Querida Flavinha, carta 3 – Autoridade e submissão no casamento

Essa série, “Querida Flavinha”, é uma compilação de cartas sobre casamento que estou escrevendo e enviando à minha prima, Flávia. Ela me permitiu postar o conteúdo no Graça com o objetivo de ajudar quem estiver, assim como ela, se preparando para o matrimônio. Essa é a Carta 3, sobre autoridade e submissão.

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Querida Flavinha,

Lembra quando a gente era criança e imitar era parte da vida? Nós imitávamos as Spice Girls, a Sandy, nossas primas mais velhas, nossas mães. Nós olhávamos para essas pessoas e as observávamos com atenção para poder reproduzir o que víamos da maneira mais próxima à realidade possível. Claro que nos era impossível reproduzir com perfeição cada parte, mas nós tentávamos porque reconhecíamos algo precioso nessas pessoas, algo que queríamos ser.

Quando a Bíblia nos apresenta a ideia de casamento, em Gênesis, nós não temos, à primeira vista, a noção de que essa instituição nada mais é do que uma imitação, uma sombra de algo muito maior. Mas na carta do apóstolo Paulo aos crentes da igreja de Éfeso nós podemos compreender o mistério do casamento. Eis o que Paulo diz,

“Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.” (Efésios 5:31,32)

Veja como Paulo traz o trecho de Gênesis em sua carta, mas agora apontando para o significado real que ele tinha — não era sobre o homem e a mulher, mas Cristo e a Igreja. O que significa dizer que o casamento é primariamente sobre Cristo e a Igreja?

Deus sabe que nós temos sabedoria limitada, como humanos. Por isso, creio eu, Ele instituiu muitas coisas em nossas existências terrenas que apontam para quem Ele é e o que Ele faz, de maneira que através dessas “imagens” nós possamos aprender mais sobre Ele. Um exemplo que eu sempre gosto de usar é o do ciclo da vida na natureza — uma semente cresce e vira uma árvore frutífera que então precisa deixar seu fruto cair e morrer para que outra semente seja fertilizada no solo, gerando uma nova árvore. Ou seja, morte que gera vida — essa é uma imagem, uma sombra do Evangelho. Jesus Cristo, Filho de Deus, morreu para gerar vida eterna naqueles que creem em Seu nome, e podemos ver essa verdade em algo tão simples (mas majestoso) como a natureza.

Dessa maneira também, o casamento é apenas uma imagem que aponta para algo sobre Jesus, nesse caso Seu relacionamento com Sua noiva, a Igreja. Quando nós pensamos sobre isso, compreendemos a ideia do “já mas ainda não”. Nós, como Igreja, somos amadas pelo Noivo. Já existe a certeza eterna do amor dEle por nós, que é inabalável e imutável. Entretanto, nós vivemos no “ainda não”, pois esse casamento ainda não foi consumado. É como se antes que pudéssemos ter subido ao altar, o Noivo voltou aos Céus e nós estamos aqui ainda, aguardando essa consumação. “Já mas ainda não” é a realidade de todo cristão. amados, mas ainda não vendo a face do Noivo. 

Por isso entendemos que o casamento é uma imagem de Jesus e da Igreja. E agora que compreendemos isso melhor, podemos falar sobre um assunto que, especialmente em nossa época, é muito conturbado e controverso — as dinâmicas de autoridade e submissão entre marido e esposa. Flavinha, nós vivemos em uma época em que a polarização política e de ideias cria uma separação enorme entre pessoas, quase que impossibilitando o diálogo. Nós precisamos nos posicionar firmemente ao lado da Palavra de Deus e da verdade que Ele nos revelou através dela, mas ainda assim é preciso que mantenhamos graça em nossas conversas com pessoas que discordam dessa verdade. Eu conheço seu coração e sua amabilidade, então creio que você não terá problemas com isso, mas ainda assim gostaria de reforçar essa necessidade que é grande em uma época tão incendiária como a nossa. 

A verdade é que muitos cristãos estão prontos para gritar que submissão é parte do casamento, mas poucos conseguem realmente explicar a raiz dessa ordem. Nós, como mulheres, somos chamadas a nos submeter a nossos maridos não porque eles seriam mais fortes, inteligentes ou capazes do que nós. Creio que muito do ódio contrário à essa ideia vem dessa distorção do real significado. Deus não instituiu as dinâmicas do casamento por acreditar que a mulher seja inferior ao homem. Ele mesmo nos criou de propósito e com propósito, como já vimos, e disse que Sua criação “era muito boa”. As dinâmicas do casamento existem porque representam algo maior que nós, ou seja, a dinâmica entre Cristo e Sua Igreja. Vejamos o que Paulo disse,

“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.
De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.
Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.
Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.
Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;
Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos.” (Efésios 5:22-30)

Flavinha, eu me preocupo sempre com extremos. Acredito que o chamado do cristão é ao equilíbrio em todos os assuntos. Por que te digo isso? Porque existem extremos em ambos os lados do tema submissão. Eu não quero que você, por um lado, se torne tão extrema em sua submissão que acabe virando um “capacho” do seu marido. Não é a essa submissão que fomos chamadas. Nós vemos Priscila, no Novo Testamento por exemplo, labutando pelo Evangelho ao lado de seu marido. Ela não sentava e o assistia, de forma silenciosa, servir e lutar pela causa de Cristo. Ela estava ao lado dele na luta, como irmã em Cristo. Por outro lado, também não quero que você risque submissão do seu vocabulário como se fosse uma palavra de maldição, como as filosofias do nosso tempo nos querem fazer pensar. Há beleza na submissão bíblica, quando ela é exercida com sensatez e um objetivo de glorificar a Deus (e não aos homens). 

E é claro, o que muitas pessoas que odeiam a submissão argumentam é que o marido usará tal prática para dominar sua esposa. Paulo (através da inspiração do Espírito) não deixa abertura para esse abuso. Logo após o chamado à submissão feminina, existe o comando “marido, amem suas esposas como Cristo amou a igreja”. E como foi que Ele amou Sua noiva? Amando-a até o ponto da morte. Amor sacrificial completo. Jesus nos ensinou que aquele governa deve ser o primeiro a servir (cf. Lucas 22:26). Ele mesmo lavou os pés de Seus discípulos. Isso não significava que Jesus abandonou Sua liderança sobre os discípulos — ainda estava claro a todos, mesmo naquele momento, quem era o líder. Mas Ele nos mostrou como os líderes exercem sua autoridade: com serviço e amor sacrificial. 

Em Gênesis, depois da queda, nós vemos os papéis do casamento se distorcerem: o homem ou vira um ditador ou se torna passivo. Ou abusa de sua autoridade ou a negligencia. A mulher ou se torna capacho ou rebelde. Ou ignora suas capacidades ou toma um lugar que não é seu. E então, em sua carta aos Efésios, Paulo nos mostra como a redenção desses papéis se dá; como colocar de volta em ordem o que foi originalmente instituído — autoridade amorosa e submissão inteligente. 

Querida Flavinha, o casamento foi criado e instituído por Deus, como já vimos. E as dinâmicas de autoridade e submissão fazem parte de sua criação. Mas elas não são um fim em si mesmo. Não nos submetemos aos nossos maridos para a glória deles. Nos submetemos a Deus, e então ao nosso papel instituído por Ele, por reconhecer que o casamento é sobre algo muito maior do que Francine e Beau, Flávia e Guilherme. Nós temos o privilégio de mostrar ao mundo o amor perfeito de Cristo por Sua Noiva através dos nossos falhos romances. Que grande honra!

Com amor,
Sua prima,
Fran