Querida Flavinha, carta 5 – Como ser uma boa esposa

Essa série, “Querida Flavinha”, é uma compilação de cartas sobre casamento que estou escrevendo e enviando à minha prima, Flávia. Ela me permitiu postar o conteúdo no Graça com o objetivo de ajudar quem estiver, assim como ela, se preparando para o matrimônio. Essa é a Carta 5, sobre como ser uma boa esposa.

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Querida Flavinha,

Algumas cartas atrás te falei sobre como nós, mulheres, não fomos criadas com o objetivo final de sermos boas esposas, mas de glorificarmos ao nosso Criador. Isso significa que nossa identidade não está em agradar nosso marido mas a Deus. Creio que fosse importante deixarmos isso estabelecido e claro, lançando essa base, antes de prosseguirmos e nos aprofundarmos no que significa ser esposa. Meu objetivo nunca foi fazer com que você pensasse que ser uma boa esposa é ruim ou negativo, ou algo a se evitar, absolutamente! Mas sim, te relembrar de quem você é em Cristo em essência primeiro, para depois poder te trazer às partes práticas da vida, às partes práticas de “quem você é”. Digamos que eu quis fortalecer a raiz antes de falar dos frutos. 

Mas, vamos agora aos frutos! 

Ser esposa é uma benção. Creio que você acredite nisso uma vez que disse “sim” à proposta do Guilherme de estar com ele para a vida toda. Entretanto deixe eu reforçar essa ideia a você como alguém que de fato tem vivido essa realidade a quase três anos — ser esposa é, sim, uma benção! Eu acho muito importante isso ser ressaltado porque nós, como humanos, temos uma tendência pecaminosa de sempre olharmos o negativo e é fácil ouvirmos comentários, seja no salão de beleza ou no supermercado, sobre o quão difícil o casamento é, sobre como era melhor ser solteira, e outros absurdos. E aqui deixe-me dizer que eu entendo que, infelizmente, muitas mulheres têm experiências negativas em seus casamentos que as leva a tais conclusões. Não pretendo fingir entender ou desmerecer as dificuldades delas, especialmente daquelas que são abusadas ou maltratadas. Esse tipo de casamento machuca, endurece e caleja, e nós sabemos que não era o tipo de casamento que Deus tinha em Seus planos divinos. Quero, então, apenas dizer, de alguém que pela graça (sempre a graça!) tem vivido um casamento saudável, que ser esposa pode ser uma benção. Espero que isso te encoraje desde já.

E o que significa ser esposa? Como compreender o profundo mistério de nos apaixonarmos, deixarmos nossos pais e nos unirmos para sempre com um homem que há apenas alguns anos nós nem conhecíamos? Nós já vimos que a gênese do casamento se deu na gênese do mundo. O primeiro homem e a primeira mulher foram unidos por Deus, e foi declarado: o que o Divino une, não separe o humano. Quando você e Guilherme disserem sim no altar, estarão se unindo diante de Deus, portanto que homem nenhum separe essa união. E então, como que de repente, você terá esse novo título, essa nova responsabilidade: esposa. Sabe, você vai perceber que as primeiras vezes que disser “meu marido” as palavras soarão estranhas aos seus ouvidos. De repente esposa. De repente marido. 

Graças a Deus que Ele não nos mandou casar e então nos deixou à mercê de nossa própria sabedoria humana, buscando descobrir sozinhas como viver esse mistério. Não, a Palavra de Deus nos dá direcionamento, nos mostra o que fazer. Então voltemo-nos a ela nessa carta sobre como ser uma boa esposa.

“A mulher exemplar é a coroa do seu marido, mas a de comportamento vergonhoso é como câncer em seus ossos.” (Provérbios 12:4)

Esse verso de Provérbios me pegou de jeito um dia quando o li, e resolvi colocá-lo em um “post-it” na minha geladeira desde então. Câncer é uma palavra temida. Câncer é aquele mal inevitável que, quando chega, é difícil de ser tratado, por vezes impossível. Céus, eu não quero ser como câncer nos ossos, na estrutura, do homem que Deus me deu para amar (e creio que você também não)! Mas quando nos comportamos vergonhosamente é justamente isso que nos tornamos. Aos poucos os fazemos definhar, secar, morrer. Creio que a ideia aqui se alinha com aquela do outro provérbio, aquele do capítulo 21, que diz “Melhor é viver no deserto do que com uma mulher briguenta e amargurada.” Novamente, o autor não mede palavras, não tenta açucarar a verdade. A realidade é essa: é melhor morrer de sede e calor no deserto do que viver com uma mulher que envergonha, que sempre está amargurada e com atitude briguenta. 

Mas eu amo o contraste que o autor traz naquele verso inicial que vimos: a esposa que envergonha é como câncer, mas a exemplar é como a coroa do seu marido. Coroa. A ideia aqui não é somente beleza, mas orgulho. O rei tem orgulho e prazer em mostrar sua coroa, ela é o que mostra a todos ao redor quem ele é, sua importância e realeza. A esposa quando é exemplar se torna um prazer a seu marido, ela é a ele um motivo de honra pública. 

Mas, como ser uma esposa exemplar…?

“Uma esposa exemplar; feliz quem a encontrar! É muito mais valiosa que os rubis.” (Provérbios 31:10)

Bom, aqui vamos nós. Chegou a hora de falar da mulher de Provérbios 31. Eu não sei você, Flavinha, mas eu confesso que peguei certa aversão ao capítulo 31 de Provérbios, não pelo seu conteúdo em si mas pela insistência de muitos em que ele seja a única passagem de relevância a mulheres cristãs. E, claro, a culpa não é de Provérbios, mas nossa, humana. Somos nós que reduzimos as mulheres a uma passagem, não Deus. Ele escreveu a Bíblia toda para ser “útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” tanto para homens quanto para mulheres. Assim sendo, humildemente voltemos a Provérbios 31 como Palavra de Deus e analisemos, ainda que superficialmente, o que podemos aprender com essa passagem conhecida como a descrição da mulher virtuosa (ou exemplar). 

Eu acredito que uma das causas da aversão que muitas mulheres cristãs têm a essa passagem seja por causa da má interpretação da mesma. Olhamos para esse capítulo como uma lista de regras que, tão difíceis de serem acatadas, nos desanimam e esgotam. Entretanto, Provérbios 31 não é uma lista do que fazer, mas um ideal. Olhemos para essa mulher imaginária não como tudo aquilo que jamais seremos, mas como tudo aquilo que deveríamos tentar ser, de forma saudável, diariamente, com a ajuda do Espírito de Deus em nós que nos santifica. 

Nós poderíamos fazer um estudo aprofundado sobre essa passagem, mas nessa carta quero me ater a apenas retirar alguns pontos de aplicação prática para nós. Como a mulher ideal de Provérbios 31 nos ajuda e entendermos nosso papel como esposas?

Em primeiro lugar, ela nos mostra que precisamos ser confiáveis, buscando o bem de nossos maridos diariamente (v. 11-12). Isso significa que colocaremos as necessidades dele acima das nossas (Fl. 2:3-4) e não seremos egoístas — “meu tempo, minha preferência, meu conforto”.

Em segundo lugar, vemos a prioridade que a esposa excelente dá à sua vida espiritual. Ela sorri diante do futuro (não é ansiosa) e sabe ser sábia em aconselhamentos e ensinos (v. 25-26). A única maneira de vivermos dessa forma é se colocarmos nossas disciplinas espirituais como prioridade em nossa rotina, nos aproximando de Jesus de forma constante e íntima. 

Em terceiro lugar, a boa esposa é diligente e não preguiçosa (v. 13-17). Nada de acordar tarde, evitar as obrigações, preferir o conforto ao trabalho. Ela também é sábia com finanças (v. 16-19) e não desperdiça o dinheiro que tanto ela quanto o marido trazem à família via o trabalho. 

Em quarto lugar, esse exemplo nos mostra que a boa esposa é caridosa, preocupada não somente com o bem estar daqueles que Deus a deu para amar (marido e filhos, v. 21-22) mas também com aqueles de fora do seu lar, os necessitados e aflitos (v. 20). Ela não somente vê as necessidades e se preocupa, mas age de maneira a aliviar a dor dos outros de maneiras práticas. 

Por fim, nós vemos que a esposa que age de maneira exemplar tem como recompensa o louvor tanto dos seus amados (v. 28) quanto da sociedade como um todo (v. 31, novamente, vale lembrar que esse é um ideal não necessariamente real, nem sempre seremos elogiadas por agirmos de forma piedosa, especialmente em nossa sociedade de hoje). 

“Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver (…) Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada. Da mesma maneira, encoraje os jovens a serem prudentes.” (Tito 2:3-6)

Querida Flavinha, essa passagem me encoraja e desafia ao mesmo tempo. Por anos eu pensei que o que Paulo estava dizendo é que mulheres precisam ficar em casa e terem filhos para que só então a palavra de Deus não fosse difamada. Entretanto, nós sabemos que algumas das próprias mulheres que foram elogiadas pelo mesmo apóstolo Paulo, como Priscila e Lídia, não eram “apenas” do lar, como dizemos hoje em dia. Elas trabalhavam para além do lar, Priscila fazendo tendas e Lídia como vendedora de púrpura (o que era um ofício grandemente lucrativo, portanto Lídia era uma mulher de negócios). 

Por que eu busco trazer essa explicação e esclarecimento da minha crença distorcida de anos? Porque existem muitos sufocando mulheres, dizendo a elas que há somente uma maneira de viver que agrada a Deus, e que aquelas que não se encaixam estão desagradando ao Pai, quando a própria Bíblia elogia mulheres que não se encaixavam nesse padrão inventado (a mulher de Provérbios 31 mesmo trabalhava para além do lar – v. 16, 18, 24). Você se tornará esposa, mas como já vimos (e me perdoe se estou sendo repetitiva) isso não é tudo o que você será e não é o motivo pelo qual Deus se agrada em você. Há louvor e honra no lar, no casamento e na maternidade; e há louvor e honra nos ofícios, nos dons usados para a glória de Deus e benefício da sociedade. Louvor e honra no casamento e na solteirice. Louvor e honra em sermos as mulheres que Deus nos criou para ser em todas as nossas singularidades de experiência e vida. 

Flavinha, há verdade em Tito 2 que se aplica a você, claro, uma vez que está se preparando para casar. Você foi chamada a amar seu marido, os filhos que Deus porventura os dará, a ser prudente, pura, ocupada em casa, bondosa e sujeita ao seu marido (e nós já falamos de submissão em uma outra carta, então evitarei a repetição aqui). Todas essas virtudes devem ser almejadas e buscadas dentro do casamento, e Deus te dará graça pelo Espírito de ser transformada diariamente mais à semelhança de Cristo e para viver isso tudo na força dEle, e não na sua.

Querida, eu comecei essa carta dizendo que ser esposa é uma benção, e realmente o é. Eu espero, entretanto, que os versos vistos aqui tenham encorajado seu coração e te desafiado a desejar excelência nesse chamado para a glória de Deus; e não te feito desanimar pensando ser impossível ser uma boa esposa. Eu te garanto que, de fato, é impossível em nossa força. Nós somos tão, tão pecadoras. Mas na força de Deus, através do Espírito dEle que vive em nós, podemos ser a esposa que Ele nos chamou para ser. Há graça para os momentos em que cairmos, descanse nisso. Ninguém espera que você seja perfeita, apenas que viva com um constante desejar que Deus seja glorificado através de você. E isso basta.

Te amo e sei que você será uma boa esposa, pela graça e para a glória de Deus.

Sua prima,
Fran