A Reforma ainda é importante?
Eu me lembro de aprender sobre nomes como Lutero e Calvino em uma escola secular, no Ensino Médio. No contexto das aulas de História aqueles homens e suas vidas eram como livros e monumentos cheios de pó, que nós estudávamos de longe, em grande parte apontando seus erros e os malefícios que eles trouxeram à Europa.
Mas para os cristãos protestantes a Reforma não é um capítulo na História da humanidade que precisa ser visto de longe. O brado da Reforma Protestante ainda ecoa em 2017, alto, quente e vivo.
O brado da Reforma Protestante ainda ecoa em 2017, alto, quente e vivo. Click To TweetMesmas perguntas – a Reforma para além da igreja
As dúvidas que existiam no século XVI, que culminaram com o jovem Lutero pregando suas 95 teses na porta de Wittenberg em 1517 ainda ressoam hoje. Foi o medo da morte que levou Martinho Lutero ao monastério, e foi através das boas obras e disciplina forçada que ele pensou poder comprar o Céu. Essas dúvidas sombrias ainda existem na mente das pessoas de 2017, ainda que mudadas, com outra roupagem. Hoje não buscamos o Céu pelas indulgências, mas pensamos não precisar pensar na eternidade, vivendo o “Paraíso” aqui e agora. O movimento liberal que nos cerca, cheio de suas contradições e relativismos, tem as mesmas raízes que as dúvidas de Lutero no século XVI. Ainda estamos com medo de encarar a realidade de que somos seres caídos, que precisam de uma só Verdade, uma remissão completa e absoluta, para nos mostrar a saída de nossa condenação eterna.
E se as dúvidas e ponderações da época da Reforma são as mesmas de hoje, assim também as necessidades são as mesmas. Ainda precisamos de uma solução, de algo que nos salve de nós mesmos, da escuridão desse mundo. Quando tragédias como furacões e tiroteios em massa ocorrem, as pessoas são obrigada a encarar a realidade de que ainda precisamos de uma solução, que a humanidade não tem respostas eficazes em si mesma.
Liberdade que ainda é necessária
Como movimento a Reforma ainda é importante não por seu valor histórico, mas por causa de sua essência (que ainda é real hoje): uma volta à Verdade Bíblica. Se ainda somos pecadores em 2017 então ainda precisamos desse movimento de volta ao Evangelho, ainda precisamos voltar a um Cristo que morreu para justificar seres humanos.
O escritor norte-americano Dr. Michael Reeves disse,
“Agora [2017] não é o momento de sermos tímidos sobre [o tema] da justificação, ou da autoridade suprema das Escrituras que proclamam [esse tema]. A justificação somente pela fé não é uma relíquia de livros de História; mas permanece ainda hoje como a única mensagem de liberdade última e definitiva.”
A resposta para os desafios de nossa época ainda é a mesma que Lutero encontrou – justificação pela fé. É somente através de uma crença total na autoridade de Cristo e de Seu sacrifício que podemos encontrar liberdade definitiva, mensagem que nossa geração da “liberdade de pensamento” procura silenciar a todo custo.
América Latina – a Reforma na igreja
Em seu artigo “Jovens, Inquietos e Reformados na América Latina” a jornalista Sarah Eekhoff Zylstra explica como a situação atual das igrejas de nossa região é tão propícia para as doutrinas reformadas. Os países da América Latina, o Brasil incluído, têm uma influência muito grande do pensamento animista, que vem de nossas origens indígenas. Uma vez que o movimento cristão chegou, muitos convertidos ainda mantiveram posições animistas, transferindo esse pensamento para a crença em revelações extra-bíblicas, como se Deus falasse ainda hoje por anjos, visões, sonhos, profecias, profetas, etc. Isso se confirmou ainda mais dentro do movimento pentecostal. Por isso vemos tantas pessoas se convertendo do Catolicismo (que ainda é a maior religião do país) para as crenças evangélicas, mas geralmente ainda sob uma influência carismática. Os evangélicos têm crescido no Brasil, sim, mas quantos deles creem em doutrinas saudáveis?
O Brasil se encontra, então, em um momento incrivelmente oportuno para uma volta à Reforma, que nada mais é do que uma volta às doutrinas bíblicas, aos cinco solas, às doutrinas da graça, à soberania de Deus e glória de Cristo.
Nós vemos, pela graça de Deus, um movimento de pregadores se levantando no Brasil para pregar o Evangelho da glória de Cristo, sem medo de ir contra a maré de pregações medrosas, que parecem temer falar de qualquer coisa que incomode o público.
A tecnologia tem grande peso nesse movimento. Sabemos que a Reforma Protestante teve grande ajuda do advento da impressão que facilitou a expansão das ideias, comunicando o Evangelho para muitos. E hoje nós vivemos em uma época em que a comunicação está mais rápida e com o maior alcance da História da humanidade. O momento é agora, e a internet é uma grande aliada a favor da expansão do Evangelho. Eu pessoalmente conheço muitos jovens que ouviram das doutrinas da graça pela primeira vez através do YouTube – as doutrinas da glória de Cristo podem hoje ser compartilhadas em uma extensão que Lutero jamais imaginou possível.
Então vemos que se a necessidade ainda existe e as oportunidades de comunicação são melhores do que nunca, então não podemos ser tímidos, como disse o Dr. Reeves. Esse é o momento de voltarmos ao Evangelho, de reconhecermos que ainda precisamos de uma contínua renovação, voltando sempre às Escrituras, vendo o que não se alinha à Verdade.
“Ecclesia Reformata, Semper Reformanda” era o tema – Igreja reformada, sempre reformando. Como Igreja de Cristo nós precisamos de um constante voltar ao Evangelho. Ainda hoje o Brasil precisa retornar às fontes das quais os Reformadores beberam, e encontrar a verdade bíblica, sólida e imutável de que Cristo ainda salva pecadores, pela fé somente.
“A Reforma não é um museu a ser visitado ocasionalmente em um ônibus de turismo. Ela foi e é um movimento pela verdade e vida na Igreja de Cristo.” (Dr. W. Robert Godfrey)
Fontes:
– “Young, Restless, and Reformed in Latin America”, Sarah Eekhoff Zylstra <https://www.thegospelcoalition.org/article/young-restless-and-reformed-in-latin-america>
– “Continuing the Reformation”, Dr. W. Robert Godfrey. Revista Tabletalk, Vol. 41, N. 10. Outubro de 2017.
– “Why the Reformation Still Matters”, Dr. Michael Reeves. Revista Tabletalk, Vol. 41, N. 10. Outubro de 2017.
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