Legalismo

Escolhendo o amor ao invés do legalismo (parte I)

Artigo escrito originalmente por Leslie Ludy, e publicado aqui.
Traduzido, com permissão, por Francine Veríssimo.

LEIA A PARTE II || LEIA A PARTE FINAL

Santidade

Eu me sentei meio tonta enquanto o alarme tocava, murmurando contra aquela intrusão ao meu sono confortável. Esfregando minha mão nos meus olhos, eu pensei em apertar o botão da soneca e dormir por uns trinta minutos extras. Será que eu realmente precisava de um tempo a sós com Deus essa manhã? Talvez se eu pulasse meu devocional matutino e tivesse um café da manhã bem rápido, eu pudesse dormir mais um pouquinho e sair a tempo das minhas atividades do dia…

Enquanto eu ponderava sobre as várias possíveis maneiras de evitar o desconforto de sair da minha cama, pelo canto do olho eu podia ver minha colega de quarto, Krissy, sentando e afastando suas cobertas. Eu olhei para seu rosto, e tive que olhar de novo. Ela estava sorrindo. Ela não estava acordada por mais do que trinta segundos, e já se mostrava radiante com genuína alegria. Eu fiquei surpresa. Como era possível que ela estivesse feliz daquele jeito desde o momento em que o alarme começou a soar? Eu me inclinei para frente e assisti mais de perto para ver o que ela faria em seguida.

“Bom dia, Senhor!” ela exclamou com alegria, olhando na direção do céu e ainda com um sorriso radiante no rosto. E então, com muita disposição, ela sentou-se na mesa ao lado da cama e pegou sua Bíblia. Seu rosto brilhava com excitação enquanto ela bebia das palavras das Escrituras. Era como se o Amado de sua alma tivesse escrito uma carta de amor só para ela, e ela mal podia esperar para lê-la.

Eu estava surpresa e convicta pelo que vi. Aos dezessete anos, eu tinha recentemente entregado minha vida a Cristo. Mas percebi que ainda não tinha a mesma paixão por Jesus que Krissy tinha. Quando o meu alarme tocou, eu estava apenas preocupada em preservar meus próprios confortos, mas a Krissy mal podia esperar para passar tempo na presença de seu Rei. Abandonando a ideia de apertar o botão da soneca, eu peguei meu diário espiritual e comecei a escrever uma oração que tem crescido em meu coração por anos:

Senhor, eu quero te amar da maneira que a Krissy te ama.

Eu não conhecia Krissy há muito tempo, mas sabia que tinha alguma coisa diferente sobre ela. Eu cresci cercada de cristãos a vida toda, mas raramente via alguém com o tipo de amor sincero e alegria que ela tinha. Durante o louvor na igreja, ela sorria, levantava suas mãos aos céus, e cantava com um fervor que eu nunca tinha visto. Quando ela estava em situações sociais onde não conhecia ninguém, ela imediatamente procurava pela pessoa mais insegura ou necessitada na sala e se aproximava dele ou dela. Com frequência, ela até mesmo levava essa pessoa a Cristo. Ela parecia sempre em sintonia com o Espírito de Deus, deixando que Ele guiasse seus passos, a levasse às pessoas certas, e derramasse Seu amor através dela.

Krissy vivia de modo separado ao Senhor em todas as áreas de sua vida; suas roupas, suas atividades, suas interações com homens, seu discurso, e suas atividades de tempo livre, tudo refletia um coração que queria honrar a Jesus Cristo e viver de acordo com o padrão de Deus de pureza e santidade. E ainda assim, ela não desprezava aqueles que não vivam da mesma maneira que ela. Ela era sempre amável, altruísta e pronta a servir os outros; nunca criticando ou apontando os erros deles. Ao invés de me sentir intimidada ou defensiva por causa dos altos padrões de Krissy para pureza e vida santa, eu estava intrigada e inspirada.

Eu cresci em um círculo de cristãos conservadores, e estive ao redor de muitas mulheres que tentavam ter um estilo de vida santo; usando roupas modestas, evitando certos filmes e músicas, carregando grandes Bíblias, ensinando seus filhos a sentarem feito pedras no culto, e por aí ia. Eu nunca tive nenhum desejo de ser como elas. Muito frequentemente, essas cristãs com boas intenções pareciam crer que seus estilos de vida religiosos, escolhas modestas de vestuário, convicções acerca do homeschooling, e métodos rigorosos de criar seus filhos, era o que as colocava em bons termos com Deus. Raramente elas demonstrava um tipo genuíno de amor pelos outros como eu via na vida de Krissy.

Na verdade, elas frequentemente mostravam um espírito crítico em relação a qualquer pessoa que parecia não compartilhar de suas convicções pessoais. Como resultado, crentes nominais como eu eram tentadas a pender para o extremo oposto e jogar padrões de uma “santidade” pela janela por medo de se tornar como elas.

Krissy era diferente. Ela tinha todos os mesmos padrões e convicções que muitos outros cristãos conservadores que eu conhecia. Mas, sua motivação parecia vir de uma fonte completamente diferente. Ao invés de tentar ser separada para Deus adotando uma enorme quantidade de regras impostas por ela mesma, ela simplesmente focava em amar e conhecer a Jesus Cristo. Cada padrão que Krissy mantinha era simplesmente um fluir de sua caminhada pessoal, íntima e amável com Ele.

Observar o exemplo radiante de Krissy mudou minha vida. Eu comecei a entender de onde a verdadeira separação para Deus precisa vir; não de regras mas de um relacionamento diário e apaixonado com o Rei de todos os reis.

A santidade deve vir não de regras mas de um relacionamento diário e apaixonado com Jesus. Click To Tweet

Eu sempre tive medo de que se eu adotasse padrões altos para pureza e vida santa, eu fosse me tornar como aquelas cristãs rígidas, melancólicas, e legalistas que eu conheci enquanto crescia. Agora eu via que um viver separado, quando é algo que flui de um relacionamento com Jesus Cristo, não é algo severo e restritivo – na verdade, é lindo, radiante e realizador.

Enquanto eu aprendia a construir minha vida ao redor do meu relacionamento com Cristo e entregar meu tudo a Ele, Ele gentilmente purificava meus hábitos e escolhas diárias. Como Krissy, eu comecei a me vestir diferente, falar diferente, e passar meu tempo de forma diferente. Nenhuma dessas escolhas foi feita por obrigação ou por “tentar estar de bem com Deus”, mas simplesmente porque Ele estava amavelmente me refinando e me fazendo mais como Ele mesmo.

O livro “God’s Missionary” (tradução literal, Missionário de Deus), de Amy Carmichael, captura bem esse tipo de “refinamento pelo relacionamento” que Deus fez em minha vida durante aquela época:

“Não é que Ele nos proíba essa ou aquela satisfação ou conforto na vida, não é que Ele seja severo… mas é que nós, que amamos nosso Senhor, e cujas afeições estão nas coisas do céu, voluntária e alegremente colocamos de lado todas as coisas que encantam o mundo, para que de nossa parte nossos corações possam ser arrebatados pelas coisas do céu, e para que todo nosso ser possa ser derramado em uma devoção sem reservas e constante no serviço do nosso Senhor, que morreu para nos salvar.”  (tradução livre minha —F.)

Essa é a verdadeira separação. E como a vida da Krissy tão belamente demonstrou, a verdadeira separação não pode vir de nenhuma outra fonte a não ser Jesus.

____________________________________

Eu achei extremamente precioso ler esse texto e fiquei surpresa, devo confessar, quando o fiz. Isso porque quem o escreve é Leslie Ludy, alguém que eu acredito ser bastante radical em suas escolhas de padrões cristãos. Mas, ler que ela acredita que essas escolhas devem vir de um relacionamento íntimo com o Senhor, e não de regras morais impostas por nós mesmas, me deu uma nova e revigorada visão da santidade que ela propõe em suas obras.

Espero que essa série de traduções possa abençoar e inspirar vocês, como tem feito comigo, a ser como Krissy – alguém com altos padrões de pureza e vida santa, mas sem ares de arrogância e legalismo.

Em Cristo,
assinatura

 LEIA A PARTE II || LEIA A PARTE FINAL