que quando nossos corações estão dispostos a atender ao chamado do Senhor para exercer a vocação que Ele nos deu, apenas precisamos colocar em prática, pois é Ele o garantidor do sustento em nosso trabalho para a Igreja.

Pessoalmente, sou complementarista, mas não deixo de ser abençoada por minhas irmãs que possuem o título de pastora, aliás sei que em nossa sociedade atual mulheres são cada vez mais engajadas a liderarem e a buscarem mais conhecimento, sem dúvida há grandes mulheres em lideranças civis, como Débora que foi juíza em Israel (Jz 4 e 5), além das mães que governam seus lares sozinhas. Vivemos em um mundo caído e esta realidade pode e vai exigir que, embora o ideal seja buscado, possamos fazer o melhor para a glória de Deus, independente de quais sejam as nossas circunstâncias.

Ao longo do tempo e ainda hoje, muitas mulheres têm dificuldade de se submeterem à Palavra em alegria porque muitas vezes nossa função natural de auxiliadora idônea, por causa do pecado que habita em nós e nas pessoas ao nosso redor, não é valorizada, incentivada e reconhecida como uma bênção de Deus. 

Muitas mulheres são vítimas de tradições extra bíblicas onde fardos e fardos são acrescentados para minar nossa vocação ou para nos sobrecarregar além de nossas forças, e as consequências são a marginalização dos dons das mulheres e a amputação do Corpo de Cristo, sendo esta a mais grave. São nas situações de omissão ou de repressão que muitas de nós precisarão de coragem para perseverar no trabalho para o qual fomos chamadas, sendo o amor incondicional (1Co 13) o nosso estandarte e a nossa motivação para continuar.      

Não quero e nem pretendo romantizar ou montar um cenário heróico da atuação das mulheres na igreja e na sociedade, no estilo amazonas de Themyscira (em referência ao filme Mulher Maravilha, da DC Comics), pois o mundo constantemente sugere às mulheres que elas precisam romper barreiras e limites para mostrarem o seu valor, se imporem e superarem a tudo e a todos, mas a realidade é que não somos heroínas e nem precisamos ser. 

Esse pensamento secularizado tira de nós a dependência que devemos ter de Deus e nos mantêm com o ego inchado, vazio, atarefado e dolorido; roubando nosso verdadeiro descanso no Pai e enfraquecendo a confiança que devemos ter nas mãos que foram feridas por amor a nós. A verdade é que, citando Veronica Shoffstall,  “heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências”, mas em um mundo caído, não é fácil ter que enfrentar as consequências de atos de coragem, mesmo que necessários.

Rute Salviano, historiadora cristã, em seu livro “Vozes Femininas nos Avivamentos”, nos traz a história de duas grandes mulheres do século XIX que foram vocacionadas por Deus a pregar sua Palavra. Nunca foram reconhecidas como pastoras, nem receberam título algum, mas a vontade de servir a Deus deram a elas forças para superarem suas circunstâncias e assim glorificarem a Deus. 

A primeira é Jarena Lee (1783-1864), mulher negra, viúva e com filhos pequenos, incansável na pregação pública do Evangelho. Jarena foi desprezada publicamente por seus pastores locais como também sofreu flagrantes discriminações, contudo suas provações não a impediram de exercer seu dom. A segunda foi Fanny Crosby (1820-1915), uma mulher que ainda na infância ficou cega e mais tarde se destacou como uma grande compositora de hinos. Ela dizia que todo hino é como uma canção do coração dirigida a Deus, e atuava ajudando muitos pastores nos bastidores da vida em igreja. As mulheres cristãs, em todas as eras da Igreja, simplesmente exerciam o dom que Deus dava a elas, e sua vocação era mais importante do que um título. Guiadas pelo Espírito, nada poderia pará-las.

Em seu livro “Jesus, Justiça e Papéis de Gênero: mulheres no mistério”, Kathy Keller nos traz um fato interessante ocorrido em um evento que ela participou: “Numa palestra inesquecível, Elisabeth Elliot, uma de minhas professoras no Gordon-Conwell Theological Seminary, ensinou-me a distinguir entre os dons e os papéis nos quais esses dons devem ser usados. Ela anunciou à sua classe, de homens e mulheres, que tinha mais talento para ser pastora do que a maioria dos homens da turma, possivelmente de todo o seminário. Ela conhecia a Bíblia em múltiplas línguas, tinha uma vasta experiência em sua exposição, tinha maturidade, advinda do sofrimento, para falar com compaixão a outros, e assim por diante. ‘Entretanto’, ela disse, ‘Deus não me chamou, como mulher, para exercer esses dons em um papel pastoral. Eu sou chamada para usá-los, mas por que eles só podem ter valor se usados em um papel específico, ou do ministério ordenado?’’.   

Deus trouxe tantas possibilidades às mulheres para servirem a Igreja, e mais do que focar em títulos que nos forneça uma posição de destaque, deveríamos focar em agir onde é preciso agir. Portanto, sirva à Igreja de Cristo, sirva aos seus irmãos e irmãs como se fosse para Deus. 

Estude teologia, fortaleça seu conhecimento na Palavra para ensinar ou escrever bons livros e textos, cuide da sua família, evangelize, achegue-se àqueles irmãos e irmãs que estão mais afastados, faça amizades intencionais, busque conselhos e sabedoria com os mais velhos da Igreja, se disponha a ajudar no ministério de crianças, a encorajar irmãos missionários ou até mesmo se tornar uma; simplesmente ame como Cristo nos ama e você entenderá que a seara de Cristo é muito grande e que títulos não são requisitos aqui, mas ceifeiros com corações dispostos a servir em amor. 

Minha oração, querida irmã, é que cada uma de nós seja engajada a exercer seus dons e sua vocação na Igreja e na sociedade, não por causa dos homens, muito menos por títulos, mas para que “assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.16).


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Agosto com o tema “A Mulher na Igreja”. Para ler todos os posts clique AQUI.