Trabalho Fora de Casa e a Maternidade

Sou a figura de mulher três-em-uma: esposa, mãe e a que trabalha fora de casa. Nasci em um lar onde o trabalho era importante e digno. Meus pais, que ainda não são cristãos, me ensinaram desde cedo a não ver o trabalho como uma tarefa penosa, mas sim como algo prazeroso e valoroso. Isso é ótimo! Mas em contrapartida cresci entendendo o trabalho apenas como uma fonte de sustento e ocupação, e portanto não compreendia o seu significado em todas as dimensões e, até ser alcançada pela graça salvadora, a falta de maturidade nessa área me custou esforços com motivações bem erradas.

Posso está sendo afoita – como dizemos aqui no Nordeste – ao dizer que infelizmente para alguns cristãos a ideia de uma mãe trabalhar fora de casa é sinônimo de pecado. Além disso, toda essa ideia traz um peso por vezes injusto aos ombros e almas de mulheres que decidem trabalhar por escolha ou por necessidade. O que você diria se eu disser que a Bíblia nunca condenou o trabalho de uma mulher? Ou então que a Bíblia não diz que o seu trabalho tem um fim apenas de sustento? Precisamos resgatar o sentido dado por Deus ao trabalho e renovar nossa mente à luz da Palavra de modo que fique claro que aquilo que pensamos acerca do nosso trabalho e a forma como nos relacionamos com ele, ou seja, o que fazemos e o modo como fazemos, não estão fora do interesse de Deus.

Diante disso, meu intuito com esse texto é para você, mãe que trabalha fora de casa, refletir as motivações que a levam escolher esse caminho e a maneira como você lida com os frutos deste; e para você, mãe que trabalha no lar, quebrar as barreiras de preconceito e julgamento com mães que trabalham fora de casa, evitando a tendência de defender o seu atacando aquilo que é diferente. Para ambas, desejo levá-las a entenderem que todas trabalhamos para o Rei.

Como nosso trabalho se encaixa na História

No princípio, na Criação, Deus descreve toda Sua obra. A Bíblia demonstra Deus como um trabalhador que realizou sua tarefa com todo prazer e alegria. No Jardim, Adão e Eva também trabalhavam cuidando de toda a criação, refletindo o que Deus já havia começado e também ordenado – que a humanidade continuasse a encher a terra e sujeitá-la. Timothy Keller, em seu livro Como integrar fé e trabalho, nos ensina que o verbo “sujeitar” em Gn 2:28 evidencia que embora tudo o que Deus já havia feito fosse bom, ainda havia muito o que ser explorado e desenvolvido, e tudo isso seria feito por meio do trabalho das pessoas – homem e mulher. A intenção de Deus era que os seres humanos trabalhassem, portanto, o trabalho não é uma consequência do pecado, todavia a Queda afetou a forma como nos relacionamos com ele.

O nosso trabalho é um dos principais meios que Deus pretende usar para nos tornar mais semelhantes a Jesus. Ele usa o nosso trabalho para nos santificar, alimentar nossa alma, desenvolver nosso caráter cristão e nos ensinar a amá-lo mais e a servi-lo melhor, até que nos unamos a Ele no dia final.

Importante dizer que quando me refiro a trabalho, quero que entenda ele nas duas nuances tratadas de modo especial aqui, ou seja, tanto aquele trabalho fora do lar como o dentro do lar. E assim, compreendendo o trabalho como um presente a ambos os sexos, podemos enxergar o verdadeiro valor do trabalho e a quem ele inicialmente deve se dirigir. Homem e mulher foram criados para o trabalho, cada qual dentro das suas funções, mas ambos com o intuito de glorificar a Deus e abençoar a vida do próximo.

Uma guerra desnecessária

A pergunta que não quer calar é: por que tanta discussão sobre isso quando a Palavra nos mostra não haver proibição, ao contrário, traz o trabalho para a vida da mulher, sendo mãe ou não,como um meio de glorificar a Deus?

As respostas podem ser muitas, mas com certeza a chave de tudo isso é o pecado. Ele tira do coração e da mente o propósito maior e coloca em seu lugar as necessidades egoístas do ser humano, criando a partir disso uma guerra materna entre mães que se dedicam de forma integral ao lar versus as que trabalham fora. Essa guerra de lados extremos ofusca o sentido belo do plano divino tentando sobrepujar uma função em detrimento da outra e isso acaba por comprometer o modo como nos vemos, como nos relacionamos com a nossa família e principalmente com Deus.

Queridas, tenham como letreiro pessoal: a pessoa para quem trabalhamos é mais importante do que aquilo que fazemos. Nós trabalhamos para o Rei e isso muda tudo. Trabalhamos para Jesus e isso é a coisa mais importante que podemos saber e lembrar a respeito do nosso trabalho. Isso é muito mais importante do que a profissão em si, independentemente de a pessoa ser dona de casa, professora, médica, policial, autônoma ou advogada. Não importa o que estejamos fazendo, nós o estamos fazendo para glorificar Jesus e para o bem do nosso próximo – nossa família, nossa sociedade, nossa igreja. Não há motivo de guerra.

Como mencionei no início do texto, eu trabalho fora de casa e permanecer no trabalho após o nascimento da minha filha foi uma decisão tomada mediante oração, orientação do Senhor, concordância e incentivo do meu marido, além de outros fatores pessoais. Às vezes sou questionada por mulheres do por que não fico em casa, e explico que por enquanto essa tem sido a decisão tomada entre eu e meu marido. Algumas contorcem os lábios e eu sinto o ar de julgamento, já outras vezes recebo respeito. Em meio a tudo isso me apego ao fato de estar debaixo da autoridade de Deus e do meu marido. E ainda no fato dessa decisão não ser algo completamente definitivo – podemos mudar de ideia quando assim entendermos. Até o momento – sob o crivo do meu esposo – sou uma esposa e mãe presente, e que apesar das minhas falhas, almejo dar o melhor e crescer nesse melhor todos os dias, priorizando o que é prioridade para Deus, minha família.

Decidir ficar em casa ou trabalhar é uma decisão tomada em conjunto com seu marido, dentro do contexto de cada família, além de ser, para algumas mães solteiras, divorciadas ou viúvas, uma necessidade sem precedentes. Frases como “nenhum ganho profissional compensa o fracasso familiar” trazem um peso grande às mulheres que trabalham fora por escolha ou necessidade. Portanto, não julgue sem conhecer a real necessidade de uma decisão. A motivação do coração e a necessidade daquela mulher são conhecidas por Deus.

No entanto, há casos em que essa decisão é sinal de autossuficiência, ganância e priorização da carreira em detrimento da família. A mulher cristã que opta por trabalhar fora pode e deve ser uma profissional qualificada e que glorifica a Deus através da sua profissão. Contudo a Bíblia ensina qual deve ser a sua missão principal. Ao negligenciar marido, filhos, lar, serviço na igreja, essa mulher precisa rever sua posição. Antes de ser profissional, a mulher tem outras prioridades à luz das prioridades de Deus para ela. 

Videira frutífera

No Antigo Testamento a videira era sinônimo de algo frutífero, abundância, beleza e excelência. Inclusive a videira se tornou um símbolo de paz e tranquilidade, vários textos do AT falam que quando alguém quer paz senta embaixo da videira e ali encontra descanso. Então, ao lermos na Bíblia “a mulher é como uma videira frutífera no interior da sua casa” é assim que ela deve ser, a auxiliadora, o apoio, o sustento do marido no lar, servindo-lhe, produzindo os frutos necessários para a edificação do marido e filhos.

Todo o frutificar da mulher que encontramos em Provérbios 31 não é algo super poderoso. O final do texto da mulher virtuosa é um exemplo de uma mulher de sucesso, pois ela encontrou o ponto de equilíbrio onde Deus é o centro de suas decisões, “a mulher que teme ao Senhor essa será louvada”. Essa mulher consegue fazer todas as coisas descritas no texto porque a beleza dela não está no seu exterior, mas no seu temor ao Senhor. Ela é leal a Deus. O que Deus a pede para fazer, ela faz. Ela se submete ao seu marido não por causa do marido, mas por causa de Deus. Ela cuida bem dos seus filhos não por causa do amor para com os filhos somente, mas porque Deus lhe deu os filhos para ela cuidar. Ela trabalha fora e sabe administrar bem não por seus próprios méritos, mas porque Deus a ensinou como agir com aquilo que foi colocado em suas mãos.

Mulher, Deus a colocou no mundo, dentro da sua família, a fim de que seja produtiva. Ao decidir trabalhar fora, você deve ter sinal de maturidade para saber dosar suas atenções, priorizando a sua missão principal. Atente para isso. Não importa se você é avó, mãe, irmã, o símbolo da videira que sustenta, que apoia, é dar suporte ao ministério da sua família.

Nosso trabalho (remunerado ou não) é simplesmente o cumprimento da nossa vocação que Deus estabeleceu para cada um. Ciente disso, peçamos a Deus para que Ele nos ajude a cumprir com esmero nosso chamado, no local estabelecido por Ele, pois só assim glorificaremos a Deus e serviremos nosso próximo. Seja uma videira que entende a ligação entre o nosso trabalho e a principal identidade como discípula de Jesus. A nossa recompensa está nos esperando nas mãos marcadas com pregos daquele que já consumou sua obra.

O trabalho é importante, vimos isso. Mas trabalhar para o Rei é mais importante. Coloque o trabalho em seu devido lugar – cheio de propósito e significado, mas não em competição com aquele para quem o trabalho é feito em primeiro lugar. Isso é igualmente valioso para uma mãe que fica no lar, ou para aquela que decide também trabalhar fora do lar. Trabalhar para o Rei nos liberta da tirania de compararmos com os outros a fim de nos sentirmos bem em relação a nós mesmas. Se for o seu caso, então ouça o chamado de Deus, que é libertador e gracioso, para a fidelidade independente da ocupação.


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