Cristo em Cada Pensamento (Saúde Mental): Alegrando-se nas Provações

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tiago 1:2–4)

Há algumas semanas, tive a oportunidade de experimentar o que esse tema tem a nos ensinar e senti em minha própria pele (e também nas emoções e no meu espírito) o quanto é desafiador olhar para as lutas da vida com alegria. Minha filha mais velha foi diagnosticada com uma pneumonia bacteriana de gravidade importante, sendo necessária a sua internação. Com minha gestação já avançada, chegamos a ponderar se era melhor que eu ficasse em casa e meu esposo acompanhasse nossa primogênita, mas meu coração ficou apertado com essa possibilidade, então ficamos os dois dividindo o sofá e a poltrona ao lado da cama de hospital por três dias intensos e cheios de altos e baixos. 

Na hora que ouvi as palavras “vamos ter que internar”, confesso que não senti nada alegre reverberando aqui dentro. Pelo contrário, segurei minha filha no colo e, de olhos fechados, orei pedindo a Deus uma coragem que não poderia brotar da minha própria vontade. Ah, se não fosse o Espírito Santo nessas horas!

A primeira noite foi a pior de todas, com aquele misto de medo, preocupação com os procedimentos invasivos em uma criança e a sensação de estar de mãos atadas. Foi durante a madrugada que lembrei de um ebook que havia adquirido recentemente e parecia ser a leitura certa para aquele momento: “Aquietai-vos: 100 devocionais para o coração sobrecarregado”, de Elisabeth Elliot. Que providência maravilhosa do Senhor!

Logo no primeiro capítulo me senti arrebatada pela reflexão sobre o coração tranquilo do Senhor Jesus, que dormiu durante a tempestade e nunca desviou do caminho da cruz, ainda que soubesse pelo que passaria. Essa serenidade na alma e no comportamento é resultado da confiança irrestrita no Todo Poderoso, que sabe bem o que faz, quando faz e porque o faz. Elisabeth foi cirúrgica ao escrever, meditando no Salmo 16:5, que ​tudo o que Deus designou é medido e controlado para o meu bem eterno. “Quando aceito a porção, outras opções são canceladas. As decisões tornam-se muito mais fáceis; as direções, mais claras; e, por consequência, meu coração se aquieta de uma forma indizível.”

Pensando assim, parece até poético viver as provações, mas só nós e Deus sabemos do arrepio que sobe pela espinha quando estamos diante de becos sem saída, perguntas sem resposta e da dor sem o alívio imediato.

Nossa porção de dor e amor

Parece utópico o conselho de Tiago: “tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações”. Alegria nós sentimos quando um filho nasce, uma porta de emprego se abre, o salário cai, a comida chega na mesa e coisas do tipo. Quem, em sã consciência, sai dando pulos de alegria por enfrentar uma provação? Podemos até ser bem humoradas, mas não alienadas. Porém, o autor bíblico não está fazendo menção a um tipo de alegria temporária, muito próximo da euforia. Trata-se de uma alegria consciente, racional e com os pés no chão, baseada na fé em Cristo, que garantiu vitória, mesmo diante das aflições (João 16:33). 

A alegria do salvo pelo Senhor Jesus não é circunstancial, mas fundamentada nas promessas. Sabemos que haverá dor deste lado da eternidade, mas que o amor do Pai nos cobre com graça, consolo e misericórdia. Aceitamos nossa porção de provações não pelo pensamento positivo de “vai dar tudo certo” ou “vai ficar tudo bem”, mas pela certeza de que as provas nos levam a níveis mais profundos de intimidade com o Senhor, nos ensinam mais sobre quem Ele é, nos fazem mais parecidas com Seu filho e, portanto, produzem perseverança.

A fé não cresce na praia

Eu sou uma grande admiradora da natureza e amo permanecer em estado de contemplação. Observar a arquitetura divina e a criatividade presente em cada detalhe da criação me inspira e eleva meus olhos para o Eterno. Meu coração silencia diante da beleza das montanhas e se aquieta com o som das ondas do mar. É maravilhoso desfrutar da beleza do Criador!

Mas, embora eu ame essa sensação, sei que minha fé não cresce nos momentos em que estou confortavelmente sentindo o sol esquentando minha pele, enquanto tomo água de coco na beira da praia. O coração pode estar cheio de gratidão e alegria, mas não é exatamente o cenário de forja, ao qual a Palavra faz menção quando fala de crescimento na fé. 

Assim como os músculos se fortalecem quando fazemos exercícios e os expomos à cargas pesadas e pressão, Deus permite que passemos por desafios e dificuldades para que sejamos moldadas em quem Ele nos chamou a ser: filhas e filhos “maduros e completos, sem que nada falte” (Tg 1:4). Esse plano de amor, por meio da dor, deve gerar em nós alegria, pois mostra que: somos filhas amadas de um Pai que se importa com nosso crescimento, que é soberano sobre tudo o que acontece conosco e que vê em nós um alto potencial de espelhar a Cristo no mundo. 

Mudando de perspectiva

No início dessa série, com o texto sobre “O problema do mal”, nos foi dada a chance de trocar as lentes que usamos para enxergar o mundo. A vida é essa mistura agridoce de alegria e tristeza dividindo o cenário; bebês nascendo enquanto pessoas enterram seus entes queridos, pessoas celebrando mais um ano de vida enquanto outras choram pela perda de um emprego. Enquanto estivermos deste lado da eternidade, alegria pura não existirá, pois estamos constantemente cercadas pelas sombras do mal.

Mas a cruz nos aponta para outra direção: “Para a terra que estava aflita não continuará a escuridão […] O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a luz.” (Isaías 9:1 e 2). Quando o verbo se fez carne, tudo mudou. Muito mais brilhante do que a estrela que guiou os reis até Belém, Jesus Cristo é a luz que chegou irradiando por todos os cantos do Universo, com a promessa (e o poder) de restauração e aniquilação eterna do mal. O problema do mal já tem solução; a tristeza tem data certa para terminar; as dores da vida estão perto de serem extintas para sempre. 

Enquanto isso, ousemos desafiar nossas emoções duvidosas e olhemos para o Autor e consumador da nossa fé, nossa porção de paz e alegria, nossa fortaleza segura, Aquele que está no controle de tudo, e recebamos de bom grado a alegria que é gerada nas provações e lutas.

“Deus encarnou e viveu neste mundo como um homem. Ele nos mostrou de que forma viver neste mundo, sujeito às suas variações e necessidades, para que sejamos transformadas — não em um anjo, não em uma princesa do enredo de um livro, não sendo levadas para outro mundo, mas transformadas em pessoas santas neste mundo. O segredo é Cristo em mim, e não eu vivendo em um conjunto diferente de circunstâncias.”

Elisabeth Elliot


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