Um Encontro Necessário, Um Deleite Certo (Sobre Oração)

Por onde quer que olhemos nas Escrituras, lá está a oração. Do Antigo ao Novo Testamento, do Monte Sião ao Monte das Oliveiras, das cavernas às grandes celebrações. Onde Deus está a oração se faz presente. No entanto, você já parou para pensar no que significa orar? Por que a Bíblia tantas vezes nos ordena a orar? Será que existe uma maneira correta de orar?

Caro leitor, nesse primeiro texto de 2021, te convido a puxar uma cadeira à mesa e juntos aprendermos sobre este grande privilégio e dever que é orar.

O que é oração?

De maneira objetiva, poderíamos conceituar a oração como uma conversa com Deus. Apesar de objetivo, esse conceito não é, nem de longe, simplório.

A Palavra afirma que todos nós estávamos distantes de Deus e não havia nenhuma inclinação em nossos corações para buscá-lo (Rm 3:10-18). Éramos inimigos de Deus, escravos do pecado e não podíamos mudar nosso estado de rebeldia e dívida eterna (Jo 8:34). Deus, por outro lado, era e sempre será Santo, Todo-Poderoso, Majestoso. Estávamos diametralmente opostos a Deus e um grande abismo nos separava.

Mas Deus, sendo infinitamente amoroso e misericordioso, proveu o pagamento pelos nossos pecados (1Jo 2:2). Ele pagou a dívida, Ele nos trouxe a Si mesmo (Cl 2:14). Deus nos buscou. Jesus veio ao nosso encontro e pagou o preço para ser a ponte que nos ligaria a Deus (2 Co 5:21).

Você consegue perceber o quanto o evangelho tem tudo a ver com o que significa a oração? Orar é conversar com DEUS. Nós, que éramos mortos em nossos delitos e pecados; nós, que éramos inimigos de Deus; nós, que não O buscávamos… Por causa de Jesus hoje nós podemos conversar livremente com o Deus do universo! Podemos chamar o Senhor Todo-Poderoso de Pai nosso! Que privilégio!

Custou muito a Deus capacitar-nos a orar. Custou a vida do seu Filho Unigênito. Oramos não porque somos dignos, mas porque Cristo morreu e por isso temos a graça de estar a uma oração de distância de um relacionamento profundo com o Senhor dos Exércitos. Se orar é conversar com Deus, poderíamos dizer que esta conversa só é possível para nós por causa do Pai, mediante a obra do Filho e com o auxílio do Espírito.

Orar é conversar com o Senhor de toda a Terra e isso é inexprimivelmente magnífico!         

Por que orar?

Uma vez que entendemos a beleza que é conversar com Deus talvez nos perguntemos por que orar. O próprio fato de podermos conversar com o Criador já é uma grande razão. Mas, além disso, a oração nos é ordenada por outros motivos.

Em primeiro lugar, orar é reconhecer quem Deus é. Orar tanto requer quanto produz em nós sincera humildade. Oramos porque reconhecemos que somos falhos e necessitados, não detemos o controle, não sabemos o que fazer.  Oramos porque sabemos que Deus é soberano e misericordioso, benigno e justo. A prática da oração nos lembra continuamente quem somos e quem Deus é.

Em segundo lugar, quando oramos nos conhecemos melhor. Orando somos o que somos – sem máscaras, sem autocomiseração, sem transferência de culpa. Quando nos rendemos em sincera conversa com o Senhor, meditando na Palavra e falando com ele, vemos o quanto nossos afetos estão desorganizados e contemplamos a Sua atuação em reordená-los enquanto caminhamos à eternidade. Muitas vezes é no momento da oração que Deus nos mostra rotas a serem refeitas e medidas a serem tomadas conforme sua Palavra.

Outro motivo para orar é que mediante a oração nossos corações são preparados para as bênçãos pelas quais pedimos. Timothy Keller explica sobre isso em seu livro “Oração” da seguinte forma: “Deus com frequência espera para conceder uma bênção até que você ore por ela. Por quê? Coisas boas pelas quais não pedimos costumam ser interpretadas por nosso coração como fruto da nossa própria sabedoria e diligência (…) Há muitas dádivas que Deus não nos dará a menos que o honremos e tornemos nosso coração seguro para recebê-las por meio da oração”.

Como orar?

         Sabemos, então, que orar é conversar com Deus. Vimos também alguns motivos para orar. Mas… como orar?

Antes de tudo, precisamos lembrar que não existem palavras mágicas para uma oração eficaz. Não existe um conjunto de regras que, se cumpridas, garantirão que nossa oração será respondida conforme pedimos. E querido leitor, graças a Deus que tal coisa não existe. Como disse C. S. Lewis: “Se Deus tivesse concedido todas as orações tolas que eu fiz na minha vida, onde eu estaria agora?”. No fim das contas, oramos para entregar a Deus nosso louvor e petições e pedir que Ele, em sabedoria e graça, faça Sua vontade.

A Bíblia nos traz várias orações em toda sua extensão e o próprio Jesus nos ensinou como orar (Mt 6:9-13). Podemos extrair da Oração do Senhor, bem como de outras contidas na Bíblia, diretrizes básicas para a prática de oração.

1)   Leia e medite nas Escrituras

         Pensemos em como funciona uma conversa: alguém fala, outro responde, ambos interagem. A dinâmica da oração é semelhante: Deus iniciou este relacionamento quando nos fez filhos e devemos, pois, ouvi-lo para que possamos responder (em oração). Mas, como ouvi-lo? Através da sua Palavra. A prática da oração está intimamente ligada ao estudo e meditação nas Escrituras. A Bíblia não é apenas um meio de conhecer sobre Deus, mas de realmente escutá-lo e conhecer quem Ele é.

         Nossa vida de oração sofre profunda alteração conforme o conhecimento que temos de Deus. Quanto mais conhecemos o Senhor, quanto mais meditamos em sua Palavra e conhecemos sua vontade revelada, mais e melhor oramos.

2) Use a Oração do Senhor como guia

Quando os discípulos pediram a Jesus que lhes ensinasse a orar o Senhor nos deu um modelo a ser seguido, uma diretriz. Observando a Oração do Senhor podemos ver que ela contém a seguinte estrutura:

– Louvor e adoração (“Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade”);

– Petição por nossas necessidades (“O pão nosso de cada dia nos dá hoje(…) livra-nos do mal”)

– Confissão de pecados (“perdoa as nossas dívidas, como nós perdoamos os nosso devedores”

– Ações de graças (“pois teu é o reino, o poder e a glória”)

– Rendição à vontade do Pai (“seja feita a tua vontade”)

Sendo assim, tomando a oração que Jesus ensinou a seus discípulos, podemos usar esse modelo para nossas orações pessoais. É provável que, assim como eu, você já se pegou pensando sobre o que orar. Eis um modelo maravilhoso para seguirmos e parafrasearmos conforme nossas particularidades quando nos dirigirmos ao Senhor – o Pai nosso.

Amados irmãos, todos nós fomos chamados a ter a oração como um dever e um privilégio (1Ts 5:17). Talvez você não esteja conseguindo enxergar o prazer em orar, mas persevere até que a constância do dever transborde em deleite. Orar nem sempre é fácil por causa de nossa natureza caída, mas lembre-se que temos o Espírito Santo para nos auxiliar a orar como convém e por nós interceder (Rm 8:26-27). 

Minha oração é para que o nosso Pai nos leve a orar mais e mais e assim possamos desfrutar das bênçãos celestiais já conquistadas por Jesus.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Fevereiro com o tema “Disciplinas Espirituais”. Para ler todos os posts clique AQUI.