Querendo impressionar (ou Sendo como Marta)

Há cerca de um ano, em uma manhã de Setembro de 2017, eu me encontrei com o coração pesado, ponderando sobre serviço, trabalho em casa, e comunhão com o Senhor. Deus me trouxe à memória a história de Maria e Marta, e me levou a estudar a passagem de Lucas 10, pausando meu devocional diário para focar nesse trecho das Escrituras (não é maravilhoso como Ele faz isso às vezes?).

Meu desejo é compartilhar com vocês o que o Senhor abriu meus olhos para ver naquela manhã, na esperança de que ajude mais alguém que esteja com o coração pesado quanto ao peso do trabalho do lar, ou do serviço fora do lar, ou dos estudos. Que Ele nos leve de volta aos Seus pés, único lugar onde podemos florescer.

Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa.
Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra.
Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se dele, perguntou: “Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!”
Respondeu o Senhor: “Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas;
todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”. (Lucas 10:38-42)

“Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado, onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa.” – Sabemos que a cultura judaica dava bastante foco em hospitalidade, então não temos como saber se Marta quis receber o Senhor em sua casa por amor, ou por uma necessidade cultural de se conformar com a norma da época. Caso ela tenha, de fato, desejado de coração fazer o bem, vemos que acabou deixando um desejo genuíno e positivo se tornar um ídolo e um lugar de identidade.

“Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra.” – Maria, por outro lado, não é listada na frase “e o recebeu em sua casa”. Não sabemos se elas tinham casas diferentes, ou se o desejo de hospedar o Senhor partiu de Marta, por isso ela foi listada. Mas nós vemos que Maria não deixou nada ficar no seu caminho – ela estava focada em sentar e ouvir.

“Marta, porém, estava ocupada com muito serviço.” – Eu gosto do uso da palavra “porém” aqui. Essa palavrinha nos mostra o grande contraste entre as atitudes. Maria ouvia, Marta PORÉM se ocupava com muito serviço. Algumas versões dizem que “Marta estava distraída com muito serviço”. Isso mexe comigo, porque me faz pensar sobre quantas vezes eu estou distraída – talvez não com muito serviço, mas possivelmente com entretenimento, redes sociais, TV, etc. Sabemos que essas coisas não são pecado em si mesmas, mas se feitas AO INVÉS de estar aos pés do Senhor, então pecamos. Será que se leria de nós, “Maria ouvia a Jesus, Francine PORÉM assistia Netflix”?

“E, aproximando-se dele, perguntou: ‘Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!’” – Eu chego a me contorcer um pouquinho de “vergonha alheia”, se posso usar esse termo, quando chego a esse versículo. Primeiro porque Marta provavelmente interrompeu um ensino direto de Jesus. Se Maria estava “ouvindo-lhe a palavra” é porque Ele estava ensinando. E aqui Marta não somente o interrompe, como mostra a dureza de seu coração ao dizer “não te importas?”. Marta não conhecia o Senhor? Não sabia o quanto Ele a amava, o quanto se importava? Mas o fato de ela estar trabalhando tanto (quando não deveria, aliás) fez ela se sentir amarga o suficiente para acusar Jesus de não se importar. Quantas vezes nós nos sobrecarregamos com coisas que Deus não mandou que fizéssemos, e quando nos estafamos gritamos injustamente, “Senhor, não te importas?”. Além disso, me surpreendo com a forma como Marta colocou sua irmã “contra a parede” na frente de Jesus, e provavelmente também dos discípulos. Isso deve ter sido humilhante para Maria, e o Senhor mostrou muita graça ao responder, defendendo-a.

“Respondeu o Senhor: ‘Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária.” – A graça de Jesus em parar seu ensino e responder a Marta é incrível. Ele poderia ter rispidamente dito a ela que se calasse, que Ele estava ensinando. Entretanto, Ele pausa, provavelmente a olha nos olhos, e diz, “Querida, há apenas UMA coisa que é necessária.” Apenas uma coisa que realmente satisfaz e traz o valor que Marta estava buscando em seu “sucesso” como anfitriã, e isso é o sentar-se aos pés de Jesus e OUVIR DELE. Aprender dEle. Ter comunhão com Ele.

“Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” – Aqui vemos Maria ser justificada por sua boa escolha. Para nós é simples entender que Maria tenha escolhido isso, mas como eu disse era cultural que as pessoas fossem boas anfitriãs. Logo, Maria, aos olhos da sociedade, tinha escolhido errado, e não só isso, estava sendo cruel com sua irmã, deixando a ela todo o serviço. Mas Jesus, como sempre, coloca as coisas de cabeça pra baixo e mostra que em Seu Reino é preciso que olhemos para o coração. Por fora Marta parecia certa, mas o Senhor viu o coração. Marta queria aplausos, Maria queria mais dEle, e o Senhor prometeu que ninguém poderia tirar de Maria o que ela escolheu.

Eu vejo muito de Marta em mim – o desejo de ser boa do lado de fora, de impressionar, de mostrar o quanto eu amo Jesus e o quanto o sirvo. Mas muitas vezes o desejo é só externo, e vem cheio de sujeira interna. Por dentro eu prefiro continuar tomando a droga viciante das redes sociais, ao invés buscar as águas limpas da Palavra. Eu prefiro limpar a casa pela vigésima vez do que pausar tudo e estar com Ele.

Sabe, o Senhor não condenou a hospitalidade de Marta. Ele não disse que era errado limpar, servir. Pelo contrário, Ele incentivava o serviço. Mas, Ele condenou a ansiedade e preocupação que busca e busca, quando há somente uma fonte que sacia. Que limpemos sim, sirvamos sim, hospedemos sim, mas tudo com o desejo profundo de acima de tudo servir a Ele e amar pessoas, desejo esse que só pode fluir de horas passadas aos Seus pés. Deus nos ajude.