Sobre o desespero ante um mundo caído

Tem dias que não dá. Tenho vontade de jogar tudo pro ar. Olho ao redor e o mundo desaba, com todas as suas malícias e sua dor e seus pecados. E eu tenho vontade de, como o apóstolo Paulo fez, declarar que partir e estar com o Senhor é incomparavelmente melhor. Porque esse mundo jaz no maligno. Esse mundo é podre. Esse mundo é fétido. E tudo ao redor é sujo e caído e me deixa enojada.

No mesmo dia em que quis e tentei ao máximo ver a beleza, recebo notícias tão assustadoras e grandes que parece que nada mais tem beleza. Parece que o cantar dos pássaros, e a casa das formigas e o iluminar do sol na água perderam todo o encanto que admirei agora há pouco.

E é tanta pobreza. É tanta fome. É tanta morte. É tanta desgraça. É tanto desamor.

Que assusta. A tortura dos pequenos corpos. A imponência diante dos maus tratos. As mãos atadas diante do mal agindo. E a vontade é de cair e não mais levantar. É de fechar os olhos e ignorar, porque concordo com o escritor de Eclesiastes: quanto mais sabemos, mais triste somos.

E eu já não posso mais. Tudo em mim grita: ATÉ QUANDO? Senhor, até quando… Estou como Habacuque. Grito ao Senhor “violência!”, mas Ele parece surdo. Ainda ontem orei e clamei e pedi por tudo isso. E hoje mais caos e mais dor e mais sofrimento. Até que ponto sou responsável pela alegria do meu próximo? Quando a dor é causada por mim, compreendo. É minha culpa, minha responsabilidade em consertar e buscar perdão. Mas, quando não vem de mim. Quando eu não tive culpa, quando não tive sequer conhecimento, e então? Até que ponto eu posso ajudar, Senhor? Eu já nem sei mais.

E então me fecho. E em me fechar parece que vejo melhor. Enquanto eu olho ao redor eu me assusto e vejo toda essa escuridão que consome alguns – não todos. Mas, quando olho para dentro, vejo essa escuridão tão grande em mim, esse buraco profundo, esse poço sujo. E eu percebo que em mim há também tão grande sujeira. Não, meu pecado não se refletiu como o de outros. Não, eu não feri fisicamente. Não, nunca matei. Não, nunca torturei.

Mas, já apunhalei com palavras. Já senti o calor do ódio no coração. Já tive vontade de gritar, de abominar, de ferir com berros.

Ah, o pecado em mim tem outras formas… Mas, está lá. Tão aterrorizante e profundo e condenável quanto o deles. E meu futuro e minha herança é igual à deles.

Eu, com todas minhas malícias e dores e pecados, rumo à condenação eterna, ao fogo que nunca diz basta.

Só no fim de tudo isso vejo luz. Vejo A luz. Se não fosse por esse Clarão que nos cega e nos faz ver nova realidade, eu já teria desabado. Pessimista crônica, não conseguiria ir em frente, por vezes, não fosse essa Mão tão poderosa que continua regendo tudo. Do Seu trono Ele vê tudo. E Ele julga.

Se não fosse por esse Clarão que nos cega e nos faz ver nova realidade, eu já teria desabado. Click To Tweet

E como Habacuque, pareço receber resposta: Deus vem. Em meio à tristeza, em meio à angústia. Ele vem, Ele vem. Ainda que pareça demorar e pareça atrasado, Ele vê, Ele considera e Ele vem. Vem com paz, vem com alegria, vem com beleza. Quando tudo cai, Ele traz bálsamo que cura. Ele é o bálsamo que cura.

Continua doendo? Sim. Continua confuso? Sim. Mas, o desespero vai embora. O medo vai embora. A vontade de vingança vai embora.

Diante de tudo eu me prostro e me humilho e confesso: meu Deus, Tu reinas soberano.

____________________________________

Há algumas semanas postei minha primeira escrita livre, chamada Ameba. Na verdade, ela veio depois dessa que foi, realmente, minha primeira escrita livre (meu hábito de sentar e escrever livremente, e sem edição, por 20 minutos). Sempre exponho meu coração nesses momentos.

Precisei dar uma pausa na série Meninas como Nós porque vou viajar essa semana e não consegui fazer as pesquisas e tirar o tempo necessário que escrever essa série demanda.

Mas, esse texto expõe meu coração sobre a série Meninas como Nós. Expõe o que tenho sentido e pensado nesses dias. Espero que edifique vocês.

Em Cristo,
assinatura