Seja boa, menina! (A Bondade de Deus)

Quando pensamos em quem Deus é e como Ele se apresenta a nós, podemos defini-Lo com base em algumas características reveladas nas Escrituras como bondade, graça, amor, onisciência, onipotência, onipresença, imutabilidade, eternidade, fidelidade, justiça, dentre outras. A essas qualidades específicas a teologia dá o nome de atributos.

Os atributos de Deus podem ser divididos em comunicáveis e incomunicáveis. Os comunicáveis são aqueles que podem ser transferidos para as criaturas, como bondade, graça, amor, justiça, misericórdia. Já os incomunicáveis são aqueles que pertencem somente ao Senhor como por exemplo soberania, onisciência, imutabilidade, autoexistência.

Na sequência de textos que aqui se inicia trataremos dos atributos comunicáveis de Deus e como refleti-los em nossas vidas. Para começar, falaremos sobre a bondade. Aprendamos, pois, com Aquele que carrega a bondade em Sua essência.

Deus bom: o exemplo do Pai

“Deus é bom o tempo todo, o tempo todo Deus é bom”. Sempre que penso na bondade do Pai essa famosa frase do filme “Deus não está morto” me vem à mente. Deus é um Ser único, absoluto, total e independente. Todas as faces de Seu caráter são completas e definem o Seu ser. Dessa forma, quando refletimos sobre quem Deus é, chegamos ao fato de que é totalmente amoroso, justo, misericordioso e bom, em um grau inimaginável, visto que dimensionamos essas características apenas pelo modo limitado do qual somos capazes de exercê-las.

Não há uma parte do Ser de Deus desprovida de bondade, sendo Ele a fonte de toda ela. Ele é total, imutável e eternamente bom; não pode deixar de sê-lo ou diminuir sua intensidade. Tudo o que provém dEle é bom: sua Palavra (1Tm 1.8), sua vontade (Rm 12.2), a criação e o homem (Gn 1.31). A bondade divina permeia tudo ao nosso redor, inclusive nossas vidas.

Nem mesmo a entrada do pecado no mundo abalou ou diminuiu o quão bondoso Deus é, pelo contrário. Após a queda, ao invés de aniquilar e condenar totalmente o homem, ainda no Éden, a bondade divina foi demonstrada na promessa da vinda de um Redentor que derrotaria todo o mal (cf. Gn. 3:15).

Em seguida e ao longo da história, o Deus Bom se fez presente preservando o povo que escolheu para Si (os israelitas), guardando-o no deserto, livrando-o de perigos, levando-o a uma terra prometida, suprindo-lhe as necessidades, estando presente em seu meio através do tabernáculo e do templo, falando por intermédio dos profetas e purificando-o pelo ofício dos sacerdotes. São incontáveis as vezes, somente no Antigo Testamento, em que observamos a bondade de Deus sendo derramada sobre os Seus.

A expressão máxima da bondade divina direcionada a um povo pecador foi a vinda de Cristo ao mundo, a “boa nova de grande alegria” (cf. Lc 2.10, grifo meu).  O Pai a expressou pelo fato de, ao invés de destruir aqueles que O desobedeceram na pessoa de Adão, dar-lhes uma nova chance por meio da obediência perfeita do Segundo Adão – Jesus. O Filho, por sua vez, a demonstrou ao aceitar se humilhar à condição de criatura, sofrer e morrer em nosso lugar para que fôssemos readmitidos na Presença do Pai. O Espírito a explicita quando vem habitar em seres humanos falhos e pecadores e, diariamente, os ajuda em seu processo de santificação.

Os novos céus e a nova terra são também evidências da bondade de um Deus que não deixará seus filhos para sempre em um mundo caído, cheio de sofrimentos, maldade e mazelas. Eles têm um bom lugar preparado onde desfrutarão de sua Presença eternamente, onde não haverá lágrimas, morte e dor (cf. Ap 21.4). A bondade do Senhor se estende de eternidade a eternidade, do Éden à Nova Jerusalém, e nenhuma fração de tempo ou milímetro de espaço escapam ao alcance do Deus Bom.

A criação também é abraçada pelo Bondoso Criador. Ele cuida de suas obras, embora amarguem os efeitos do pecado: Deus alimenta os animais, veste as flores de pétalas coloridas, renova as folhas das árvores, faz a semente germinar, rega a terra com chuvas e envia o Sol para a aquecer. Como constatou o salmista, “toda a terra está cheia da bondade do Senhor” (Sl 33.5b).

Há registros da bondade divina no cotidiano do homem. A provisão de alimentos tão diversificados, a riqueza de cores e detalhes presentes na natureza que alegram os que olham para ela.  As estações climáticas que fornecem ambientes equilibrados e nos livram do calor e do frio constantes. Deus nos deu não somente os cinco sentidos, mas uma variedade de aromas, sabores, vistas, sons e texturas. Deus nos sustenta e nos livra do mal de formas que sequer imaginamos.

Deus nos deu corpo e mente capazes não somente de sentir, mas de reproduzir também tamanha bondade. O homem foi feito à imagem e semelhança de seu Criador. Isso significa que nele foram impressas características morais e espirituais que refletem o caráter de Deus e não são encontradas em nenhuma outra criatura. A chamada imago Dei, ou imagem de Deus, foi implantada em Adão e transmitida a todos os homens e mulheres.

Considerando tudo o que o Senhor fez, faz e fará por nós, e espelhando-nos em Cristo, podemos e devemos ser boas pessoas. O exemplo perfeito de Jesus aqui na Terra emana essa característica. Um olhar atento, mãos de misericórdia, palavras de vida e cura, sempre disposto a apontar o caminho correto e perdoar os que lhe ofendiam. A cruz disparou bondade: nela o Filho assumiu nosso lugar, carregou nossa culpa, recebeu a justa ira do Pai destinada a nós, morreu a nossa morte e nos deu sua vida eterna e abundante!

Vivendo a bondade: a imitação das filhas

 “Seja uma boa menina!” 

Para muitas de nós essa fala é familiar e remete a nossos pais nos ensinando a sermos pessoas gentis e agradáveis desde a infância. Porém, à medida que temos nossas mentes iluminadas pelo Evangelho, aprendemos que devemos ser boas não apenas porque faz parte das regras de boa conduta, mas porque é a única resposta aceitável diante de tudo o que recebemos graciosamente de nosso Senhor. Como diz Jen Wilkin em seu livro “Renovadas”, p.65:

“A bondade é a marca registrada daqueles que tomam a decisão de ser luzes nas trevas, como filhos de seu Pai celestial. Esse é o cartão de visitas de todos os que receberam a generosa boa-nova da salvação por meio de Cristo.”

Se alcançamos graça quando o que merecemos é condenação, por que tratarmos o nosso próximo de modo diferente? Se Jesus suportou ofensas injustamente, por que eu revidaria ao que me afronta? Se o Salvador foi até a cruz por mim, por que eu não andaria a segunda milha com e por meu irmão? Se Ele deu pão ao que teve fome, por que a necessidade do meu semelhante não me leva à compaixão? Se atos de bondade inundam nossas vidas comuns, não há outra forma de viver a não ser compartilhando tudo isso com as pessoas ao nosso redor.

Além disso, quando agimos dessa forma glorificamos o nome do Senhor. Sabe quando te elogiam e dizem que você lembra alguém? Quando seguimos pelo caminho da bondade, somos filhas que espelham e tornam evidente a outros a imagem de seu Pai. Fazendo uso novamente das palavras de Jen Wilkin:

“Não basta ser boas ‘pelo amor da bondade’ – temos de ser boas pelo amor de Deus, cuja bondade desfrutamos todos os dias. Temos de persistir na bondade […] A luta pela bondade é algo que demanda tempo e esforço […] E, quando o fruto amadurece, marca-nos cada vez mais como filhos e filhas do Pai das Luzes” (p.67).

Querida irmã, não poderia terminar este texto sem dizer que nem sempre a bondade divina se manifesta como esperamos. Mesmo que de forma inconsciente, costumamos ter uma definição que se restringe a coisas agradáveis e momentos felizes, mas o Senhor nos ensina que nem sempre é assim. Voltemos nossa atenção para a cruz. O que ser humilhado publicamente, ter os pés e mãos cravados no madeiro, o lado perfurado e uma morte degradante poderiam ter de bom? Essa é a pergunta que nos fazemos olhando do lado de cá. Agora erga os olhos e tente vislumbrar o plano de Deus: somente pela morte do Filho amado, todos os outros filhos poderiam ter vida eterna. Toda a ira amarga teria que ser derramada sobre o Cordeiro perfeito, para que a graça pudesse superabundar sobre muitos. Apesar de toda a nossa maldade e afronta, o Senhor permanece bom conosco. É isso que a cruz declara.

Como a história do nosso Salvador muito bem mostra, há momentos em que Deus nos parece ser tudo, menos bom. Questionamos, nos contorcemos, choramos, sofremos, gritamos. Dói, como dói. Chegamos a dizer como Jesus, “Deus meu, Deus meu! Por que me desamparaste?”. Mas olhe para cima, olhe para dentro da Palavra, lembre-se de que “Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito” (Rm 8.28).

 Tenha em mente quem Ele é. Antes de você nascer e depois que deixar de existir, Ele é totalmente bom. Imutavelmente bom. Maravilhosamente bom. Eternamente bom. “Ele continua sendo Bom, Ele continua sendo Deus”, como diz a canção de Paulo César Baruk.

Seja boa, menina! Siga pelo caminho aberto por seu Pai, que plantou bondade em você e te ensina pelo exemplo a derramá-la por onde passa, até que se encontre no lugar onde possa desfrutar, sem a interferência do pecado, de bondade sem fim.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Junho com o tema “Atributos Comunicáveis de Deus”. Para ler todos os posts clique AQUI.