Por que servimos?

O texto de João 13:1-20 relata-nos o alistamento dos apóstolos de Jesus Cristo, que tinham a missão de preservar e propagar o Evangelho. O Senhor havia terminado seu ministério público (Jo 1-12); agora, a portas fechadas, ele chama seus discípulos a uma mentalidade de guerra (Jo 13-17), antes de seguir para a cruz, depois ao túmulo e finalmente ressurgir dentre os mortos (Jo 18-21). Jesus, portanto, está prestes a entrar em guerra. Sim, a linguagem é esta mesma: guerra. Como Jesus preparará seus apóstolos para o combate do Evangelho?

O servo de Jesus Cristo

No capítulo 13 de João vemos o cenáculo mobiliado e preparado para a última ceia do Senhor com seus discípulos. Jesus está à sombra da cruz e esta será sua última noite na Terra e ele precisa prepará-los para a batalha adiante – para enviá-los ao meio de lobos. A primeira lição que ele os dá é que serão enviados como portadores da mensagem do reino de Deus, embaixadores de Deus Pai, apóstolos de Cristo (Jo 13:20). Agora, que tipo de pessoa eles deveriam ser para cumprir esta mais elevada vocação? A resposta é cristalina: o discípulo deve ser o tipo de pessoa que tem o mesmo sentimento de humildade e serviço que houve em Jesus. Esse é o ponto principal do texto.

O servo de Jesus deve ser como o seu Senhor, descendo do trono e se enrolando na toalha para servir com humildade. Foi ao exemplo de humildade de Jesus que Paulo lançou mão para exortar os cristãos filipenses a servirem uns aos outros (Fl 2:3-8). É servindo que nós refletimos a glória do nosso Senhor Jesus. E como nos falta esse tipo de comportamento! Faltam servos entre nós – gente com boa teologia, sã doutrina, mas que se levante da mesa, tire a capa, enrole a toalha na cintura, derrame água na bacia e comece a lavar os pés dos outros. Querida leitora, como você vive o Evangelho na sua vida entre domingo de manhã e sábado à noite? Como vive o Evangelho entre o mundo presente e o mundo por vir? Entre a sua comunidade cristã e a comunidade à sua volta?

Como um letreiro em cores vivas, tenha isto em mente: pessoas moldadas pelo Evangelho podem formar uma comunidade profunda que ama o serviço, pois têm a Jesus Cristo como sua paixão dominante.  

Devemos imitar o Senhor, representar o Senhor e servir aos que precisam da graça do Senhor. Agindo assim, experimentaremos o verdadeiro contentamento de um servo. Ponha a mão no arado com um desejo de servir ao próximo, de dar o seu amor, demonstrando de maneira prática o Deus a quem você ama. Ao chamar seus eleitos para si, Deus não convoca ninguém a ociosidade. Quando nascemos de novo e nossos pecados são perdoados, o sangue de Cristo purifica a nossa consciência, de acordo com Hebreus 9:14, para que “sirvamos ao Deus vivo”. Essa é a comissão de todo cristão.

A igreja é a comunidade do Servo de Jeová em Isaías (cf. Is 42:1), e sua missão deve ser entendida à luz da missão de Cristo, que viveu para servir. Por isso, só a igreja que serve, serve. Quando Jesus veio, Ele dedicou-se completamente ao serviço dos outros. Ele se achegou às pessoas, andou com pecadores, conversou com mulheres, curou doentes, deu de comer aos famintos, se encarnou totalmente em nossa realidade. Ele não fez apenas ordenar, mas deu-nos o seu exemplo. O nosso Deus, embora cercado de poder e glória, é humilde de coração e inteiramente dedicado ao serviço dos outros (cf. Fp 2:5,7). E é nessa lógica que a igreja deve se basear para cumprir sua tarefa no mundo.

Como seguidores de Cristo, somos exortados a testificar dele em palavras e ações, isto é, compartilhar seu Evangelho com os outros e servir aos homens de acordo com as suas necessidades. É preciso que o cristão se disponha a ajudar por todos os meios disponíveis: talentos, capacidades, bens materiais. 

Viu um problema e tem meios de ajudar? Ajude! A questão nem sempre é quão bem você serve, pois até o mundo serve bem quando isso leva ao lucro. Mas o cristão serve com humildade, sem pensamentos de recompensas, porque isso leva à semelhança com Cristo.

Servir é um árduo trabalho, porque significa servir pessoas pecadoras. Por vezes pode ser exaustivo e agonizante, mas não há trabalho mais recompensador. A obra de servir produzia tanta satisfação em Jesus que ele chamava de comida, pois ela o nutria, o fortalecia e o satisfazia (Jo 4:34). Podemos até servir sem amar, mas jamais poderemos amar sem servir. O amor de Cristo nos faz servir. Quem ama, serve.

Na batalha pelo Evangelho, a espada do discípulo é a Bíblia e a sua farda é a toalha cingida à cintura para servir como representantes de Jesus Cristo. O alistamento para esse combate é obrigatório para todos os cristãos . Qualquer cristão é um soldado e se deve à defesa e divulgação do Evangelho, bem como a servir em nome de Jesus Cristo.

O trabalho de Jesus não para

Nessas horas intensivas de preparação durante a última ceia, o Senhor já havia ensinado a lição do amor que se expressa na forma de serviço humilde (João 13) e já havia encorajado os discípulos com promessas que acalmam o coração (João 14:1-11). Agora ele dirá quem o cristão deve ser em tudo que faz.

Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. (João 14:12)

Nesse texto fica muito claro que todos nós que cremos em Jesus continuaremos seu trabalho. Os crentes – pura e simplesmente crentes – farão as mesmas obras que Jesus realizou! Essas palavras afetam diretamente a nossa vida particular, e a nossa vida juntos, como igreja. Mas o que significa então esse trabalho? Faremos os milagres espetaculares de Jesus? Não, Jesus não quis dizer que todos os crentes farão milagres como os que ele fez. No versículo 11 de João 14 temos: “Apenas creiam que eu estou no Pai e que o Pai está em mim. Ou creiam pelo menos por causa das obras que vocês me viram realizar.” Veja, o verbo “crer” e o substantivo “obras” ocorrem juntos no versículo 11, assim como estão juntos no versículo 12: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”. Em outras palavras: as obras de Jesus são projetadas para ajudar as pessoas a crerem. 

Portanto, quaisquer que sejam as “mesmas obras” que Jesus tinha em mente, o que as define aqui é que elas são sinais que apontam as pessoas para Jesus, ajudando-as a crer em seu nome. As “mesmas obras” são testemunhas junto com as palavras de Jesus, a fim de levar as pessoas à fé em Cristo. “Quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado” – as obras que levam as pessoas à fé.

Dessa forma podemos dizer com confiança que em João 14.12 Jesus está dizendo que todos os crentes serão marcados por estarem unidos de tal modo a Cristo que continuarão fazendo “as mesmas obras” que ele realizou, com o fim de “dar testemunho” de Jesus ao mundo.

Somos o aroma de Cristo. Somos a luz do mundo. Nós estávamos mortos, e agora nós estamos vivos. Efésios 2.10 diz, “pois somos obra-prima de Deus, criados em Cristo Jesus a fim de realizar as boas obras [as “mesmas obras” de Jesus (Jo 14.12)]que ele de antemão planejou para nós”. Uma vida de palavras e de ações (serviço!) que ajudam as pessoas a crerem em Jesus. O trabalho de Jesus não para – através de você e de mim!

Essa convicção bíblica nos encaminhará em tudo o que fazemos como Igreja. Por que servimos? Servimos por ter a consciência de que Jesus ensinou claramente sobre a humildade, por meio do serviço. E a partir disso, tomamos o exemplo de Jesus para nossa própria vida, promovendo ações de serviço ao próximo, a fim de apontá-lo para a glória de Jesus, fazendo-o conhecido, provando do seu amor e da sua doçura. Que privilégio! 


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Abril com o tema “Serviço”. Para ler todos os posts clique AQUI.