Um Lugar à Mesa (Sobre a Mulher na Igreja)

Que lugar nós, mulheres, temos no corpo de Cristo? Será que hoje nós, mulheres de 2021, possuímos o mesmo valor que Cristo conferiu às mulheres com quem interagiu durante sua vida terrena? Você, querida amiga, já se sentiu deslocada ou sem importância na Igreja de Cristo?

Neste artigo, quero que juntas lembremos das diversas formas que Jesus amou e valorizou as mulheres, não só as que com Ele andavam, mas todas nós, mulheres de ontem, hoje e amanhã, e mostrar como fomos profundamente impactadas com o amor do Homem que era Deus.

Olhando para as Escrituras

É muito fácil que passemos a acreditar que na Bíblia as mulheres possuíam um valor inferior aos homens. Afinal, ainda hoje de muitas formas isso é insinuado, nos púlpitos de muitas igrejas, inclusive. É fundamental que tenhamos em nosso coração uma teologia sadia sobre quem Deus é para que não duvidemos nem por um segundo do Seu amor para conosco.

Ao olharmos para as Escrituras, principalmente no Antigo Testamento, podemos nos confundir com algumas declarações sobre as mulheres, mas quando isso acontecer, precisamos levar em conta  o contexto social e cultural, as dores de um mundo caído, a maldade do homem e a desordem em que a criação se encontra pós-queda. Precisamos entender que toda a Lei do Senhor visava proteger as mulheres, uma vez que elas foram formadas à imagem de Deus, e possuem o mesmo valor que os homens aos olhos de seu Criador.

Compreender que Jesus é Deus e que Deus nunca muda, sendo  o mesmo ontem, hoje e para sempre nos capacita a enxergar que a forma como Jesus amou as mulheres é simplesmente a forma como Deus ama as mulheres.

Se quisermos saber quem somos aos olhos de Deus, se quisermos compreender o amor do Senhor e a forma como Ele ama suas filhas, basta que olhemos para a pessoa e o ministério de Jesus. Jesus, o Deus encarnado, por toda Sua vida terrena confirmou o que a maioria das pessoas desprezavam – que  há espaço para as mulheres em Seu Reino.

Jesus e as mulheres

Do nascimento à ressurreição, as mulheres estão presentes de forma ativa na vida de Cristo, não por acaso, mas propositalmente. As mulheres que se uniam a Ele anunciavam de forma audível que Jesus veio para todos – homens, mulheres, ricos, pobres, gentios, judeus.

Em uma cultura dominada pelos homens  em que mulheres eram tidas como inferiores, mentirosas, espiritualmente e intelectualmente mais fracas, pela palavra e pela ação, Jesus lhes conferiu uma nova dignidade.

Uma mulher confessa Cristo como Senhor (Mateus 15.22). À outra mulher, Jesus confessa seu segredo messiânico (João 4.26). A pecadora encontrou lugar aos pés do Senhor para derramar suas lágrimas (Lucas 7.37). Uma mulher é a única pessoa a ungir Cristo como Messias (João 12.3) . As mulheres, dentre todas as pessoas, são escolhidas para testemunhar a ressurreição do Salvador (Lucas 24.10). Jesus ama as mulheres – essa é a verdade que contemplamos quando olhamos para Ele.

Isso está claro no evangelho de João, no capítulo 4. No sol do meio dia, o Criador do mundo se fez sedento para se aproximar de uma samaritana. Os judeus mais ortodoxos sequer cogitariam passar pela cidade de Samaria por causa do espírito de desavença entre os dois povos. Homens jamais conversariam sozinhos com uma mulher, muito menos em público. Mas Jesus não era como os outros homens. Ele não se importou com nada além de que havia ali uma mulher sedenta de uma água que não havia no poço, e fez o que foi preciso para se aproximar dela e dar-lhe uma nova identidade.

No evangelho de Marcos, capítulo 5, vemos a face do Deus misericordioso revelado em Cristo: uma mulher impura tocou no manto do Mestre, e este a amou. Vemos no relato da mulher do fluxo de sangue algo extraordinário: uma mulher que tinha um sangramento constante, considerada impura pela lei mosaica, tocar no manto de um homem. O extraordinário é que este Homem não a rejeita, como era de costume. Ele a acolhe, a trata com misericórdia, sara suas feridas do corpo e da alma. Este Homem procura pelo seu rosto na multidão para nos deixar registrado que Ele é o Deus que ama, cura e liberta.

O evangelho de Lucas, capítulo 7, também nos mostra mais uma face do amor gracioso que Cristo demonstra para com as mulheres. Uma pecadora que chega em um jantar em que não havia sido convidada para se derramar aos pés de Jesus. Em algum momento ela soube que Ele estaria ali e nem o fato de ser uma mulher a impediu de encontrá-lo naquela casa. Ao derramar seu coração aos pés do Salvador, ela encontra um lugar seguro de perdão e acolhimento que jamais poderia encontrar em outro lugar. Jesus não a lança fora. Jesus a perdoa, ama e restaura.

Nestes três relatos dos encontros de Cristo com mulheres, vemos que Ele não faz acepção de pessoas. Uma mulher, aos olhos do Senhor, não é um ser inferior e sem utilidade. Aos olhos do Senhor, uma mulher é uma criatura que carece igualmente de redenção. Jesus não as humilha, não as exclui de seu ministério, não as impede de sentar-se à mesa da graça.

Jesus e nós

Quando olhamos para a genealogia de Cristo (cf Mateus 1), encontramos os nomes de cinco mulheres ancestrais de nosso Senhor: Tamar, Raabe, Rute, Bate-Seba e Maria. Isso também tem algo a nos revelar: na família do Senhor há lugar para mulheres de passado imperfeito, há lugar para aquelas que pecaram e se arrependeram, há lugar para as que fizeram do Senhor seu abrigo, há lugar para mulheres improváveis porque Jesus Cristo nos dá um lugar.

Pelo sangue de Cristo, todas as mulheres que nele confiarem são convidadas para o seu banquete. Durante toda sua vida Jesus apontou para algo que Ele concretizou em sua morte e ressurreição: ele é o Anfitrião. A mesa é do Cordeiro. Pelo sangue dele há lugar para as mulheres participarem do grande banquete.

Os relatos dos encontros de Cristo com as mulheres não são em vão. Não estão ali por acaso. Os encontros do Senhor com cada uma das mulheres que nos foram deixados nas Escrituras estão ali para nos dizer algo que precisamos urgentemente parar para ouvir: Cristo nos dá uma nova identidade, nos resgata do mais profundo poço, limpa a nossa sujeira e nos dá novas vestes para estarmos para sempre em Sua presença.

Aquelas mulheres representam na verdade cada uma de nós, querida amiga. Mulheres fracas, pecadoras, feridas, adoecidas no corpo, feridas na alma, esquecidas, rejeitadas e menosprezadas, mas que foram encontradas por um bondoso Salvador e nEle receberam alegria, identidade, propósito, valor, cura e salvação.

Sobre as questões levantadas no início deste artigo, podemos agora responder com certeza: em Cristo temos um lugar. Ainda que muitos se esqueçam da forma como Cristo amou e valorizou as mulheres, podemos olhar para Ele e com a certeza de que Ele não mudou de lá até aqui. Mesmo quando nos sentirmos sem um lugar, podemos confiar que Ele nos deu um e descansarmos nesta verdade. Nós não nos sentiremos deslocadas se constantemente nos lembrarmos do lugar na família divina que Jesus nos deu.

Maravilhemo-nos e alegremo-nos pela forma como Jesus amou, tratou e valorizou as mulheres. Ver como Cristo enxergou, ouviu, compreendeu, curou, libertou, perdoou e salvou cada uma delas deve nos encorajar por saber que Ele é poderoso para fazer da mesma forma conosco também.

Em Cristo vemos o Deus Criador amar e valorizar as mulheres. Vemos a bondade, a misericórdia e a graça de Deus reveladas em cada encontro de Jesus com uma de Suas filhas. Em Cristo vemos o Deus que nos chama à comunhão e nos dá um lugar na mesa do Cordeiro, onde há assento para as mulheres, amadas do Senhor, se achegarem e se fartarem de sua graça.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Agosto com o tema “A Mulher na Igreja”. Para ler todos os posts clique AQUI.