Os Apóstolos: Tomé

Há características nossas pelas quais nos orgulhamos de sermos lembrados. Afinal, nós queremos ser reconhecidos pelo que há de melhor em nós, não pelos nossos defeitos. Se eu fosse Abraão, amaria ser lembrada pela minha fé. Ou se eu fosse Maria, aquela de Betânia, não ligaria nem um pouco por me conhecerem pela minha devoção. Se eu fosse Ana, a mãe de Samuel, acharia o máximo que, ao pensarem em uma mãe insistente em oração, se lembrassem de mim. Mas e Tomé, o apóstolo de Cristo? Tomé é constantemente associado à sua incredulidade, seu pessimismo ou sua descrença. No entanto, será que é isso que devemos pensar quando lidamos com esse querido apóstolo? Sabemos que Jesus ama convidar os improváveis, mas creio que Tomé era muito melhor do que essas características mais conhecidas.

Tomé, o pessimista

Embora Tomé não apareça tanto quanto os demais apóstolos, em suas poucas aparições, podemos notar que ele não era o homem mais entusiasmado e positivo que andava com Cristo. Talvez aqui comecemos a nos identificar mais com o discípulo, pois, embora constantemente na presença do Senhor, Tomé era um tanto negativo, sofria com preocupações e pensamentos excessivos e esperava o pior; aparentemente o seu copo dificilmente estava meio cheio.

Tudo o que sabemos sobre o caráter de Tomé está registrado no evangelho de João e por meio desse relato podemos ver um homem pessimista, com tendência a olhar para as tristezas da vida.

Em algum momento da nossa caminhada, estou certa de que nos encontramos naquilo que quero chamar de “momentos Tomé” — momentos em que simplesmente não conseguimos olhar para além das circunstâncias; nos esquecendo de que, assim como Tomé, também caminhamos com Cristo e provamos do seu caráter. E, embora até saibamos com nossa mente que Jesus é poderoso, o nosso coração insiste em duvidar. É hora de reconhecer que, ainda que desejemos ser reconhecidas pela fé de Abraão ou devoção de Maria, nos encontramos mais facilmente com o pessimismo de Tomé. Mas assim como o pessimismo não é tudo sobre Tomé, também não é a nossa maior parte. Há, para o nosso coração duvidoso, um Cristo gracioso que não desiste de nos amar mesmo quando tudo que conseguimos ver é um copo meio vazio.

Tomé, o corajoso

Encontramos no evangelho de João um relato que nos mostra que aquele apóstolo pessimista é também um homem corajoso. No capítulo 11, no relato da morte de Lázaro, quando Jesus afirma que voltará a Jerusalém mesmo sabendo que estavam armando contra ele e que ali ele e seus discípulos corriam até mesmo risco de serem apedrejados, nosso querido Tomé mostra que ele não era apenas pessimista, mas também muito corajoso: “Então Tomé, chamado Dídimo, disse aos seus condiscípulos: Vamos também nós para morrermos com ele” (Jo 11.16).

Há aqui um pessimismo heroico, que não hesita e não volta atrás; que, mesmo considerando apenas o pior dos cenários, está disposto a ir em frente junto com seu amado Mestre. Não podemos apreciar sua coragem? Ele simplesmente estava disposto a morrer com seu Senhor.

Para uma pessoa otimista, é fácil ser corajosa, pois ela está sempre esperando o melhor. Mas se o pessimista considera apenas o pior e ainda assim está disposto a continuar, então sua coragem sobressai suas falhas. Tomé permaneceu leal, mesmo sendo pessimista. É necessário coragem para prosseguir mesmo sabendo que tudo pode acabar mal. Talvez o pessimismo heroico seja a verdadeira coragem. 

Também não nos encontramos assim em alguns momentos? Nossa limitação e pequenez só nos fazem enxergar o pior, mas juntamos toda nossa pequena força e declaramos convictas que, se Cristo está indo, com ele eu também irei, mesmo que isso me custe muito caro. É preciso coragem para ser pessimista e seguidor de Jesus, pois constantemente seus caminhos não são de paz e tranquilidade, mas de medo e incerteza.

Há em Tomé uma profunda devoção e um amor sincero, os quais eu também desejo ter. Ele não queria se separar do Senhor em nenhum momento. Tomé se entristece quando Cristo fala sobre sua ida, mesmo que seja para preparar um lugar para nós (João 14.5). Seu amor por Jesus é tão profundo que ele se alegrava em morrer com Cristo, mas não poderia pensar em viver sem ele. 

No fim, nos parecemos mais com Tomé do que com outras pessoas da Bíblia com as quais gostaríamos de nos identificar. Tomé sabia que morrer com Cristo era infinitamente melhor do que viver sem ele. Será que nós também temos essa corajosa certeza? Eu sinceramente espero que sim.

Tomé, o incrédulo

Depois que Jesus morreu, todos os discípulos estavam juntos em uma certa ocasião, menos Tomé (João 20.24); bem nesse momento, o Senhor aparece para os seus queridos amigos. Podemos imaginar que, em seu mundo pessimista, Tomé não esperava ver Cristo tão cedo e, por isso, estava sofrendo o seu luto sozinho, quieto em algum lugar (lembre-se: estamos apenas imaginando; afinal, a Bíblia não nos traz essa informação).

Com muita alegria, os discípulos contam a Tomé que o Senhor lhes havia aparecido, mas em sua miséria e melancolia, ele duvidou. É nesse momento que, ao lermos esses versos, somos tentados a julgar Tomé por sua declaração: “se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei.” (Jo 20.25).

Nós, bem como Tomé, constantemente somos tomados pela incredulidade. Ainda que conheçamos o caráter de Cristo e saibamos que não há absolutamente nada que ele não possa fazer, nós duvidamos e precisamos de provas concretas para crer.

Jesus, Tomé e nós

Jesus voltou a aparecer aos discípulos e, dessa vez, Tomé estava presente. O Senhor conhece intimamente o nosso coração cambaleante e, ainda assim, nos trata com graça.

Em sua segunda aparição, Jesus se volta para Tomé e o convida a tocar em suas feridas.

Oh! Que maravilhoso Senhor! Conhece nossa miséria e ainda assim nos convida a tocá-lo com fé e ousadia.

Há na vida de Tomé uma poderosa imagem de nós mesmos e do nosso Senhor. Por vezes nos encontramos encharcadas de pessimismo e incredulidade, mas o Senhor nos encontra e nos oferece sua graça. Jesus conhecia o coração de Tomé, e ele conhece o nosso coração. Ele sabe que somos pó. Jesus entende nossas fraquezas e nos ama em cada uma delas. Ele é compreensivo com nossas dúvidas. Ele tem compaixão de nossas incertezas. Ele age com paciência com nosso pessimismo.

Tomé é a prova de que Deus usa as nossas fraquezas para que reconheçamos quem ele realmente é e possamos adorá-lo verdadeiramente. Que o poderoso amor de Jesus por nós nos leve também a expressar, como Tomé expressou, com coragem, certeza e alegria: “Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20.28).


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