Tardio Em Se Irar (Sobre a Paciência de Deus)

Outro dia enquanto rolava o feed do Facebook, me deparei com uma postagem que se tratava da figura de uma mulher com os olhos revirados dizendo, “Paciência é uma virtude… que eu não tenho!” No momento em que vi achei graça, mas rapidamente percebi que também é uma virtude que me falta  — muito mais do que deveria faltar  — e então, de repente não era mais tão engraçado assim.

Uma forma de expressar o significado de uma palavra é usar um pensamento oposto para defini-la com mais clareza. Para definir o frio, podemos dizer sobre a ausência do calor. Para falar de algo que seja grande, podemos dizer que não é pequeno. Quando falamos de injustiça, a ausência de justiça cabe bem. A paciência de Deus é contrastada com sua ira tardia.

A ira é o oposto da paciência, e a boa notícia para nós é que Deus é totalmente paciente. Ele é tardio em se irar. Ele é o Deus que perdoa cada pecado e nos trata com bondade. A bondade de Deus que repousa sobre nós mesmo nos momentos em que nós negamos bondade a outra pessoa é uma grande prova de sua paciência.

Há muitas pequenas coisas que diminuem a minha paciência. Basta que alguém esteja andando na minha frente de forma mais lenta na rua. Basta que os pés de alguma pessoa se mexam incansavelmente dentro do meu campo de visão. Basta que a mastigação faça barulho. Bastam muitas outras pequenas coisas e então vejo que minha ira não é tardia. Ela está ali apenas esperando qualquer movimento para entrar em erupção. Quando me iro com pequenas ou grandes coisas, me iro primeiramente contra Deus. É contra Ele que pecamos quando o vulcão da ira entra em erupção. É Ele a primeira parte ofendida da nossa falta de paciência. Mas ainda assim, essa parte ofendida não é como nós – e louvado seja Deus por isso! Ele continua a suportar-nos com amor e paciência como quem conhece suas criaturas e sabe que são pó.

O amor é paciente

Paciência é, de forma prática, o amor de Deus demonstrado por nós dia após dia. Paciência é o que Deus é. Ele não respira fundo ou conta até dez para se recompor diante de nossas faltas. Sendo a paciência um de seus atributos, Ele não é o que é sem sua amorosa paciência. O reverendo Heber Campos em seu artigo sobre a paciência de Deus, cita como Berkhof a define: “[o] aspecto da Sua bondade, em virtude da qual Ele suporta o obstinado e o malvado apesar de sua persistente desobediência”. Esta paciência é revelada no adiamento do juízo merecido sobre o pecador.

A paciência e o amor de Deus não podem ser separados de forma alguma. O amor de Deus está imbuído de sua paciência. Desde o dia em que o pecado habitou o mundo, Deus tem incontáveis motivos para ocultar totalmente seus atributos de nós. Ele poderia muito bem ter acabado com toda criação e nos deixado totalmente à deriva. Ele poderia ter nos entregado aos nossos pecados e delitos, poderia ter nos ocultado toda a beleza que há espalhada na criação. Mas não o fez  porque Ele é infinitamente paciente.

Bilhetes da paciência de Deus

As nossas faltas contra Deus são geralmente conscientes e propositais. Dificilmente alguém mente sem querer. Dificilmente alguém trai, engana, agride ou faz qualquer outra coisa sem ter a consciência de que é algo errado. E ainda que nem todas as nossas falhas sejam conscientes, o Senhor deixa claro que não há ninguém que seja indesculpável, pois todos pecaram e carecem igualmente da graça de Deus. Caímos em Adão e lidamos com os efeitos dessa queda ainda hoje. Mesmo que já tenhamos sido libertos do poder do pecado sobre nós, vez ou outra escorregamos e caímos. E como que Deus age em relação à isso? Sendo paciente.

É de urgência entendermos que nada do que temos merecemos. Mesmo quando julgamos pelas lentes do descontentamento, quando pensamos que merecíamos ter mais do que temos, se entendêssemos que não merecíamos uma gota sequer do oceano de graça em que estamos mergulhados, muita coisa seria diferente.

Dia após dia desfrutamos das maravilhas de um Deus que é totalmente paciente conosco e com nossas faltas.

Acordamos e as misericórdias do Senhor já se renovaram naquela manhã. Então levantamos e ao tomarmos nosso café provamos que dormimos e acordamos em paz porque o Senhor nos sustém e cuida de seus amados enquanto eles dormem. Em nosso trabalho, seja ele dentro ou fora de casa, desfrutamos da capacidade e habilidade que Deus nos deu em fazer tantas coisas distintas e maravilhosas. Quando fazemos nossa refeição, lembramos que o pão de cada dia não nos falta. Ao não sermos consumidos pela ira de Deus, compreendemos a oração por perdão de nossas transgressões respondida graciosamente, dia após dia. O céu azul, a diversidade de cores, sabores, frutos, animais e tudo que existe, são bilhetes de Deus nos lembrando de sua paciência. Se Ele não fosse tardio em se irar, não desfrutaríamos de nenhuma boa dádiva do Senhor, porque nós não as merecemos.

Como Cristo é

Jesus Cristo é Deus encarnado, logo, todos os atributos de Deus estão revelados naquele que é a imagem do Deus invisível. A paciência encarnada andou entre nós. Suportou pessoas insuportáveis. Amou pessoas que não mereciam. Riu com pecadores. Comeu e bebeu com os marginalizados. Ensinou os que não queriam aprender. Buscou os que não o procuravam. Dia após dia, de forma incansável, Ele exerceu a paciência de Deus que é tardia em se irar. Sabemos que não lhe faltou motivo. Sabemos que todos os seus dias em 33 anos Cristo teve no mínimo um motivo para se irar. Mas Ele foi paciente com as pessoas e com as circunstâncias. Com pecadores, com mestres da lei, com prostitutas, com a alta classe, com pobres, com ladrões. Ele foi como Deus é – infinitamente paciente.

Cristo não se irou com as faltas cometidas contra Ele. Céus! E como cometemos faltas contra Ele! Ele não se irou quando mentiram a seu respeito e planejaram prendê-lo, e mata-lo posteriormente. Não se irou com as calúnias. Não se irou com os inimigos. Foi tardio em se irar no momento mais doloroso de toda sua vida. Na cruz, Cristo nos disse de forma clara que é infinitamente paciente quando salvou o ladrão que estava crucificado ao seu lado. Pediu que Deus Pai perdoasse todos aqueles que estavam se divertindo às suas custas naquele momento. O pior e melhor momento de toda nossa existência  —  o Filho de Deus crucificado em oferta para perdão de nossos pecados  —  só existiu porque Deus é paciente.

Será que eu e você também não poderíamos ser um pouco mais como Ele é? Será que não podemos nós pedir que Ele nos ajude a lidar com as pessoas que nos tentam à ira? Não estamos pregadas em nenhuma cruz, não poderíamos nós também perdoar como Jesus perdoou aquele ladrão? Será que não poderíamos impedir que o vulcão da ira não entrasse em erupção toda vez que uma falta é cometida contra nós, quando alguém anda lentamente em nossa frente, ou quando mastigam muito alto, ou quando nos magoam de alguma forma?

Jesus Cristo, nosso amado Salvador, com paciência suportou todo sofrimento da cruz. Enfrentou com paciência todo tipo de pecador. Foi paciente em toda circunstância. Não podemos nós também? Sim! Pelo poder de Cristo que foi totalmente paciente, podemos nós também o imitarmos nisso. Não com a nossa própria força ou habilidade  —  nós não podemos por conta própria. Mas podemos confiar com toda a certeza naquele que tudo suportou pacientemente. Podemos pedir e confiar que seu Espírito nos aperfeiçoará em toda boa obra.

Porque Jesus Cristo foi tardio em se irar, nós vimos a gloriosa paciência de Deus manifestada na cruz do Calvário. E aguardamos pacientemente pelo dia em que o veremos face a face. Aguardamos pacientemente pelo dia em que a criação será redimida. Esperamos pacientemente por nossa completa santificação. Isso tudo só não aconteceu ainda porque Ele é paciente:

“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” 2 Pedro 3:9 (NVI)

Enquanto respirarmos é tempo de arrependimento. Ainda hoje podemos clamar ao Deus de toda paciência e entregar a Ele tudo o que somos porque sabemos que Ele tem sido paciente conosco. A paciência nos convida a irmos até Ele e confiarmos nele para nossa salvação e santificação. Porque Deus é tardio em se irar, nós podemos hoje desfrutar da beleza de todos seus atributos e descansar. Que a paciência seja uma virtude evidente entre as filhas de Deus!


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Junho/Julho com o tema “Atributos Comunicáveis de Deus”. Para ler todos os posts clique AQUI.