Quando Deus diz não – Perguntas e Respostas

As perguntas a seguir foram respondidas na live com Francine para o ministério Entra na Toca, dia 4 de Maio de 2020.

1. Como discernir quando Deus está me dizendo um não e como reagir quando ouvimos esse não?

É importante a gente falar disso, porque o tema da Live é o que fazer com os nãos de Deus, mas antes disso precisamos entender como ouvir os nãos de Deus. Essa questão do discernir é importante – afinal de contas, esse “não” está vindo de Deus? E o “sim”? Ou será que está vindo dos meus próprios sentimentos e desejos? Para sabermos diferenciar, precisamos colocar o “não” e o “sim” à luz do que a Palavra de Deus diz. Alguns pedidos ficarão claros. Por exemplo, portas para um emprego se fecham, ou oportunidades se frustram. A resposta está ali. Mas às vezes pedimos por direcionamento e ficamos pensando o que Deus está dizendo, porque a resposta não é concreta.

Irmãos, se ficarmos esperando um sinal nas nuvens, esperaremos em vão. Deus traz diretrizes para todas as nossas decisões em Sua Palavra, e Ele diz que ela toda é útil para nos fazer prontos para toda a boa obra que Ele preparou para nós. Podemos ir à ela e alinharmos nossas decisões à ela. Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais facilmente ouviremos Sua voz, pela Palavra e pela oração. Então se você há muito tempo não tem um tempo com o Senhor, não cultiva a intimidade com Ele, realmente ficará muito mais difícil saber discernir o que Ele está dizendo.

2. E quando tudo o que eu acreditava/sonhava indicava que também era plano de Deus, e no final de tudo, não era? Como tratar a ferida causada pelo meu próprio coração, sem culpar a Deus?

Eu acho que o melhor exemplo que temos pra essa questão é Jó. Nós vemos no livro de Jó que não havia motivos para que ele sofresse tanto. Pelo contrário, a Bíblia diz que não existia homem na terra tão justo quanto Jó, e ainda assim ele sofreu de forma tremenda, perdendo todos os seus bens materiais, sua saúde, e todos os seus filhos. E qual foi a reação dele quando, assim como a pergunta diz, tudo que ele acreditava e tinha construído a vida toda foi tirado dele? Como ele tratou as feridas?

A gente vê que em primeiro lugar, Jó teve uma atitude de aceitação. Ele diz, “o Senhor deu e o Senhor tirou, louvado seja o nome do Senhor”. Ou seja, Jó sabia que Deus é Deus e nós não, e quaisquer que sejam as circunstâncias que Ele permite em nossa vida, nós precisamos ter uma atitude de aceitação humilde. Mas nós vemos que Jó foi além – ele não só aceitou com humildade, mas ele também questionou. Ele não fingiu que não sentiu nada, que estava tudo bem. Ele foi até Deus com suas dúvidas, com suas dores, e até mesmo com uma amargura quanto à vida. Ele deseja não ter nascido. Então eu compreendo disso que nós vamos sim ter feridas no coração e na alma por causa do sofrimento e dos “nãos” de Deus. Mas a forma como nós reagimos a elas é importante – vamos culpar e amaldiçoar a Deus, como a esposa de Jó fez, ou vamos louvá-lo independente do que aconteça, sabendo que Ele é bom e nos ama com amor eterno, como vemos em Jeremias 31:3?

3. Quando pessoas cristãs tem opiniões divergentes uma das outras em suas orientações a respeito da vida cristã, como discernir qual delas é realmente a vontade dEle?

Essa pergunta é super profunda. Basicamente o que ela está dizendo é: como saber qual interpretação da Bíblia está correta? Isso porque eu assumo que essas “orientações a respeito da vida cristã”, que a pessoa citou, estejam vindo da Bíblia.

Então, como sabemos qual interpretação está correta? Aqui eu faria uma defesa do Estudo Bíblico Indutivo, que eu já introduzi no Graça em Flor e vocês podem ir assistir nossos vídeos sobre isso, e o estudo de Tiago no qual aplicamos o método. Com o EBI nós aprendemos a ir à Bíblia por nós mesmos, observando, interpretando e então aplicando o que ela diz. Mas eu também defendo muito o uso de bons materiais para a interpretação do texto bíblico. Comentários bíblicos por autores confiáveis, Bíblias de Estudo confiáveis, etc. Eu infelizmente não conheço muito material bom em Português, mas vocês podem pedir indicação aos líderes do ministério da Toca.

Minha dica é: sempre busquem interpretar um texto pensando no que ele significava à audiência original, e também considerando o que os pensadores concluíram ao longo da história da Igreja. Um versículo nunca vai significar para nós hoje o que não significou para a audiência original do livro, e dificilmente nós em 2020 vamos descobrir uma aplicação de um verso que ninguém descobriu antes de nós. Então se alguém te trouxer uma divergência quanto à vida cristã baseada em uma interpretação de um versículo feita erroneamente, sem considerar a audiência original ou a ortodoxia (história da Igreja), então já podemos suspeitar que a pessoa está errada.

Resumindo, para responder a pergunta: quando estiver em dúvida sobre qual é a vontade de Deus, vá à Bíblia, e a interprete de maneira honesta.

4. Como identificar se a negativa de Deus é permanente ou pontual? Explicando melhor, as vezes Deus diz “NÃO” e as vezes Deus nos diz “NÃO AGORA”, como faço pra entender?

Eu diria que a melhor forma de encarar isso é assumindo que o “não” é “não”, e ponto. Por quê? Bom, pode ser que seja um “não agora”. Mas um “não agora” é um não, certo? Para o agora. Então é suficiente saber disso. Siga sua vida com esse “não” e aja de acordo. Não fique tentando desvendar se no futuro as coisas mudarão. Aceite a resposta de hoje, Deus nos dá graça para o dia que estamos vivendo e não para o próximo dia (a exemplo do Maná no deserto). Elisabeth Elliot tem uma frase muito boa nesse sentido. Ela disse, “O hoje é meu. O amanhã não é da minha conta. Se eu tentar espiar ansiosamente pela névoa do futuro, eu vou machucar meus olhos espirituais e impedi-los de ver claramente o que é requerido de mim hoje.”

5. Como podemos entender a soberania e justiça de Deus diante dos “nãos” e da adversidade, se O vejo como injusto em tantas situações?

Vamos ler juntos Mateus 7:9-11, “Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” O que vemos aqui? Deus, assim como pais terrenos, dá o que é melhor para os seus filhos, e não o que eles acham que é o melhor. Ou seja, Deus nos dará sempre uma resposta às nossas orações, mas ela será sempre baseada na soberania dEle e não no nosso conhecimento limitado. Eu sei que para certas situações é difícil entender isso, porque como não seria bom para nós, aos olhos de Deus, a conversão de parentes, por exemplo? Eu não tenho a resposta pra isso, pra falar a verdade. Mas creio que a explanação e exemplo dados por Jesus nessa passagem ajudam a esclarecer um pouco. Deus é um bom Pai que nos dá boas coisas. Podemos confiar nisso.

John Piper diz que o exemplo de Ismael e Abraão nos mostram que Deus sempre traz uma resposta às nossas orações. Em Gênesis 17 Abraão pede a Deus que Ismael seja o filho por quem a benção prometida viria. Deus diz “não”, a benção viria por um filho de Sara, Isaque. Mas Deus basicamente responde, “Abraão, eu ouvi seu pedido e vou abençoar Ismael, mas não da maneira que você quer.” Então houve uma resposta, mas não era como Abraão queria.

Deus é injusto em fazer isso? Não. Ele é Deus. Romanos 9 nos diz algo muito sério: “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim?’ O oleiro não tem direito de fazer do mesmo barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso?”. Aqui ele está falando de salvação, mas ideia é válida para nossa conversa aqui também – O oleiro não tem direito de fazer o que quiser com o vaso? Ele tem. A gente vive numa sociedade que odeia a ideia de ter que se submeter à vontade de qualquer outra pessoa, até mesmo de Deus. É o famoso “eu sou dono do meu nariz, ninguém manda na minha vida”. Mas Deus te fez. Ele tem todo o direito de fazer o que quiser com sua vida. Mas saiba, e descanse nisso, que se você está em Cristo tudo que Ele fizer, bom ou ruim, coopera para o seu bem eterno.

Acho que o maior exemplo que temos disso é do próprio Jesus. Ele disse, “Pai, passa de mim esse cálice”. Ele foi completamente sincero e pediu ao Pai que não desse a Ele tamanho sofrimento. Mas a parte chave da oração dele, que devemos tomar pras nossas vidas, é “Seja feita a TUA vontade”. Se o próprio Jesus aceitou isso, quem somos nós pra não aceitar e ver Deus como injusto? Eu amo o verso 8 de Hebreus 11 que diz que Jesus, embora sendo Filho, aprendeu obediência. Se o servo não é maior que Seu Senhor, porque não aceitamos nossa cruz e aprendemos obediência? Que Deus nos ajude.

6. C.S Lewis escreveu o livro “O Problema do Sofrimento”. Ele diz: “Deus sussurra a nós na saúde e prosperidade, mas, sendo maus ouvintes, deixamos de ouvir a voz de Deus. Então Ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento. Aí então ouvimos o ribombar de Sua voz.” Como lidar com o sofrimento e dor gerados pelos “nãos” de Deus e não encarar como um castigo, mas sim como um método de Deus pra nos fazer homens e mulheres mais devotados, maduros e firmes nele?

Eu amo esse frase do Lewis, e posso atestar que ela é absolutamente verdadeira. No começo do ano, quando eu tive minha filha, passei pelo maior sofrimento da minha vida. Pra resumir, eu e ela quase morremos no parto. E depois disso, o trauma me deixou lidando com uma Depressão Pós-Parto fortíssima. E nesses momentos eu ouvia Deus no ribombar de Sua voz. Eu o senti absolutamente perto, absolutamente presente. E mesmo quando não o sentia, porque no meio dos ataques de pânico eu realmente não sentia, eu confiava naquilo que sabia ser verdade. Nós não podemos nos esquecer na escuridão daquilo que aprendemos na luz.

Sobre a questão do castigo, nós já vimos que Jó, homem justo, e o próprio Jesus, que era perfeito, sofreram. Por isso, biblicamente falando, o sofrimento não é, necessariamente, resultado de pecado ou um castigo divino. O próprio Jesus fala sobre isso no Evangelho de Lucas, capítulo 13. Perguntam pra ele sobre certos homens que foram cruelmente assassinados por Pilatos, querendo saber se eles eram mais pecadores que outros. Jesus responde, “Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira? Eu digo que não! Mas, se não se arrependerem, todos vocês também perecerão. Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão.” Ele quis dizer, o sofrimento não vem como resposta do pecado. O sofrimento nesse mundo caído é aleatório, vide o exemplo dos homens cuja torre caiu sobre eles. Mas o ponto que Jesus quer passar é: independente do sofrimento que existe no mundo, que atinge alguns mas não outros, TODOS precisam de uma mesma coisa – salvação.

Então, quando estiver sofrendo, lembre-se que de acordo com a Bíblia o sofrimento não é castigo, e que a solução é buscar em Jesus salvação para a alma, já que o corpo ele nunca prometeu proteger.

Tiago, meio-irmão de Jesus, disse que “a provação [o sofrimento] produz perserverança e nos faz perfeitos [ou maduros]”. Ele quis dizer que o sofrimento nos faz mais parecidos com Jesus. Então podemos descansar que ao nos passar pelo fogo como a prata, para nos retirar as impurezas, Deus está nos fazendo mais parecidos com Jesus. E isso faz todo sofrimento valer a pena. E não só isso, assim como fez com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Jesus estará conosco NO fogo. Ele é Emanuel, Deus conosco. Glórias a Deus por isso!