O Jogo da Comparação

Nós estávamos brincando de um jogo de tabuleiro, seis mulheres. O objetivo do jogo era escolher uma pergunta de uma seleção, e todas as pessoas, exceto quem escolheu, deveriam responder à pergunta com aquilo que elas achavam que aquela pessoa responderia. A pergunta foi “qual a pior parte de ser mulher?”. Duas respostas falavam sobre “aquele período do mês”, mas as outras respostas eram todas variações da mesma coisa: “o jogo da comparação”.

Você sabe do que eu estou falando. Aquela atitude de olhar para qualquer outra mulher e começar a se comparar – “uau, olha aquele cabelo! Tão sedoso e loiro… E o meu tão cheio de frizz”; “o marido dela é tão gentil, já o meu…”; “essa foto da Bíblia aberta cheia de marcações mostra o quanto ela tem intimidade com Jesus enquanto eu me dedico por horas e não entendo quase nada…”. Você já jogou esse jogo, eu tenho certeza. Todas nós já jogamos. Para mim era bastante óbvio e certo que essa é a pior parte de ser mulher, mas eu fiquei muito surpresa quando vi minhas outras amigas dizendo o mesmo. Eu pensei que eu era a única que sofria tão profundamente com isso.

Um problema de todas nós

Quando percebi que esse problema era generalizado resolvi que era preciso trazer essa conversa à mesa. Precisamos falar sobre esse mal que causamos umas às outras, e a nós mesmas, em silêncio, em nossas cabeças. Porque eu sei que nós não falamos abertamente sobre o assunto, mas todas temos ele dentro de nós.

Eu me lembro de estar na sétima série e, durante uma aula, receber um pedaço de papel com uma lista. Os nomes de todas as meninas da sala estavam na lista, em uma de duas colunas: “bonitas” ou “feias”. Meu nome estava na última. Eu me lembro ainda do quanto doeu. E sabe qual é a doída verdade? Nós criamos essas listas (e muitas outras como “bem-sucedida x fracassada”, “boa cristã x cristã mais ou menos”, “casada x encalhada”, “simpática x sem amigos”, …) em nossas próprias cabeças e vamos colocando as mulheres de nossa vida nelas, tanto conhecidas quanto desconhecidas.

Sabe, nós sentimos raiva e ressentimento dos homens quando eles nos veem como objetos, pedaços de pele e carne, mas qual a diferença da luxúria deles e nossas comparações? A raiz é a mesma – retiramos a humanidade, a personalidade de alguém, e os reduzimos apenas a “tamanho das pernas” ou “cor dos cabelos”. Os homens o fazem pelo desejo, nós pela inveja.

Que pecado escondido e perigoso é o jogo da comparação! Nós passamos a odiar nossas irmãs em nosso íntimo, querendo ser como elas; ou passamos a nos exaltar, pensando ser melhores que elas. No jogo da comparação nem sempre nós perdemos. Quantas vezes pensamos “uau, olha essa criança! Meus filhos nunca fariam isso…”, ou qualquer coisa do tipo?

O movimento feminista traz em si muito do discurso da sororidade, ou seja, aquele sentimento de irmandade, de lutarmos juntas umas pelas outras e jamais umas contra as outras. Esse sentimento está acima de tudo no Cristianismo, uma vez que pela morte do primogênito Filho de Deus nós somos irmãs da mesma família. Mas no nosso interior nós temos lutado nossas batalhas contra nossas irmãs, e não por elas. Desejamos que a vida delas fosse um pouquinho pior para que nós não precisássemos nos sentir tão mal sobre as nossas.

Queridas, qual a solução para tão cruel pecado?

Nossa identidade em Cristo

No momento em que nos comparamos com outra mulher nos esquecemos de duas coisas: primeiro, Deus nos criou perfeitamente da maneira que Ele desejou, nos fazendo únicas (cf. Sl. 139:14); segundo, que em Cristo nós somos todas igualmente importantes (cf. Gl. 3:28). Quando comparo meu corpo com o de minha irmã estou cuspindo no design do Criador. Quando comparo minhas circunstâncias com as dela, cuspo na soberania do Deus Todo-Poderoso. Isso é seríssimo.

Tiago diz em sua carta às doze tribos, no capítulo 4:

“De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem.” (V. 1,2)

Nossos problemas de ódio contra nossas irmãs vêm de nossa cobiça. Nós queremos o que elas têm. Fazemos guerras interiores, as tratamos com frieza, evitamos amizades, tudo por causa da cobiça de nossos próprios corações.

“Ah, Francine, mas Tiago diz que não temos porque não pedimos. Então a solução é pedir que Deus me dê o que ela tem, certo?”. Bom, eis o que Tiago diz logo em seguida:

“Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus.” (V. 3,4)

Queremos ser inimigas de Deus e buscar nos associar com padrões mundanos? Porque quando nos deixamos vencer pela cobiça e inveja é isso que fazemos. Pedimos coisas a Deus para satisfazer nossos próprios desejos e não os Dele para nós.

Mas Tiago nos dá também a resposta para esse problema:

“Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: ‘Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’. Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração.” (V. 6-8)

Como podemos nos livrar desse ciclo tão perigoso (comparação, infelicidade, mais comparação)? Nos aproximando de Deus, buscando a face dEle, e resistindo às mentiras do inimigo. Quando encontramos uma de nossas amigas e ela parece estar cada dia mais fitness ou bem-sucedida, precisamos dizer verdade a nós mesmas – Deus me ama, independente da minha carreira ou tipo corporal, e Ele me planejou para ser exatamente assim; e evitar as mentiras do inimigo – que nossa amiga é melhor que nós e que deveríamos querer ser como ela.

Campo florido do Reino

Quando eu vejo um campo florido, com flores de todos os tipos e cores, meu coração se enche de alegria porque eu imagino as mulheres da Igreja. Todas as cores, cheiros, texturas, formatos, tamanhos… Completamente diferentes, mas uma só em Cristo. Todas perfeitamente planejadas, com seus dons e traços de personalidade que apenas juntos completam a missão do Reino. E todas enfeitando e embelezando o mundo por Cristo, exatamente como são.

Sabe o que é o mais grave do jogo da comparação? Não é inimizade que causa entre nós, mas a forma como nos paralisa para a obra do Reino. Quando eu acho que não sou “boa o suficiente”, “bonita o suficiente”, “inteligente o suficiente”, eu não sirvo, eu não faço minha parte na causa da Cristo, porque acredito que outra pessoa deva fazer. Queridas, é exatamente isso que o inimigo quer.

Veja o que o Senhor diz, através da Palavra:

“Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu. Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros. Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada.” (Romanos 12:3-6)

Não devemos pensar que somos mais do que somos – somos apenas pó. Mas não devemos esquecer, ao mesmo tempo, que fomos resgatadas para ser um membro do Corpo de Cristo com uma missão única e perfeitamente dada a nós, ninguém mais.

Fomos resgatadas para ser um membro do Corpo de Cristo com uma missão única e perfeitamente dada a nós, ninguém mais. Click To Tweet

Quando aceitamos nossa identidade em Cristo, quando realmente entendemos que somos criadas “de modo especial e admirável”, e que nossas irmãs também são!, então podemos servir ao Reino e ao Rei de forma completa. Nos alegraremos com a beleza, com o sucesso, com as bençãos que o Senhor estiver dando a outras mulheres, sem comparação, sendo humildes para aceitar de todo coração aquilo que o Senhor quiser dar a nós, seja o que for, porque Ele é Deus e nós não somos. Que liberdade incrível existe na aceitação!


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