A vida sempre vale o risco de morte (Meu relato de parto)

Sometimes when we are called to obey, the fear does not subside and we are expected to move against the fear. One must choose to do it afraid. (Elisabeth Elliot) [1]

Quatro anos e meio atrás eu sentei nesse mesmo computador para escrever meu relato de parto da minha primeira filha, Vesper. Eu confesso que não me lembro exatamente, mas imagino que o fiz em lágrimas. Eu estava profundamente depressiva, e sobrevivendo as consequências de um parto extremamente traumático. Naquele texto eu disse, “[A maternidade é] a alegria intensa e a dor intensa, tudo embrulhado junto na mesma embalagem de presente.” Eu não estava errada, mas naquele purpério a proporção de dor era muito maior em relação à alegria.

Pela graça de Deus, dessa vez o inverso é real.

Por causa de nossa primeira experiência, eu disse, por pelo menos dois anos, que nunca mais engravidaria. Nossa filha era maravilhosa, não tinha porque querermos mais. Éramos abençoados, nossa família estava completa. No terceiro ano da Vesper, eu comecei a ter dúvidas… Me lembro que meu marido e eu tivemos uma conversa e ele disse, “eu acho que se nós tivermos outro filho, daqui 10 anos não olharemos pra trás com arrependimento; mas se não tivermos, talvez o arrependimento venha”. Aquilo ficou comigo. Por mais ou menos um ano, eu e Beau alternávamos quem pensava que deveríamos tentar de novo. Vez ele, vez eu, mas nunca os dois.

Até que um dia, simplesmente, Deus alinhou nossos corações. A beleza disso é que, em 2015, quando ficamos noivos, Beau escreveu uma música chamada “Align Our Hearts”, na qual pedia exatamente pra que Deus sempre alinhasse nosso coração, enquanto casal, com o dEle. E foi exatamente isso que Ele fez.

No segundo mês de tentativa, engravidamos. E junto com o resultado positivo veio a alegria e o medo. Eu escrevi no meu Instagram para amigos e família, à época:

Por quase 4 anos, a gravidez e o parto pareceram-me uma experiência cheia de TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático) e nada mais. Foi como se eu estivesse andando em uma trilha que deveria ser segura, mas me deparei com uma experiência de quase morte – digamos, um encontro com um urso ou uma queda em um penhasco. De repente, o que os outros veem apenas como um caminho para uma caminhada feliz, compreensivelmente eu vi como um lugar a evitar e uma caminhada que nunca mais escolheria.

Até que, com o tempo, Deus pareceu amolecer meu coração. Ele não mudou o caminho – às vezes ainda é um lugar assustador, com armadilhas de TEPT. Mas, lentamente meu Senhor me mostrou que Ele está no caminho. Ele criou o caminho. Ele é o fim do caminho.

Há 4 anos olhei a morte nos olhos e foi assustador. Agora, sinto que escolher seguir esse caminho novamente é como olhar a morte nos olhos e sorrir. Sorrir porque ela não tem a última palavra. Se essa gravidez me matar durante o caminho, sei que o último suspiro que der nesta terra será o primeiro nos braços de Jesus. A morte é um inimigo derrotado.

Então, escolhemos trilhar esse caminho com alegria. Propositadamente. E posso dizer com segurança: a VIDA sempre vale o risco de morte.

Este bebê é um milagre para mim. E nossa família já o ama. Mas também, se meu nome aparecer aleatoriamente na sua cabeça, provavelmente é o Espírito que está incentivando você a orar por mim. Por favor, faça isso?

A gravidez foi tranquila, assim como a primeira, mas conforme a data da cesárea se aproximava, o medo foi ficando mais intenso. E então me lembrei de uma frase da minha querida Elisabeth Elliot: “Às vezes, quando somos chamados a obedecer, o medo não diminui e espera-se que avancemos contra o medo. É preciso escolher fazer com medo.” E então eu respirava fundo e escolhia olhar pra além do medo, e fazer com medo mesmo.

Chegamos ao hospital no dia do parto, 17/7 às 7 da manhã, e no caminho o céu estava rosa e um bando de pássaros voou sobre o carro, e eu senti o sorriso do Senhor. Pássaros são meu animal preferido, e eu AMO contemplá-los; e a cor rosa foi como um sussurro de que o Pai estava cuidando da nossa menina.

Quando a enfermeira começou o processo de preparação para a cirurgia, eu fiquei ansiosa. Enquanto eu recebia agulhadas em ambos os braços, Beau olhou pra mim e apontou o pedaço de papel que eu tinha pedido pra ele colocar no bolso, com o versículo que eu queria que ele lesse pra mim em momentos difíceis do parto, Isaías 12:2 (o mesmo verso que me carregou durante a Depressão Pós-Parto): “Deus é a minha salvação; terei confiança e não temerei. O Senhor, sim, o Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação!”

Uma amiga minha enfermeira na maternidade pediu à amiga dela, que é cristã, que escolhesse meu parto na escala da enfermagem. Ter uma cristã ao meu lado o processo todo foi uma benção que eu nem sei mensurar. E uma surpresa da graça: minha obstetra, que durante o processo todo me passou uma segurança absurda, também é cristã, e eu só descobri isso no dia do parto, quando ela se juntou à enfermeira para orar por mim. Que momento poderoso! Eu senti a presença do Espírito conosco, pois estávamos ali, duas ou três reunidas no nome de Cristo.

Fui levada à sala de cirurgia, já com muito mais paz no coração, e pude conversar com o anestesista que, sabendo o que aconteceu na minha última experiência de parto, conversou comigo o passo a passo do processo e foi muito gentil. O centro cirúrgico todo parecia tomado de graça, todo mundo preocupado em me dar uma experiência melhor que a última.

O primeiro passo, a anestesia, foi feito com o médico nas minhas costas detalhando o passo a passo, para me passar confiança, enquanto a médica segurava uma das minhas mãos e a enfermeira a outra. Enquanto isso, a enfermeira orava por mim. Eu não senti meu medo da anestesia ir embora, mas eu senti a coragem do Espírito para, como disse Elisabeth, fazer com medo mesmo.

Assim que a anestesia funcionou normalmente dessa vez, glória a Deus!, me deitaram e colocaram a cortina na minha frente. Beau entrou na sala, e sentou-se ao meu lado, e durante toda a cirurgia nós conversamos e rimos, uma experiência COMPLETAMENTE diferente da primeira.

A equipe médica, que sabia o nome da bebê, anunciou que ela estava prestes a sair. De repente, a médica disse “e aqui está a Bianca!”, e nós ouvimos ela chorar. Beau e eu olhamos um para o outro e começamos a chorar.

Ela tinha chegado, nosso bebê milagre, a alma que Deus já conhecia desde quando eu disse “nunca mais”.

Queridos, a experiência como um todo foi completamente diferente da primeira. Deus redimiu cada pedacinho do nosso trauma. E não somente o nosso! A enfermeira maravilhosa que estava comigo no parto da Vesper também pode estar conosco no segundo dia de hospital com a Bianca, e disse que a experiência de nos ver tão bem dessa vez foi cura para ela também, porque foi traumático para toda a equipe médica naquela ocasião. Beau e eu nunca tínhamos pensado nisso, no lado do trauma para eles. Mas Deus sabia o que essa enfermeira precisava. Glória ao Deus de cura!

Bianca Rose é nosso milagre, mas Vesper Elizabeth também é. Ambas nasceram exatamente como precisavam nascer, e ambas são nossas preciosas filhas. Eu me lembro de algo que minha psicóloga me disse, anos atrás: não tenha um novo bebê para ser seu “bebê da cura”, como se Vesper fosse seu “bebê do trauma”. E ela tinha toda a razão. Bia veio trazendo cura, mas não veio PARA trazer cura. Nós a amaríamos da mesma forma se ela tivesse vindo com um parto ainda mais traumático que o da irmã.

Não trazemos filhos ao mundo com expectativas de curar nossas feridas ou tapar nossos buracos. O trazemos ao mundo como esperanças vivas de continuar e avançar o Reino de Deus através de criaturas feitas à imagem Dele e amadas por Ele.

Quero terminar este relato de parto, ainda que tão diferente do primeiro, da mesma maneira, porque a verdade dessa frase permanece: Meu corpo, minha oferta — para o bem da minha família e para a glória de Deus. Amém.

Toda honra e glória a Deus — nos desertos e nos jardins. Na dor e na cura. Ele é digno. Amém.