Fraca e Medrosa

À minha amiga fraca e medrosa

Querida amiga,

Ali estava eu, pasta na mão, suando frio, a caixa torácica indo pra cima e pra baixo rapidamente. Passei os olhos pelos papéis pela vigésima vez. Será que estava tudo ali? RG, passaporte, certidão de nascimento, cópias, fotos, impressões, formulários, mais fotos… Será que eu preciso de uma cópia extra de cada coisa? Melhor prevenir que remediar, vou fazer. Agora vou organizar tudo nessa pasta. Senhor! Esse envelope não podia ser aberto! Será que essa aberturazinha aqui conta? Medo. Desespero. Angústia. Taquicardia. Por que todo mundo tá confiando que eu consigo fazer isso? Por que ninguém veio checar esses papéis comigo?!

E agora esses voos. Quatro voos em 24 horas? Eu nem gosto tanto assim de voar. Quando chacoalha eu já acho que vamos todos morrer. Será que ninguém sabe que eu sou uma pessimista crônica? E ainda tenho que esperar horas e mais horas nesses aeroportos enquanto penso que vai dar tudo errado? E se a gente perder o voo? E se não der tempo de chegar?! Eu tenho hora marcada! Meu futuro todo depende disso!!! Medo. Desespero. Angústia. Taquicardia.

E assim foram aqueles dois dias que antecederam minha entrevista para o visto na Embaixada americana. Aquele pequeno pedaço de papel definiria meu futuro – sem ele eu não posso entrar nos EUA para casar com o amor da minha vida. Sem ele nosso amor fica invalidado, não é suficiente para que o casamento se realize. Todo o meu futuro, todos os meus sonhos e planos, impressos naquela paginazinha do passaporte. E aquela paginazinha só seria impressa se eu tivesse todos os papéis corretos, se eu tivesse preenchido tudo certinho e, finalmente, se a consulesa aprovasse meu caso, se ela acreditasse que nosso amor era, mesmo, real.

Alguns diriam que eu tinha o direito de me estressar, sabe? Outros diriam que eu sou exagerada, muito emocional. Mas, tanto faz o que os outros dizem, na verdade. Eu deveria ter escutado a única voz que realmente importa. A voz que constantemente dizia “você está guardada em minhas mãos” (Dt. 33:3), “meus braços estão te segurando” (Dt. 33:27), “eu te amei desde a eternidade” (Jr. 31:3) e “eu cuido de você” (1 Pe.5:7). Infelizmente essa voz ficou calada ao meu coração. Eu só ouvi a voz do inimigo que insistia em gritar: VAI DAR TUDO ERRADO.

Eu sou fraca. Quando eu era adolescente eu me considerava muito forte. Eu achava que a força emocional vinha do não se deixar seduzir pelos moços da minha classe. Que vinha do não chorar pelas bobeiras da adolescência. Me achava muito mais forte que aquelas menininhas da sala.

Eu sou medrosa. Sempre me achei muito corajosa. Eu queria ir desbravar o coração da África – jurava que seria missionária em algum lugar perigoso, arriscando minha vida por Cristo e pelo Seu Reino. Que viveria uma vida de total abandono por Ele.

Bom, a verdade é que eu sou fraca e medrosa. Chega a ser uma coisa física. Meu corpo todo treme, eu começo a suar frio, minha barriga fica toda revoltosa e meu coração bate tão forte que eu penso que vai sair do peito. As pessoas tentam me acalmar, me encorajar. O noivo me mandou inspirar pelo nariz e soltar pela boca. Mas, nada adiantava. Passou uns segundos o medo volta, me consome. Eu fico presa nessa minha caixa do medo, não consigo sair.

E então eu fui. Pasta na mão, orações saindo apressadas e silenciosas da minha boca. Beijei meus pais, dei graças a Deus que eles estavam ali comigo, apesar de que, a partir dali, eu tinha que ir sozinha. Entrei na Embaixada. “Senhor me ajuda”, saiu baixinho. Subir aquela escada ali? Ah, ok, obrigada. “Senhor tem misericórdia de mim”. Preencher esse papel, ok. Meu nome, ok. Aqui coloco meu e-mail ou do noivo? Ah sim. “Senhor, faz minhas mãos pararem de tremer, preciso preencher essa ficha.” Sou chamada no guichê 17. Respondo às perguntas todas, entrego todos os papéis. Pela graça de Deus tudo certo, agora é a entrevista. Sento e espero. O moço da minha frente tem o visto recusado. “Senhor, tem misericórdia dele.” Fico mais nervosa, os pés começam a balançar. A menina do meu lado está prestes a chorar de nervoso. A vida dela também dependia daqueles minutos. Ela é aprovada. A moça lá atrás esqueceu um dos papéis. “Senhor, cuida dela, tadinha. Faz com que dê tudo certo”. Eles aceitam fazer a entrevista dela mesmo sem o papel. “Obrigada Senhor”. Olho pro lado, pra cadeira vazia à minha esquerda, “Jesus, o Senhor está aqui comigo, né? Bem pertinho né?” Coração acelerado. “FRANCINE VERÍSSIMO, GUICHÊ 15.” Perguntas. Juramento. Scanner das digitais. Perguntas. Perguntas. Silêncio. Digitar apressado. Última revisão nos documentos. “Muito bem, seu visto foi aprovado, demora 10 dias pra chegar”.

Alívio.

Saio dali correndo escada abaixo, passo pelo portão acenando que sim com a cabeça, pra acalmar meus pais. Choramos.

Deu tudo certo no final.

***

Amiga, depois de tudo aquilo, quando a poeira baixou e a adrenalina passou, eu percebi uma coisa que, no momento, me passou desapercebida. Não foi a aprovação que me fez feliz naquele dia.

Não. Foi Jesus.

Foi Jesus “ali” na cadeira à minha esquerda. O Espírito dentro de mim. Me acalmando. Fazendo um milagrezinho após o outro. Me mostrando, em cada detalhe, que Ele estava ali comigo. Seus braços eternos me segurando. Seu amor me guiando.

E sabe? Eu quero crer que mesmo que o visto tivesse sido recusado, eu ainda teria sentido paz. Aquela paz que Ele prometeu – aquela que ultrapassa nossa compreensão. E teria sido um testemunho de confiança na dor.

Mas, Ele foi bondoso. Deus foi bondoso com uma pecadora. E meu testemunho agora é de que Ele quis me dar o desejo do meu coração. Que Ele andou comigo por aqueles corredores cinzas e frios. Que Ele segurou minha mão tremendo e me ajudou a escrever. Que Ele ajudou a moça do meu lado a conseguir o improvável, a fazer a entrevista mesmo sem todos os papéis. Foi isso que Ele me ensinou naquele dia. Ele se fez REAL. Tão real.

Eu já tinha experimentado isso antes. Num outro dia que meu coração quase saía pela boca, que as lágrimas corriam feito uma cachoeira dos meus olhos, naquelas noites que sucederam o término de um namoro. Ele esteve ali também, tão real. Eu sentia Ele ali. Me abraçando. E naquela noite de tristeza, quando eu pensei “que delícia seria ter uma chuvinha hoje”, e do nada, DO NADA, começou a chover. Bem ali, naquele momento. E durou uns 2 minutos. Chuvinha de verão. E eu chorei. Meu Jesus se faz real de formas tão doces.

Eu aprendi que nos momentos mais sombrios da minha alma, quando eu mais tenho medo, Ele se faz mais real. Quando o céu da minha vida fica escuro, Jesus brilha mais forte.

Quando o céu da minha vida fica escuro, Jesus brilha mais forte. Click To Tweet

***

Hoje, enquanto eu fazia minhas devocionais, enquanto ainda “ruminava” tudo o que aconteceu, Ele falou. Comecei a ler Josué, seguindo a ordem normal das minhas leituras. E bem ali, em tinta preta, Ele falou.

“Somente seja forte e muito corajoso!” Josué 1:7-7 NVI

Forte e corajosa. Somente seja forte e corajosa.

Mas, eu sou fraca, Senhor. “Mas, seja forte”. Mas, como Pai? “Forte na MINHA força. Eu te farei forte enquanto você se exercita na sua fé.” Sabe aquelas aulas de musculação que eu tenho feito? Sabe como eu vejo meus músculos fracotes pouco a pouco aparecendo, enrijecendo, tomando forma? Assim Ele fará com minha alma, com meu coração. Enquanto eu me exercito, enquanto Ele me dá pesos maiores pra carregar, lutas maiores pra lutar, Ele me faz mais forte.

Mas, eu sou medrosa, Senhor. “Mas seja muito corajosa!”. Como? “Olhe pra mim e veja meu poder. Veja, na minha Palavra, observe, na natureza ao seu redor, a minha perfeição. Contemple o quão grande é o teu Deus. E confie. Eu vou na frente.”  Corajosa por saber que à minha frente vai o Leão de Judá. Leão grande e poderoso, que destrói o inimigo que quer me ver paralisada pelo medo.

Forte e corajosa – Ele falou ali naquela passagem.

E então, depois de ter O agradecido por ter falado, fechei a Bíblia e meu diário espiritual, pronta pra seguir meu dia.

E Ele falou de novo.

Bem ali, na capa daquele diário que eu acabara de fechar, estavam escritas exatamente essas palavras: Seja forte e corajoso. Nesse diário que nem era para ser meu, que eu daria em um sorteio, mas acabei decidindo mudar de última hora. E agora ali, naquela capa que nunca chamou muito a minha atenção, escrito em dourado no fundo preto, Ele repetiu: Não esquece, filha – seja forte e corajosa.

Eu não sei qual tem sido o motivo do seu medo. Quais as aflições que te fazem enfraquecer. Talvez seja algo muito maior do que o que aconteceu comigo. Talvez seja a dor, a doença, a perda, a solidão, a descrença, a humilhação, o silêncio.

Mas, eu sei disso, eu sei com todo o meu coração: Deus falou comigo e Ele fala o mesmo para você – seja forte e corajosa. Ele ainda é Deus. No divórcio, Ele ainda é Deus. No câncer, Ele ainda é Deus. No acidente, Ele ainda é Deus. No desemprego, Ele ainda é Deus. Na morte, Ele ainda é Deus.

O nome de Jesus é Emanuel, Deus conosco. Deus com você. COM VOCÊ.

Assim como eu O senti em cada passo, sussurrando “Confia”, você também pode sentir. Chegue-se até os pés da Cruz, olhe pra cima e veja DEUS MORTO por você. Veja o Rei de todo o Universo sangrando para que você pudesse tê-lO perto, todos os dias, a cada segundo da sua vida.

Seja forte nessa verdade – Ele te ama. Seja corajosa em saber quem seu Amado é – o Rei da Glória.

Amiga, quando eu estou angustiada, quando todo o meu corpo se arrepia de medo e meus olhos se enchem de lágrimas, eu grito à minha alma: se Ele é por mim, quem será contra mim? Não há nada a temer.

Talvez você precise fazer o mesmo.

Sua amiga,
Francine