Solteira no dia dos namorados

Solteira no dia dos namorados

Dia dos namorados.

Enquanto para muitos esse é um dia muito esperado, para outros é o pior dia do ano.

Sabendo disso, eu quis chamar as meninas do Graça a não passarem esse dia sozinhas, mas juntas em um bate-papo online. Você pode assistir ele todo (a gente conversou por mais de duas horas!), ou pode ler o transcrito da mensagem compartilhada aqui.

De qualquer forma, se esse foi um dia difícil pra você (e se o é todo ano) eu espero, de coração, que esses pensamentos possam acalmar o mar agitado do seu coração.

Eu sei que o dia dos namorados é um dia complicado, que afeta muitas de nós, que não têm com quem compartilhá-lo. Por vezes nós somos fortes, e dizemos que não somos afetadas de maneira nenhuma, mas eu sei que no fundo, aquela parte mais sensível do nosso ser está em dor, em dúvida, se perguntando “será que ano que vem esse dia será diferente pra mim?” Para além da questão monetária que esse dia traz, da agenda mundana e comercial, eu sei que ele também traz um sentimento profundo de solidão e de nos sentirmos incompletas.

Foi por isso que quis me juntar a vocês nesse dia. Ele não precisa ser cheio de dor, de ressentimento, de solidão. Quando estamos juntas aqui estamos provando que não estamos só. Não ter um namorado não equivale solidão.

A comunidade é algo exaltado pela Bíblia em vários momentos, e nós sabemos que, como humanos, precisamos uns dos outros. Mas, existem muitas outras pessoas em nossas vidas que preenchem o lugar dessa comunidade, que nos auxiliam e suportam. Se não temos isso em nossa família de sangue o temos na igreja, nossa família de alma. E esse bate-papo online é uma reunião de várias dessas suas irmãs de alma, irmãs em Cristo, todas com o mesmo propósito. E qual é ele? Certamente não é sermos felizes. Certamente não é a busca por sermos relevantes. Certamente não é na vontade de encontrarmos coisas boas em nós mesmas pra nos sentirmos válidas.

A comunidade que eu quero construir com o Graça tem uma coisa em comum, e isso é a busca por fazer Cristo grande e nós mesmas pequenas.

E é nesse ponto que nós nos encontramos, é nesse ponto que convergimos – apesar de nossas diferenças, de personalidade, de cenários e contextos sociais – é nisso que nos parecemos: nessa vontade de fazer Cristo conhecido e glorificado em nós.

É por isso que estamos juntas aqui hoje. Cada uma de nós traz sua dor, suas dúvidas, suas angústias. Cada uma trazendo suas memórias quebradas, de relacionamentos que não funcionaram, trazendo nossas frustrações. Talvez até trazendo esse desejo amargo de nunca mais estar em um relacionamento.

Eu não sei onde você se encontra e nem o que te trouxe até aqui, mas eu sei que esses sentimentos são normais de SER humano. Eu não quero subestimar sua dor em estar sozinha hoje. Eu não quero te dizer que isso não é válido. Não quero dizer que essa amargura que você talvez sente contra Deus por causa de sua solidão seja algo que você precise engolir. Mesmo porque Jesus não faz isso. Ele te encontra na sua dor e te suporta em meio à sua bagunça. Mas, eu quero que possamos trazer nossas dores e angústias e ao invés de reclamarmos juntas e fazer desse bate-papo um “muro das lamentações”, que possamos, cada uma de nós, trazer nossas dores aos pés da cruz e, juntas, colocarmos nosso fardo todo ali. Que possamos, juntas, depositar nossa solidão aos pés da cruz e aceitar nossa vida como ela é, como Deus a fez, e vivê-la em abundância, sem amargura pelo hoje e desejo não saudável pelo amanhã.

Quero viver a vida que Deus me deu sem amargura pelo hoje e desejo não saudável pelo amanhã. Click To Tweet

  • Como você enxerga a solteirice?

Eu quero te perguntar uma coisa: como você enxerga a solteirice em sua vida? Ela é apenas uma parte de quem você é, ou ela define quem você é? Você sente que deixa de fazer muitas coisas porque pensa que “quando aquele alguém chegar” você as fará? Você tem deixado de ser o que sempre quis, porque se sente incompleta e, portanto, incapaz? Você tem enxergado a solteirice como uma etapa da vida a ser superada?

  • A cultura do “amigo cupido” e a corrida ao casamento

Infelizmente, existe uma tendência nas igrejas evangélicas de tratar a solteirice como uma fase que passará e que, enquanto não passa, a pessoa precisa ficar esperando, quase que como em um limbo. Existe uma pressão nada saudável em cima dos solteiros para entrarem em relacionamentos apressadamente, sem sequer ponderar muito ou orar sobre, porque afinal de contas “o tempo está passando” e o “relógio não pára”, e o casamento é o que é “esperado de nós”. Essa visão faz com que muitos membros de igreja pressionem os solteiros de forma até mesmo a criar “casaisinhos” que eles mesmos pensam que dariam certo, trabalhando como verdadeiros cupidos.

Essa corrida rumo a um casamento, que infelizmente muitas igrejas promovem, deixa cicatrizes pelo caminho.

Corremos desenfreadamente, pensando que o casamento é o grande prêmio que nos aguarda na linha de chegada, esquecendo que a verdadeira coroa do crente é Cristo. É Ele nosso grande alvo.

O casamento não é o prêmio que nos aguarda na linha de chegada da vida cristã. Cristo é. Click To Tweet

Acabamos indo de um relacionamento para o outro, na esperança de encontrar alguém que finalmente preencherá todos os nossos requisitos, nos esquecendo de que não existe perfeição fora de Cristo. E vivendo nessa busca por “vapor”, acabamos nos machucando e machucando outros, pensando que relacionamentos significam “a busca do perfeito” e não “o crescer com o imperfeito”. Não somente nós corremos como loucas atrás de um relacionamento, mas quando nos encontramos em um nos descobrimos insatisfeitas. Quem é esse com quem estou? Como ele pôde fazer isso ou aquilo? Eu não aguento isso, preciso me separar.

Na busca cega por um casamento, descobrimos a verdade sobre nós mesmos: sim, nós somos incompletos; e sim, nós queremos nos sentir amados por alguém perfeito. Mas a resposta pra esses dois anseios JAMAIS serão encontradas em um casamento. O nosso vazio só pode ser preenchido pela perfeição de Jesus Cristo. Porque Ele, mesmo sendo Deus, olhou pra nós, tão humanos, tão pequenos, tão quebrados, e escolheu nos amar. Ele diz “eu te amo. Eu te amei desde a eternidade”. Ele que, sendo perfeito, se colocou como um muro entre a ira de Deus Pai, e o caos e a corrupção de seres imperfeitos. Esse Deus perfeito diz que nos ama, que nos quer. Quando nós corremos pra cruz de Cristo com toda a nossa dor, Ele nos acolhe e diz “em mim há salvação. Achegue-se a mim, porque meu fardo é leve e suave, e eu carrego suas dores contigo”. Naquela cruz há salvação pra sua alma atribulada e dolorida. Naquela cruz há resposta pra todo o seu vazio.

  • A espera

Mas, a espera por alguém humano que compartilhe a vida conosco pode ser excruciante, eu sei. Por mais que o amor de Cristo seja perfeito, nós ainda sentimos a vontade de ter alguém aqui, alguém “real”.

Mas essa necessidade só dói tanto porque acreditamos, com todo nosso coração, na mentira de que somos seres incompletos que serão preenchidos por um parceiro. Se já temos a Cristo, temos tudo o que precisamos para preencher-nos. Se perdermos tudo, mas ainda tivermos Cristo, ainda temos tudo. Além disso, como eu disse no começo, Ele nos dá outras pessoas para carregar a vida conosco, nossa família espiritual, nossos irmãos e irmãs em Cristo, e aqui entra até mesmo nossa comunidade aqui do Graça – nós temos umas às outras. Eu quero ser uma amiga pra vocês, nos momentos de alegria e de tristeza. Quero que a gente cresça juntas, que isso seja mais que um blog, que seja um verdadeiro ajuntamento de amigas que querem a ver a glória de Cristo na vida umas das outras.

Mas talvez você diga, “Senhor, se não queres que eu me case, se não vais enviar alguém, por que não tiras de mim esse desejo, essa vontade de casar?”. Querida, você se lembra quando Paulo fez uma pergunta parecida ao Senhor? (Leia 2 Co. 12:7-10 – https://www.bibliaonline.com.br/nvi/2co/12/9+)

Paulo tinha um grande ministério e responsabilidade nas mãos – o Senhor o enviou para pregar o evangelho aos gentios, ao povo que Ele havia escolhido para ser Seu. Mas Paulo tinha um problema, algo que ele chegou a chamar de “espinho na carne”, algo que até mesmo atrapalhava seu ministério, sua missão. Então fazia sentido que Paulo chegasse ao Senhor com suas dúvidas e dissesse “Deus, se me queres nesse ministério, se tens me dado essa missão, porque não tiras de mim esse problema que tanto me atrapalha?”. Mas a resposta de Deus foi muito além das dúvidas e necessidades imediatas de Paulo. Deus disse “Filho, a minha graça te basta”.

Querida, a verdade é que eu não sei porque Deus te permite ter desejos de casamento e maternidade, e não envia alguém com quem você possa viver esses sonhos. Mas o que eu sei é que a resposta dEle é a mesma para você: a graça dEle te basta. O poder dEle se aperfeiçoa na sua fraqueza. As lições que Ele quer te ensinar, sobre paciência, sobre confiança, sobre busca de preenchimento e alegria somente nEle, são preciosos presentes que você não pode desprezar.

Ele pode estar te privando do que você quer para formar em ti o caráter de Cristo que diz, “seja feita a TUA vontade”.

Relacionamentos significam 'crescer com o imperfeito' e não 'a busca do perfeito'. Click To Tweet
  • A solteirice é proposital

Eu gostaria que você saíssem desse bate-papo acreditando, de coração, que Cristo ama vocês. Que o fato de estarem solteiras nesse dia dos namorados não prova o contrário. Ele continue te amando, e você continua exatamente onde Ele te quer. Sua solteirice não é acidental. Deus não “piscou” e, sem querer, você permanece solteira há tanto tempo.

Sua solteirice é absolutamente PROPOSITAL. Se nos declaramos Reformados, crentes na soberania total de Deus, então precisamos crer que Sua soberania também abrange a área amorosa. Declaramos com nossa boca que cremos em Deus como Rei de tudo, mas em nosso coração continuamos acreditando que Ele perdeu o controle nessa área específica, e queremos “ajudá-lo”, pegando a caneta e tentando escrever nossa própria história.

Enquanto continuarmos acreditando na mentira do inimigo de que apenas as pessoas casadas podem ser completamente eficientes e usada em prol do Reino, permaneceremos inúteis para o Reino. Paulo nos diz justamente o oposto: a pessoa solteira tem mais tempo para se dedicar às coisas do Senhor. (Leia 1 Co. 7:8; 28; 32-35 – https://www.bibliaonline.com.br/nvi/1co/7).

O que podemos tirar desse texto, em sua essência, é que a solteirice não deve ser tropeço ou impedimento para a obra do Reino, mas pelo contrário, é uma posição que nos dá liberdade para agir com ainda mais eficácia para o Reino.

  • A solteirice à luz da eternidade

A grande questão aqui é: precisamos olhar a solteirice em relação à ETERNIDADE. Pense nisso: nossa vida é como uma grande e longa corda, com muitos nós. O intervalo entre o começo da corda e o primeiro nó, aquele espacinho tão pequeno, é nossa vida terrena. Todo o resto da corda, os muitos e muitos metros que sobram, são a eternidade. Como disse Anne Ortlund, nós temos pouco tempo de vida aqui para definir toda a nossa eternidade.

Se começarmos a olhar a vida com esses olhos, pensando na rapidez da vida física, e eternidade da espiritual, então a solteirice vai se desbotando e Cristo e Seu Reino vai ficando cada vez mais fortemente pintados em nossa mente. Começamos a pensar: de que importa estar solteira? Eu quero mais é ir viver uma vida que acumulará almas e tesouros no Céu. E pensando assim começamos a ser realmente úteis para o Reino. Ficaremos tão ocupadas em servir que nem teremos tempo para amargurar a solteirice.

E então, queridas… Vamos viver vidas ocupadas com a eternidade? Vamos ser úteis para o Reino HOJE?

Amo vocês em Cristo.
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