Meninas como Nós – Afeganistão

(Foto: Bill Walsh/billwalsh.photography/Paquistão)

Ela tem 18 anos e está casada. A família de seu marido a trata como escrava e ela só vê uma solução – fugir. Pouco tempo depois ela é capturada. Para servir de exemplo para as outras meninas da vila, que não façam o mesmo, seu cunhado a segura enquanto seu marido corta seu nariz e suas orelhas e a abandona ali, para morrer.

Essa é uma das muitas macabras histórias de meninas no Afeganistão.

Nesse país a lei é que as mulheres precisam se casar – não é algo opcional, é obrigatório. E assim, ainda muito novas, as meninas são vendidas a casamentos forçados, sendo que conhecem seus maridos apenas na noite do próprio casamento – maridos, na maioria das vezes, muito mais velhos que elas (por vezes adolescentes se casam com homens de 60 anos ou mais).

É muito comum que hospitais do país recebam meninas traumatizadas, logo após o casamento, com sangramentos e dores. Muitas dessas meninas acabaram de entrar na puberdade. Além do trauma psicológico e físico, um dos maiores perigos desses casamentos é a gravidez precoce que gera a morte de muitas meninas, justamente por serem muito novas para dar à luz.

Algumas meninas são vendidas ao casamento para pagar dívidas da família ou, por causa da pobreza, para que sua família não precise mais sustentá-la. Dentro do casamento, por muitas vezes, elas sofrem todo tipo de abuso, uma vez que os homens são instruídos a ensiná-las submissão através da agressão.* Além disso, elas são obrigadas a fazer todo trabalho doméstico, por vezes sendo tratadas como escravas pela família do marido (com quem elas moram).

Foi para fugir disso que Aisha, a menina do início do post, fugiu de sua casa. Quando eu comecei a pesquisar sobre a situação de mulheres nesse país a notícia de Aisha apareceu em um dos primeiros links. Ela foi capa, em 2010, da revista TIME. A própria revista consultou psicólogos e especialistas para saber o impacto que a foto de Aisha teria nos lugares onde seria vendida – crianças se assustariam? As pessoas ficariam enojadas?

Se é difícil (e realmente o é) de apenas olharmos para as marcas do abuso em Aisha, imagine o quanto foi e é difícil para ela ter passado por essa dor e conviver com essas marcas diariamente.

(Se você gostaria de ver a foto de capa dessa revista, clique aqui. Mas aviso que não é fácil de ver.)

Outra grande dificuldade do país diz respeito à educação. Uma vez que se casam as meninas param de estudar (por vezes nem estudavam antes disso). Muitos professores que ousam ensiná-las são ameaçados de morte. Em contrapartida, uma missionária que ficou no país por 5 anos escreveu que uma nova geração de meninas tem se levantado e, tendo mais acesso ao conhecimento, clamado e lutado por mais direitos. Entretanto, elas ainda não encontram para onde ir, uma vez que a sociedade não as apoia.

Alguns abrigos, como os do Women for Afghan Women, têm resgatado essas mulheres e dado a elas um lugar para ficar. Mas, uma vez que elas precisam ficar ali e não podem sair, pelo medo de não serem aceitas em suas famílias ou pela sociedade, esses abrigos por vezes parecem, para elas, mais como uma prisão do que um paraíso.

As mulheres que decidem fugir da realidade do casamento abusivo por vezes não conseguem chegar aos abrigos – são mortas antes no que é chamado de “morte pela honra” (honor killing) – uma vez que desonraram suas famílias ao fugir, a própria família a mata. Quando elas não têm coragem de fugir, desesperançadas, muitas delas ateiam fogo aos seus próprios corpos, vendo no suicídio sua única saída.

O divórcio é dificilmente considerado uma vez que a mulher sairá dele sem nada – sua honra é manchada e até mesmo seus filhos, pela lei, ficam com o pai. Com medo de perdê-los a maioria das mulheres continua se submetendo a casamentos abusivos.

Em 2011 foi feito um levantamento dos melhores e piores países para se nascer mulher do mundo. O Afeganistão é o penúltimo (164 de 165 – do melhor [1] para o pior [165]). Veja os números:

Número/nota geral (de 0 a 100): 2.0
Justiça: 8.4
Saúde: 2.0 (apenas médicas mulheres podem atender outras mulheres. Se pensarmos que médicas mulheres é algo muito raro, o acesso à saúde fica extremamente limitado.)
Educação: 41.1
Economia: 55.3
Política: 16.6

Kate McCord (um pseudônimo para proteção) é uma americana que, como citei acima, passou 5 anos no Afeganistão, convivendo com essas mulheres. Ela participou de uma série de conversas no podcast “Revive our Hearts” onde contou sobre suas experiências que também se encontram em seu livro “In The Land of the Blue Burqas” (tradução literal: Na Terra das Burcas Azuis, que não tem publicação em português). Nesse livro ela fala não só sobre as dores que já mencionei nesse post, mas também sobre como essas mulheres, por trás das burcas, buscam a Deus. Elas oram, elas O conhecem, elas falam sobre Ele e têm grande reverência.

Mas, Kate diz que lhes falta conhecê-lO como um Deus relacional, e não somente como um Deus juíz, que odeia aqueles que não o obedecem.

Em seu livro, Kate conta sobre a hospitalidade dessas mulheres, sobre como elas se preocuparam com a estrangeira no meio delas, sobre como elas a chamavam para suas casas e conversavam com ela, mesmo quando não a entendiam.

A mensagem que Kate quer deixar é: existem pessoas reais como eu e você por trás das burcas, presas em cozinhas, fechadas em suas casas. Mulheres que anseiam por Deus. Que precisam de Deus.

Kate diz que quando contou a elas sobre a história de Hagar – uma jovem vendida como escrava, obrigada a engravidar de seu próprio senhor, e abandonada grávida – seus olhos enchiam de lágrimas. Essas mulheres conheciam muito bem essa dor. Mas, quando Kate lhes contava como Deus falou com ela pessoalmente e se preocupou com sua dificuldade essas mulheres encontravam esperança – esperança em um Deus que viu Hagar e que também podia ver a elas.

E Ele vê por trás da burca. Ele se importa. Onde o inimigo tem vencido, o Senhor tem levantado pessoas como Kate para levar Sua esperança.

Onde o inimigo tem vencido o Senhor tem levantado meninas no Brasil para clamar pelas meninas do Afeganistão.

Você vai juntar-se a nós? (Veja no post anterior sobre nosso relógio de oração e participe!)

Separe 10 min do seu dia e ore conosco pelas meninas do Afeganistão #MeninascomoNós Click To Tweet

Alguns pedidos específicos:

– Ore pelas meninas que são forçadas ainda muito jovens ao casamento;
– Ore para que as leis do país mudem e a educação e o direito dessas mulheres existam na prática;
– Ore pelos casamentos já existentes, que a redenção do Senhor chegue, mudando o que é quebrado, e restaurando relacionamentos;
– E principalmente, ore para que o Senhor levante obreiros para ir até lá, levando o amor e a esperança que existem em Cristo.

*Kate McCord explica que muitas das pessoas que conheceu dizem que esses abusos por parte dos maridos não é o verdadeiro Islamismo. É importante que não associemos todas essas dificuldades à religião.

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Fontes:

Best Countries for Women Full List: HTTP://WWW.SCRIBD.COM/DOC/65645520/BEST-COUNTRIES-FOR-WOMEN-FULL-LIST
In the Land of Blue Burqas, with Kate McCord (série de mensagens): HTTPS://WWW.REVIVEOURHEARTS.COM/SERIES/LAND-BLUE-BURQAS-KATE-MCCORD/
The New York Times – A Thin Line of Defense Against ‘Honor Killings’: HTTP://WWW.NYTIMES.COM/2015/03/03/WORLD/ASIA/AFGHANISTAN-A-THIN-LINE-OF-DEFENSE-AGAINST-HONOR-KILLINGS.HTML?_R=1
The New York Times – Afghan Newlyweds, Facing Threats, Find Brief Respite in Mountains: HTTP://WWW.NYTIMES.COM/2014/04/22/WORLD/ASIA/AFGHAN-COUPLE-FIND-IDYLLIC-HIDE-OUT-IN-MOUNTAINS-BUT-NOT-FOR-LONG.HTML?MODULE=SEARCH&MABREWARD=RELBIAS%3AW
TIME – The Plight of Afghan Women: A Disturbing Picture: HTTP://CONTENT.TIME.COM/TIME/MAGAZINE/ARTICLE/0,9171,2007415,00.HTML
TIME – Women of Afghanistan Under Taliban Threat (FOTOS): HTTP://CONTENT.TIME.COM/TIME/PHOTOGALLERY/0,29307,2007161_2170316,00.HTML
Trust in Education – Life as an Afghan woman: HTTP://WWW.TRUSTINEDUCATION.ORG/RESOURCES/LIFE-AS-AN-AFGHAN-WOMAN/