Os Milagres de Jesus: Transformação da Água em Vinho

Já parou para pensar por que o primeiro milagre de Jesus foi transformar água em vinho? Eu já. Muitas vezes. Mas o que eu não via era a resposta que está nos detalhes. Olhar para esse episódio inicial é ser desafiado a não se contentar com uma leitura rápida. É preciso olhar mais de perto. Dar um zoom. E é isso que vamos fazer agora.

Casamento

Para começar, vamos ao contexto. Esse milagre aconteceu durante um casamento no pequeno povoado de Caná da Galileia. Dias antes, Jesus e seus seis primeiros discípulos — André, João, Pedro, Tiago, Filipe e Natanael — fizeram a jornada até lá, como narrado em João 2. Jesus e seus discípulos foram convidados para a festa.

Maria, mãe de Jesus, também estava presente, provavelmente ajudando nos preparativos. Isso explica como ela ficou ciente de um problema vergonhoso: a falta de vinho.

Naqueles tempos, os casamentos podiam durar até sete dias. Portanto, ficar sem vinho, um item básico, como nosso arroz, feijão, leite, óleo, era algo embaraçoso [Gênesis 14.8; Números 6.20; Deuteronômio 14.26; Neemias 5.18; Mateus 11.19].

Veja bem: estamos falando de uma cultura em que a hospitalidade é altamente valorizada, sendo considerada uma questão de honra. A falta de vinho logo no primeiro dia do casamento era motivo de vergonha para a família e para os organizadores da festa.

Queridas, lembram-se do que mencionei sobre os detalhes da história? Considere Maria nesse contexto. Como uma das ajudantes do casamento, ela se vê diante dessa situação embaraçosa. É provável que ela não quisesse ver seus familiares passando por essa vergonha de ficar sem vinho. Então, ela se dirige ao seu filho e simplesmente diz: “Eles não têm mais vinho”.

Jesus é o Senhor

No meio da festa, enquanto os convidados dançavam, cantavam e bebiam, surge, nos bastidores da organização, o problema da falta de vinho. Não há lojas por perto para comprar, mais convidados estão chegando e há uma grande expectativa para que a festa seja bem sucedida.

Maria, entre todos ali, tinha uma compreensão especial de quem Jesus era (Lucas 1. 26 – 38). Não podemos afirmar com certeza se sua fala refletia medo, preocupação extrema ou até mesmo impaciência pela falta de uma resposta imediata de Jesus à situação. Mas ela vai até Ele. Ela não lhe dá instruções detalhadas sobre o que fazer, apenas menciona a necessidade e sua sugestão é clara o suficiente. Maria, sem dúvida, esperava um milagre.

E Jesus respondeu: “Mulher, isso não me diz respeito”. À primeira vista, a resposta de Jesus pode parecer um pouco brusca. No entanto, o termo “mulher” aqui pode ser melhor interpretado como “senhora”, sem qualquer intenção de desrespeito, o que também é visto em outras passagens, como em João 19:26:

“Ora, Jesus, vendo ali sua mãe e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.”

Jesus não estava sendo rude. Pelo contrário, foi um gesto gentil da parte dele enfatizar, usando essa palavra, que Maria não deveria mais considerá-lo apenas como seu filho. Pois, quanto mais ela o visse como seu filho, mais ela sofreria quando ele sofresse. 

Maria precisava começar a considerar Jesus como seu Senhor. Ele não é mais o seu filhinho. Ele não é mais alguém que a obedece. Ele é o Messias, Aquele que veio para tirar o pecado do mundo. 

Esse é o momento de “virada de chave” em que Maria não sabe o que Jesus vai fazer, mas, seja lá o que for, estando de acordo com a sua expectativa ou não, Ele é o Senhor. O que Maria faz diante dessa situação ecoa o que aconteceu quando o anjo apareceu a ela, como vemos em Lucas 1:37-38: 

“Porque para Deus nada é impossível. Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra.”

Maria então se vira aos ajudantes do casamento e apenas diz “Tudo o que ele lhes disser, vocês farão”. Nesse momento, lembro das palavras de Elisabeth Elliot, em seu livro “O Sofrimento nunca é em vão” que me marcaram desde a primeira vez que as li. Fiz questão de decorar esse trecho e ruminar todas as vezes em que estivesse medrosa, insegura, impaciente e aguardando uma resposta, um sinal, uma providência:

“Seja lá o que estiver no cálice que Deus está me oferecendo — dor, tristeza, sofrimento ou lamento, como também as superabundantes alegrias —, estou disposta a tomar, pois eu confio nEle”. 

Em outras palavras, o que Maria disse para si mesma e para os ajudantes foi : “O que Ele mandar vocês fazerem vai ser bom, então, façam”. E é isso. Não houve hesitação. Os servos não o conheciam, mas confiaram em Jesus e fizeram o que foi ordenado. 

Nos arredores da festa, havia seis potes de pedra usados para a purificação. Essa água de purificação está relacionada à lei de Moisés no Antigo Testamento, que reconhecia a impureza do povo. Para se aproximar de Deus, as pessoas precisavam se purificar, pois não eram dignas por si só. Entre tantas coisas que Deus estipulou para o povo ser puro diante dele está a água para as cerimônias de purificação. No entanto, nesse episódio, o que chama atenção é a medida. 

O comentarista William Hendriksen diz que essa medida “era o equivalente a cerca de 32 litros. Portanto, cada talha podia conter de 60 a 100 litros de água. Consequentemente, as seis talhas tinham uma capacidade total entre 360 e 600 litros! Ora, por que se declara este fato? Obviamente, para enfatizar a grandeza do dom de Cristo!” 

Jesus instrui os empregados a encherem os potes vazios com água. Depois de serem preenchidos até o topo, Ele pede que retirem um pouco e levem ao mestre de cerimônias. O mestre de cerimônias fica surpreso ao provar o vinho, que era excepcional, especialmente por ter sido servido por último. 

Jesus transformou a água em vinho. Mas por que isso é tão significativo? É especial porque simboliza a substituição da água da purificação pelo sangue de Jesus, que Ele derramou por nós. 


Esse milagre representa o poder transformador contínuo de Jesus em nossas vidas. Como Jesus mesmo disse em João 10:10, Ele veio para que possamos experimentar a vida em sua plenitude.

Quando Jesus converteu a água, que era usada para rituais de purificação, em vinho, Ele transmitiu uma mensagem impactante. Enquanto a água permitia às pessoas se tornarem puras novamente, para poderem se apresentar diante de Deus, o vinho simboliza algo mais profundo: o sangue de Jesus, que nos purifica por completo. É somente através do sacrifício de Jesus que somos considerados dignos perante Deus.

Mais tarde, ainda no Evangelho de João, temos a narrativa da última ceia. Jesus associou o vinho ao Seu próprio sangue, estabelecendo uma nova aliança. O vinho, na Bíblia, é um símbolo de vida, alegria e redenção através do sangue de Jesus.

Nesse casamento não faltará alegria, comunhão ou acesso a Deus, porque o verdadeiro vinho que traz alegria e vida foi derramado.

O primeiro milagre é apenas um sinal que aponta para o casamento entre Jesus Cristo e a sua Igreja. Assim como no casamento na pequena Caná da Galileia não faltou vinho, na união entre a igreja e Cristo, não faltará alegria, comunhão e acesso a Deus porque o verdadeiro vinho, que traz alegria e vida, foi derramado o sangue de Jesus Cristo.


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