Os Evangelhos: Lucas

O autor do Evangelho de Lucas é conhecido como o “médico amado”, conforme podemos conferir na carta aos Colossenses (Cl 4:14) quando Paulo trata-o dessa forma. Mesmo sendo médico de profissão, Lucas se tornou escritor e historiador. Lucas é o único autor não judeu dos livros bíblicos, era um gentio e nos deixou registros preciosos do ministério de Jesus. Além disso, Lucas também foi um missionário e companheiro de Paulo (2 Tm 4:11) desde a sua segunda viagem missionária até o fim da vida do apóstolo. 

Não há um consenso sobre o período em que esse evangelho foi escrito, mas acredita-se que tenha sido por volta de 60 d.C, provavelmente em Roma. O livro é endereçado a Teófilo, que era grego — um gentio assim como o autor. Porém, o livro não se limita apenas a Teófilo; na verdade, tem como destinatário o povo gentio como um todo. 

Ao observarmos com atenção alguns trechos, podemos ver essa intenção de Lucas de falar para aqueles que não eram judeus: no capítulo 3, ele ancora a genealogia de Jesus em Adão, o homem universal, e não em Abraão, que representava o povo judeu da aliança. Já no capítulo 22, ao citar a proximidade da Festa dos Pães asmos, ele explica que essa festa se tratava da Páscoa. Para o povo judeu não faria sentido ter essa explicação, pois eles sabiam exatamente do que se tratava a festa, mas, para os gentios, era um esclarecimento relevante .

Podemos destacar como versículo chave deste Evangelho: “Porque o filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19:10), que demonstra um dos principais objetivos dos escritos de Lucas: proclamar que Jesus veio para trazer a salvação a todos os povos e nações, e que o amor de Deus e o plano da salvação não eram somente para os judeus e sim para todos. 

O Evangelho de Lucas traz muitos relatos exclusivos

O Evangelho de Lucas, assim como os Evangelhos de Mateus e Marcos, é considerado um evangelho sinótico, pois traz uma visão conjunta dos fatos. Esses livros apresentam muitos elementos em comum a respeito da vida de Jesus. 

Porém, o evangelho narrado por Lucas tem algumas características especiais, já que, de todos os evangelistas, ele é o que traz o relato mais completo, narrando a história de Jesus de forma mais detalhada. 

Lucas é o que mais apresenta registros exclusivos, ou seja, registros que são contados somente neste livro, não se repetindo nos demais evangelhos. Aliás, mais da metade do conteúdo relatado por Lucas aparece na Bíblia somente em seu livro. Por exemplo, ele é o único que traz a infância de Cristo e que apresenta detalhes da concepção tanto de João Batista quanto de Jesus. 

Parábolas como a do bom samaritano (Lc 10: 25-37), do amigo importuno (Lc 11: 5-8), da dracma perdida (Lc 15: 8-10), do filho pródigo (Lc 15: 11-32) e  do fariseu e publicano (Lc 18:9-14) são textos exclusivos do livro de Lucas. As passagens que mencionam Marta e Maria (Lc 10:38-42) e a cura dos dez leprosos (Lc 17: 11-18) também estão restritas a este autor. 

Pelo relato de Lucas sobre o momento da transfiguração no monte, estudiosos entendem que essa experiência (descrita em Lc 9:28-36) foi o que impulsionou Jesus a seguir sua caminhada para Jerusalém e cumprir a missão que o Pai havia lhe dado. Em uma de suas explanações sobre esse livro, o reverendo Hernandes Dias Lopes afirma que esse fato foi um divisor de águas para Jesus deixar a Galiléia e se dirigir a Jerusalém.

Notamos, então, a preciosa contribuição de Lucas, pois se ele não tivesse se dedicado a coletar as informações, por meio de uma “acurada investigação” (Lc 1:3), jamais saberíamos de acontecimentos que foram registrados somente por ele e hoje são fundamentais para nosso entendimento da Palavra de Deus.

O Evangelho repleto de pessoas excluídas

É bonito ver como Lucas nos mostra a natureza humana de Jesus, o apresentando como o homem perfeito e que fez questão de se relacionar com pessoas que sempre foram esquecidas. 

Lucas mostra a misericórdia de Deus pelos excluídos e marginalizados como os gentios, mulheres, pobres, publicanos, impuros, viúvas, doentes, pecadores em geral. Jesus olha para as pessoas que a sociedade da época desprezava, derrubando barreiras de gênero, sociais e religiosas. Reforçando, assim, a visão universal da salvação.

Além disso, Lucas mostra um olhar atento às mulheres, sendo o evangelho que mais evidencia a participação delas. É, por exemplo, o único a registrar o encontro de Isabel e Maria, assim como a menção à profetisa Ana. Vemos também a viúva de Naim, a pecadora que ungiu os pés de Jesus e uma referência preciosa a mulheres que assistiam o ministério de Jesus com seus recursos e o seguiam, como Joana, que é citada apenas nesse livro. 

Oração é um tema relevante neste livro

Lucas também é conhecido como o evangelho da oração, pois, em muitas passagens, explora os ensinamentos de Jesus sobre o tema e mostra a própria vida prática de oração que ele tinha. Inclusive, esse é o único evangelista que, ao relatar o batismo de Jesus, menciona que ele estava orando naquele momento. 

Lucas nos mostra como, por tantas vezes, Jesus se retirou para orar (Lc 5:16, 9:18, 11:1) e que em momentos importantes, como antes da escolha dos doze apóstolos, ele passou a noite em oração (Lc 6:12). Jesus orou no monte da transfiguração (Lc 9:29), no Getsêmani (Lc 22: 41) e na crucificação (Lc 23:46). 

Vemos que, ao retratar vários momentos importantes da trajetória de Jesus, Lucas sempre destaca que o mestre estava orando. Lucas evidencia também os momentos em que Jesus nos ensina a orar, ao mencionar que devemos orar por trabalhadores para a seara (Lc 10:2) e por meio das parábolas do juiz iníquo (Lc 18: 1-8) e do fariseu e do publicano (Lc 18:1-14).

Dois grandes louvores

Nesse evangelho, também vemos a alegria e a adoração retratadas de forma especial. No primeiro capítulo do livro, temos os louvores conhecidos como Magnificat e Benedictus, cujos nomes são as palavras em latim com as quais se iniciam os louvores. Esses são, respectivamente, cânticos entoados por Maria e Zacarias. 

O cântico de Maria nos mostra que ela tinha a Palavra de Deus no coração, já que seu louvor faz alusão a passagens de Salmos (30, 34,138) e ao Cântico de Ana (1Sm 2:1-10). Maria engrandece o nome do Senhor, e não a si mesma. 

Já o cântico de Zacarias louva a Deus por sua fidelidade e destaca que João Batista viria para chamar o povo ao arrependimento, sendo o precursor do Messias.

Lucas e o Espírito Santo

O autor fala mais sobre o Espírito Santo do que os outros evangelistas. Por exemplo, a passagem que explica como se dará o nascimento de Jesus (Lc 1:35), a narrativa do batismo de Cristo (Lc 3:22), a passagem em que Jesus é tentado (Lc 4:1) e os relatos de vários momentos ao longo do seu ministério (Lc 4:18, 10:21, 24:49).

Como aplicar o que as informações que o sobre o Evangelho de Lucas?

Primeiro, mantenha-se em constante oração. Lucas traz muitos momentos em que Jesus se retirou para orar. Ele, o homem perfeito, o Verbo que se fez carne, falava com o Pai, pedia, rogava por outras pessoas. Não espere o momento perfeito, o cenário ideal. Ore onde você estiver, ore ainda que não sinta vontade (esse inclusive deve ser um dos seus pedidos a Deus). Reserve um tempo a sós com o Senhor. Jamais desista dessa intimidade com Deus, a vida na presença de Deus nos traz uma alegria plena (Sl 16:11).

Segundo, espalhe o Evangelho. Jesus sentou-se com pecadores, curou e abençoou pobres, ricos, mulheres, pessoas que estavam endemoniadas. Ele ensinou e trouxe uma nova vida a alguns que estavam abandonados pela sociedade. Cristo, na sua perfeição, repreendeu pecados, mas deixou claro que era para os doentes que tinha vindo. Esse é o papel do Evangelho, transformar corações, independente de como eles estejam ou do que pareçam. Nosso papel não é o de juiz, mas de propagadores das boas novas e do amor que um dia nos alcançou. Avalie se você tem excluído ou julgado aqueles com quem Jesus se sentou à mesa. 

Adore ao Senhor. Somos chamados a louvar e adorar a Deus pelo o que Ele é: o Deus misericordioso, que enviou seu Filho para morrer por todos aqueles que Ele escolheu, independente de classe social, gênero, região geográfica. Proclame com alegria e testemunhe do amor que nos trouxe salvação sem que merecêssemos.

Por fim, dedique-se a estudar as Escrituras. Para a escrita deste artigo, investi tempo lendo comentários, Bíblias de estudos e livros. Li e reli algumas vezes os mesmos textos. Desta vez, de uma forma muito particular, experimentei o quão especial é conhecer os detalhes da Palavra. Deus sempre nos traz algo novo, confirma valores e fortalece nossa fé ao nos debruçarmos sobre sua Verdade. 

Lucas, para o registro de tudo o que nos deixou, fez uma acurada investigação. Pela graça de Deus, tudo o que precisávamos saber sobre Ele foi revelado na Bíblia. Estude e peça ao Espírito Santo de Deus que ilumine a cada dia o seu entendimento. As Escrituras são a própria voz de Deus, quanto mais o conhecemos, mais desejamos conhecê-lo.


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