As Parábolas de Jesus: A Construção de uma Torre

Jesus, como pessoa articulada que era, convivia com as mais variadas camadas da sociedade. Em um certo sábado, o Mestre foi comer na casa de um dos principais fariseus e era observado pelos demais fariseus que ali estavam. Ali, Jesus contou a parábola da grande ceia: um homem resolveu dar um banquete e convidou a muitos. No momento do jantar, enviou seu servo para avisar os convidados que o anfitrião os esperava. Foram dadas respostas desonestas, desculpas envolvendo seus bens e pessoas queridas, e eles não compareceram. Irado, o homem ordenou que o servo saísse às ruas e becos e convidasse aqueles que viviam à margem da sociedade e quem mais encontrasse, para que a festa não ficasse vazia: “Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia” (Lucas 14.15-24).

Então o Mestre disse à grande multidão que o acompanhava:
“Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar.”

Lucas 14.26-30

A história sobre a construção de uma torre começa com a palavra “pois”, a qual indica a explicação de algo. A parábola vem para exemplificar o que foi dito anteriormente e esclarecer a mensagem que o Senhor desejava transmitir sobre o custo do discipulado, sobre tudo o que envolve segui-lo desde aqui até que estejamos todos juntos na Grande Ceia na eternidade. 

O contexto

Muitas pessoas recebem o convite para o banquete, ou seja, têm a oportunidade de se aproximarem de Cristo, mas se envolvem em distrações e criam desculpas bobas para desprezar sua presença. Tais pessoas podem não ter outra chance de estar com ele e então será tarde demais.

Jesus adverte que quem não aborrece sua família e a própria vida não pode ser seu discípulo. A palavra aborrecer tem o sentido de “amar menos”. Aquele que não ama menos seu emprego, as pessoas queridas, sua vida, seus sonhos e tudo o mais, quando comparados a Cristo, não pode ser seu seguidor. Que palavra dura!

Você pode pensar que isso não faz sentido, que é uma orientação insensível demais. Pode parecer até um pouco injusto, uma vez que lutamos tanto para chegar onde chegamos e conquistar o temos hoje. Ou ainda, pode ser que estejamos no caminho para o sucesso, “quase lá!”, na busca do que quer que seja.

O Senhor Jesus nos pede muito, sim, mas o faz consciente de que ele nos deu tudo. Deus Filho deixou seu trono, se despiu de toda a sua majestade enquanto se vestia de humilde humanidade. O Criador desceu ao status de criatura e viveu suas limitações. Não tinha luxo e nem onde reclinar a cabeça. Viveu de modo simples e foi perseguido injustamente. Na cruz, ele sofreu a dor da separação e da ira de seu Pai. Morreu uma morte vergonhosa.

O que Cristo está dizendo é: para ser meu discípulo você precisa andar comigo e aprender de mim. Vamos começar fazendo o que eu fiz: ame a Deus acima de todas as coisas e, se preciso for, deixe família, bens e confie sua vida a quem te mantém de pé.

O que o Mestre requer é algo que vemos desde Gênesis: Abraão sai de sua terra, de entre os seus parentes, e vai em peregrinação à terra que o Senhor iria lhe mostrar. Jó, em meio ao mais amargo sofrimento, tomou sua cruz e continuou seguindo seu Deus. Os Doze foram chamados pelo Messias enquanto em seus afazeres e, deixando tudo, o seguiram. Paulo foi encontrado pelo Senhor e abandonou a vida de prestígio que tinha no meio religioso, passando de perseguidor a perseguido. Martinho Lutero, sabendo as sérias consequências que aquelas 95 teses poderiam causar, permaneceu firme no caminho da verdade. E tantos outros exemplos, que chegam até nossos dias, de homens e mulheres que não consideraram suas vidas preciosas para si mesmos (Atos 20.24).

Os exemplos citados acima têm em comum o fato de que não viveram uma vida linear e tranquila a partir do momento em que seguiram o Senhor, muito pelo contrário. Sofrimento e dificuldades os bombardearam, mas eles permaneceram firmes porque o propósito era muito maior e a graça lhes era suficiente. Quando se sentiam fracos, então eram fortalecidos pelo Deus que os comissionou, porque o poder dele se aperfeiçoa na fraqueza humana (2 Coríntios 12.9,10). É isso que Jesus quer dizer com tomar a cruz e segui-lo. 

A parábola

Para que fique ainda mais clara a mensagem que o Senhor Jesus está pregando, ele conta a parábola da construção de uma torre. Para que uma construção seja bem sucedida é preciso que, primeiro, sejam feitos os cálculos para saber se o construtor terá condições de concluí-la. A fim de evitar que, ficando o empreendimento inacabado, as pessoas zombem da falta de planejamento. Temos aqui algumas lições sobre o que significa ser discípulo de Cristo.

Antes de tudo, é preciso assentar-se para planejar. Planejamento requer tempo e conhecimento. Quanto mais você sabe sobre o caminho para onde está indo, maiores são as chances de desfrutar de tudo o que ele tem a te oferecer. O cristão deve estar ciente de tudo o que é necessário para seguir Jesus e, para tanto, precisa investir seu tempo em conhecê-lo e buscá-lo. 

Enquanto faz os cálculos, o construtor vê se tem os recursos. É preciso atenção e honestidade nessa parte. Não tenha pressa ao ler a Bíblia, permita que ela te esquadrinhe e te mostre quem você é, quais seus dons e como podem ser empregados da melhor forma, de uma maneira que honre ao Senhor. Se deleite nos momentos de oração, se achegue diante do Pai com sinceridade enquanto ele vai te transformando e direcionando para o que tem para você.

A agitação da vida moderna muitas vezes nos faz suprimir ou simplificar as etapas anteriores. A avidez pelo resultado nos faz querer desprezar o processo. Não existem atalhos no caminho para o discipulado. Eles podem ser tão prejudiciais para a vida cristã, assim como a compra de materiais baratos com qualidade duvidosa o são para a construção da torre. Lembre-se que a estrutura deve ser sólida para que ambas – a vida cristã e a construção – sejam bem sucedidas.

Quando se lança os alicerces é preciso ir até o fim, sob o risco de ser ridicularizado pelos que veem a construção inacabada. Perseverança e sabedoria são importantes aqui. Em ocasião anterior, citada em Lucas 9.57-62, quando Jesus colocou à prova os que queriam segui-lo, disse: 

“Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus”.

Lucas 9.57-62

De modo semelhante, aqui na parábola da construção o Mestre diz que aquele que começa algo deve ir até o fim. O caminho é sempre para frente, em direção ao alvo que, no caso da obra é a torre, e no caso da vida cristã é o próprio Cristo e o doce desfrutar de sua presença por toda a eternidade.

Jesus diz que quem deixa a obra incompleta é zombado pelos demais. Trazendo para nossos dias, é algo semelhante às obras públicas em nosso país, muitas delas morosas e outras abandonadas. Nós não nos orgulhamos disso e muitas vezes ouvimos comentários em tom jocoso. O discípulo precisa de disposição e convicção para seguir o Mestre por onde quer que ele for, a fim de que o nome de Cristo não seja envergonhado.

Como vimos no início do texto, na história que Jesus contou sobre o banquete, não há espaço para desculpas. O Senhor não quer palavras emocionadas e aparentemente verdadeiras, cuja força se perde ao longo do tempo. Ele não se importa com suas posses e habilidades, mas procura servos fiéis que, a despeito de quaisquer intempéries, permaneçam firmados nele, como a casa construída sobre a rocha.

A construção

A parábola sobre a construção de uma torre foi contada às multidões que seguiam o Senhor Jesus. Sabemos que a maioria o acompanhava movida pelo interesse no que ele podia dar e fazer. Todavia, ele não buscava seguidores, mas discípulos, pessoas que seguissem nas mesmas pegadas dele e o imitassem em tudo, fosse fácil ou difícil, simples ou complexo.

Ainda hoje, Cristo tem muitos seguidores, igrejas lotadas de pessoas interessadas no que podem receber e totalmente avessas à ideia de abrir mão, de amar menos as coisas por amar muito mais a ele.

O caminho do discípulo passa por turbulências, é necessário estar com o alicerce bem firmado para permanecer, quando tudo em volta parece desmoronar. Muitas são as vezes em que temos apenas o Mestre por companhia, e isso basta. Como disse o apóstolo Pedro: 

“Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna”.

João 6.68

Agostinho de Hipona também resumiu bem o que significa seguir a Cristo: “Senhor, é duro te seguir, mas é impossível te deixar”. Faz-se necessário lembrar que o discípulo por si só não leva o mérito pelo êxito na caminhada cristã, ele é um galho ligado à Videira, que é Jesus Cristo. Se ele consegue progresso com a construção da torre é porque o Senhor o sustenta e fortalece – a Ele toda glória. A sensação de dever cumprido é muito prazerosa. Assim como o construtor é tido como bem sucedido, o cristão recebe a recompensa de seu Senhor. O trajeto cheio de obstáculos termina no banquete, na grande ceia em que estará face a face com Cristo que o guiou por todo o caminho através de sua Palavra. Tudo vale a pena, querido leitor, quando vivemos sob a perspectiva certa. O caminho de Jesus foi espinhoso, mas sua história não terminou no túmulo. Ele ressuscitou, subiu aos céus e está à direita de Deus Pai como o Rei exaltado. É isso o que nos aguarda também, pois “fiel é esta palavra:

Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos, também com ele reinaremos”.

2 Timóteo 2.11, 12a

Aquele que perseverar até o fim poderá dizer à semelhança do apóstolo Paulo: 

“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.”

2 Timóteo 4.7,8

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