Pecado intocável: redes sociais

Dia 2 de Abril marcou o aniversário de 6 anos do meu vídeo para o YouTube chamado “O Jovem Crente e as Redes Sociais”. Ainda hoje esse é o vídeo com mais visualizações do meu canal, e eu penso que o motivo é simples: a maioria dos jovens de nossa geração está presa nas correntes de um mesmo mal – as redes sociais. Estamos realmente presos. Acorrentados. Sujeitos. Dependentes. Escravos.

O que mais me preocupa é ver a Francine de 2012, com 19 anos, falando das dificuldades de abandonar essas correntes, e a Francine de 2017, com 24 anos, ainda acorrentada. Por isso no título desse texto eu digo que as redes sociais são, para os jovens crentes, um pecado intocável*. É aquele tipo de problema que primeiramente nós não rotulamos como pecado, e por não enxergá-lo como tal acabamos não nos preocupando e não agindo com a disciplina que seria necessária para uma solução.

Por não rotular o vício às redes sociais como pecado, acabamos não lutando contra ele. Click To Tweet

Uma matemática assustadora

Jesus disse aos judeus que haviam crido nEle que ao conhecermos a Verdade ela nos libertaria (cf. Jo. 8:32). Quando eu olho para minha própria vida, nessa área das redes sociais, eu tenho certeza de que não sou livre.

Eu tenho um aplicativo no meu celular que me mostra o quanto de tempo eu passo no celular diariamente. É assustador – uma média de 2 horas por dia. O aplicativo não tem a capacidade de contar as horas que passo em redes sociais no computador, mas eu creio que seja cerca de 1 a 2 horas. O total, então, seria o assustador número de 3 a 4 horas diárias da minha vida completamente jogadas no lixo. Juntando tudo, eu desperdiço 28 horas semanais. Se pensarmos que um ano tem 52 semanas, então passo uma média 1.456 horas por ano em redes sociais.

1.456 horas são 2 meses.

O equivalente a dois meses inteiros do meu ano são vividos vegetando em frente a uma tela, deslizando por fatos inúteis e fotos de realidades filtradas.

E sabe o que é mais triste? Eu só estou computando as horas passadas nas redes sociais. Se eu adicionar as horas no Netflix…

Talvez você esteja no mesmo barco que eu. Talvez 4 horas por dia seja a sua média também, se contar as horas no celular + computador + televisão. Talvez seja mais, ou ainda menos. Mas, no final a verdade é a mesma: independente de qual seja o seu total mensal, qualquer minuto passado em redes sociais é um minuto a menos de vida realmente vivida.

Mas, é pecado?

Eu não acredito que redes sociais sejam um mal em si mesmo. Eu não sou uma daquelas pessoas que vai levantar a bandeira de que a internet é demoníaca. Eu conheci meu marido pela internet, e nosso relacionamento só sobreviveu à distância por causa dela. Graças à internet eu posso conversar com meus pais a qualquer momento do meu dia, mesmo eles estando em outro país. Eu dou graças a Deus pela internet.

Mas, o ser humano tem a triste capacidade de pegar coisas que poderiam ser uma benção e transformá-las em pecado. E a internet, em especial as redes sociais, não são uma exceção.

Eu creio que elas se tornam pecado a partir do momento em que nós não exercemos o fruto do Espírito do auto-controle, e nos tornamos escravos. Não é preciso pesquisar muito no Google para achar artigos que nos mostram que as redes sociais nos dão um prazer parecido com drogas, o que nos faz voltar vez após vez para checá-las e ver se temos novos likes ou comentários. Esse vício é pecaminoso, esse encontrar prazer e identidade em outra coisa que não Cristo.

Além disso, tem os dois meses desperdiçados de vida. Eu não sei você, mas eu me sinto enojada só de pensar que Deus me deu vida, abundante e livre, e eu estou jogando parte dela no lixo dessa forma. Outro dia eu vi o Instagram (às vezes ele pode ser positivo!) de um rapaz da Espanha que tinha câncer e documentava seu processo de tratamento nessa rede social. Ali ele contava sobre as dificuldades da doença e seu desejo profundo de ser curado. Ele usou esse espaço para também encorajar todas as pessoas sadias que liam suas postagens a viver abundantemente e de verdade. Esse rapaz faleceu em Janeiro desse ano, mas aquelas postagens me impactaram.

Eu não quero pecar ao pegar minha saúde, minha energia, cada respirar nessa vida – que são dádivas da graça – e jogar pela janela, pateticamente vegetando em frente a uma tela.

Por fim, as redes sociais podem se tornar pecaminosas não só por serem um ídolo, e por desperdiçarem nosso tempo, mas porque o conteúdo delas, quando não usado com sabedoria, pode nos levar a inúmeros pecados. Sejam fotos de mulheres de biquini que geram luxúria nos homens e insegurança/inveja nas mulheres; sejam as postagens cheias de ira e julgamento, as redes sociais são um campo aberto para o mal.

Então, qual a cura?

Analisando esse cenário em minha vida, eu me senti desencorajada. Existe, será, alguma cura para esse mal? Sim, existe esperança, mas não é onde eu pensei que fosse.

Em 2012, quando fiz aquele primeiro vídeo, eu achei que a solução seria cancelar minha conta em algumas redes sociais ou me forçar a passar menos tempo nelas. Certamente, eu pensei, esse pecado será suprimido pela minha força de vontade.

Mas, semana passada, enquanto lia Filipenses, eu vi qual a real cura. Paulo diz,

“Assim, meus amados, (…) ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” (Fp. 2:12,13)

“Ponham em ação a salvação de vocês”, ou como eu gosto mais, na versão Corrigida, “desenvolvei a vossa salvação”. Isso significa não ficar passivamente esperando a resposta, mas de fato buscá-la e agir rumo a ela. Mas, Francine, não foi isso que você fez em 2012? De fato. Mas, Paulo vem com a segunda parte que me dá tanta esperança.

Primeiro ele diz que é Deus quem efetua o querer. Esse meu reconhecimento de que estou presa às redes sociais, e essa vontade de mudar vêm do Senhor. E isso é claro pra mim, porque sei que sem o Espírito dEle criando essa vontade em mim, eu simplesmente viveria escrava das redes sem estar consciente disso, sem preocupação ou culpa. Mas, Paulo não para aí. Ele diz que Deus não só me dá a vontade, mas realiza-a em mim. Ele age em mim, e não eu em mim mesma.

E é aqui que encontro cura para esse pecado. Em olhar para a Cruz e ver que Jesus morreu justamente para que eu não vivesse mais escrava do pecado, não mais sob o poder dele. Eu posso verdadeiramente ser livre, a partir do momento em que parar de “tentar mais”, e começar a confiar mais que Ele pode agir em mim, e pouco a pouco me santificar nessa área. Como? Aqui o ciclo se fecha e volta ao começo do versículo: desenvolvendo minha salvação. Buscando a face de Deus constantemente e sem falta na Palavra e em oração. Quando eu faço isso, quando me aproximo dEle, me pareço mais com Ele, pouco a pouco. E quando me pareço mais com Ele, me pareço menos comigo mesma.

Antes de dizer aos judeus que a verdade nos libertaria, Jesus disse “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos” (cf. Jo. 8:31). É preciso que permaneçamos na Palavra, nos alimentando dela diariamente e sem falta, para que de fato a Verdade nos liberte, diariamente.

E aí conseguimos vencer o vício das redes sociais.

De forma prática

Agora, existem coisas práticas a se fazer, e aqui eu gostaria de listar alguma que têm me ajudado, para que vocês tentem:

– Ore toda manhã e peça ao Senhor forças e graça para vencer esse vício;

– Busque o Senhor em Sua Palavra constantemente. Se alimente dEle e se aproxime dEle, e pouco a pouco verá como os vícios e pecados vêm à luz e são reconhecidos e vencidos com mais facilidade;

– Não durma com o celular do lado da cama, e não deixe que checá-lo seja a primeira coisa que você faça quando um novo dia começa. Ao invés disso, busque a face do Senhor em oração. E nem venha com a desculpa de que usa o celular para alarme, porque relógios fazem isso 😉

– Quando estiver com outra pessoa guarde o celular na bolsa, no volume alto, e só o pegue se de fato receber uma ligação. O mundo não vai acabar se você não checar suas mensagens a cada 30 segundos, e se não respondê-las assim que as receber. Preste atenção não dividida à pessoa que está contigo, a esse ser criado à imagem e semelhança de Deus;

– Quando estiver sozinha, busque passar o tempo livre com outros hobbies – leitura, desenho, dança, música, ou apenas pare e medite, ou fale com o Senhor. É triste ver como automaticamente, assim que temos 30 segundos de pausa em qualquer coisa, já pegamos o celular;

– Baixe o aplicativo “Moment”* que te mostra o quanto de tempo você passa diariamente em seu celular;

– Baixe o aplicativo para computadores “Self Control”*, que bloqueia qualquer site que você quiser, por quanto tempo você quiser;

– Marque um horário diário para checar redes sociais e se limite a apenas aquele momento;

– Tenha uma “companheira de luta”, que vai fazer essas restrições com você, e checar constantemente para ver se você está cumprindo seu objetivo (e você fará o mesmo por ela).

Espero que essas lições que eu tenho lentamente aprendido possam ajudar vocês também a trazerem esse pecado intocável à luz e, pela graça, vencê-lo.

*Tirei essa expressão do livro “Pecados Intocáveis”, de Jerry Bridges.
* Infelizmente esses aplicativos só estão disponíveis para aparelhos Apple, mas se vocês conhecerem algum parecido para Android e Windows me contem nos comentários!
*Clique aqui para assistir ao vídeo “Como o seu celular está mudando você” que fizemos para o canal RE:VIEW.