Os Apóstolos: Judas Iscariotes

Você sabe o que significa legado? Legado é nossa vida contada após nossa morte. É como as pessoas conhecem os nossos feitos; tudo o que fizemos, falamos e pensamos. Agora imagine quanta humilhação é ser reconhecido entre toda humanidade como o maldito, o traidor. É de Judas Iscariotes que estamos falando. 

John MacArthur, em seu livro 12 Homens Extraordinariamente Comuns, define-o da seguinte maneira:

“Ele é o símbolo mais colossal em toda a história humana. Cometeu o mais terrível e hediondo ato individual de todos os tempos. Traiu o filho de Deus, perfeito e sem pecado, por um pouco de dinheiro.” (John MacArthur)

Confesso às irmãs que não é fácil escrever sobre Judas sem sentir uma forte angústia ao lembrar do sofrimento da morte de cruz do nosso Senhor; o Jesus que amamos entregue pelo seu então amigo e discípulo, Judas Iscariotes, por míseras trinta moedas de prata (o equivalente ao preço de um escravo na época). Embora esta não seja uma leitura fácil, quero te levar comigo nessa reflexão sobre a vida do apóstolo e extrair algumas lições do que não devemos imitar ou até mais, do que devemos parar de fazer se quisermos viver como filhas amadas de Deus, que não só seguem, mas amam e obedecem a Jesus Cristo.

Soberania Divina x Responsabilidade Humana

Que tal começarmos pela pergunta de milhões. Afinal, Jesus escolheu um traidor? Deus predestinou a vida de Judas tornando ele, assim, alguém que não tinha escolha (João 6:64)? John Piper diz que a predestinação e a responsabilidade humana caminham de mãos dadas. Sim, Deus preordenou o que aconteceria; Cristo sabia sobre Judas desde o início, mas ainda assim foram as escolhas de Judas, uma após a outra, que o colocaram nesse lugar de traição e culpa, sem nenhum arrependimento (Mateus 27.3-4). Aprendemos que Jesus, em seu ministério, não usou tal conhecimento para fugir da cruz, antes, seguiu passo a passo, conforme as Escrituras predisseram a seu respeito, em direção ao calvário, onde haveria de ser morto pelo pecado da humanidade. Foi em seu caminho para a cruz que ele encontrou o traidor. 

E que não passe pela sua cabeça, nem por um segundo, a falsa conclusão de que teria Deus coparticipação com o pecado de Judas por saber desde o princípio da sua traição. Confiamos que as escrituras do Antigo Testamento profetizaram sobre ele, o ato mais desprezível da história humana fazia parte do plano de Deus (cf. Salmos 41.9, João 13.18, Atos 1.16), mas a responsabilidade da escolha feita por Judas era inteiramente dele.

John MacArthur diz que “Deus ordenou os acontecimentos por meio dos quais Cristo viria a morrer, e, no entanto, Judas realizou seu ato perverso por vontade própria, sem impedimento ou coerção de qualquer força externa. A perfeita vontade de Deus e os propósitos malignos de Judas cooperaram para que Cristo viesse a morrer. Judas o fez por mal, Deus o fez por bem (Gênesis 50.20). Não há contradição.”

Charles Spurgeon, ao falar sobre a tensão entre a soberania divina e a escolha humana, disse: “Se encontro numa parte da Bíblia o ensinamento de que tudo é preordenado, isso é verdade; e, se encontro em outra passagem das Escrituras que o ser humano é responsável por todas as suas ações, isso é verdade; e é apenas minha insensatez que me faz imaginar que em algum momento essas duas verdades podem estar em contradição.”

O que aprendemos aqui, amadas, é que não devemos nos apoiar na certeza de que, porque Deus sabe de todas as coisas, posso me acomodar e agir como bem quiser de qualquer maneira. Não! Somos responsáveis por nossas escolhas e não podemos fugir de suas consequências. No entanto, quando estamos debaixo da mão poderosa de Deus e buscamos viver sob a direção do seu Filho Amado, então cremos que até o maior pecado do mundo é usado por Deus como propósito de salvação.

Judas tinha interesse não em Jesus, mas no que podia tirar dele

“Então, Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava. Jesus, entretanto, disse: Deixa-a! Que ela guarde isto para o dia em que me embalsamarem; porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes.” (João 12.3-8)

Judas era um homem ardiloso, não se deixava enganar, embora enganasse a quase todos do grupo. De maneira hipócrita, ao ver Maria ungir os pés do Senhor com óleo tão valioso, logo levantou-se em favor da causa dos pobres e viu que aquilo era um desperdício de um valor estimado a quase um ano de salário (uma libra de bálsamo de nardo puro valia cerca de trezentos denários, e um denário valia o equivalente a um dia de trabalho). 

Sua reação à adoração de Maria foi um artifício astuto de quem só agia pelo seu próprio interesse. A intenção de Judas não era ajudar os pobres, mas ganhar para si, tirando dos outros. Ele não disse tais palavras por amor aos necessitados, mas porque era ladrão. Judas, como tesoureiro do ministério de Jesus, apesar de ter um cargo de confiança, vivia afundado em seus próprios desejos de ambição e ganância. Não havia em seu coração um amor genuíno por Jesus nem sequer um sinal de transformação. Ele não enxergava nada além do seu próprio ganho e amava mais o dinheiro do que o próprio Jesus.

O mesmo Jesus que foi ungido com o amor inexprimível de sua seguidora Maria foi vendido por trinta moedas de prata pelo seu discípulo traidor. Maria era simples, não tinha cargo, não tinha posição estimada e de alto patamar. Judas era “um dos doze” (Mc 14.10,20; Jo 6.71; Lc 22.3), e teve parte no ministério apostólico (Atos 1.17), operou milagres (Mt 10.1-4), mas ainda assim foi o que escolheu trair o Filho de Deus, o sangue inocente.

O que extrair de uma vida tão miserável e maldita?

Chegamos a um ponto de reflexão e análise do nosso coração. Judas nos mostra que é possível viver ao lado de Jesus e ainda assim ser instrumento de Satanás. Práticas religiosas, operações de milagres e palavras bonitas não são evidências seguras de uma conversão genuína. Sonde o seu coração e cuide para que você não esteja vivendo pelas aparências sem deixar Jesus te transformar.

Judas vendeu a sua alma ao diabo por trinta moedas de prata. É terrível ver o poder do amor ao dinheiro e como ele é capaz de nos cegar para o que é eterno, belo e sagrado. Onde está o nosso coração? Responda para si mesma e lembre-se das palavras de Jesus: ali estará o nosso tesouro. Judas não seguia Jesus por amor, mas por interesse. Por que nós dissemos sim ao Mestre? O que nos motiva a seguí-Lo?

Por fim, a vida de Judas nos ensina que o que nos diferencia dele não é o tamanho dos nossos pecados, não é o tempo que mudou desde que essas coisas aconteceram e muito menos a ideia de que nós somos melhores do que ele. Todos somos miseráveis pecadores corrompidos e necessitados da graça de Deus! Mas o que nos distingue de uma vez por todas de Judas é de que ele não se arrependeu do que fez. O remorso de Judas não apaga os seus pecados, não lava a sua alma com o sangue de Jesus e não tem poder nenhum para salvar. O remorso é a tentativa de enganar, mais uma vez, a Deus. Judas enganou a todos os discípulos, menos a Jesus. Arrependimento gera mudança, remorso não tem poder de gerar absolutamente nada porque é morto, sem vida. Você vive como uma filha arrependida?

Em  As Crônicas de Nárnia, O Cavalo e o Menino, temos a cena do rei Edmundo, o justo, discutindo acerca da punição de um assassino, Rabadash, na qual todos no conselho queriam decepar-lhe a cabeça. O rei Edmundo, porém, disse estas sinceras e sábias palavras: 

“[…] Pura verdade [que ele mereça a morte] — disse Edmundo. — Mas até um traidor pode corrigir-se. Conheço um. — E assumiu um ar pensativo.”

Um traidor arrependido torna-se justo através do sangue de Jesus. Quando olhar para a vida de Judas aprenda o que não deve fazer e o que deve deixar para trás. Quando olhar para Jesus, encontre o olhar misericordioso, justo, bondoso e compassivo, que, apesar de nós e do que nós fizemos, nos amou. Ele nos perdoou. Ele nos regenerou e nos chamou para o Seu reino.


Esse post faz parte da nossa série de postagens com o tema “Os Apóstolos”. Para ler todos os posts clique AQUI.