Os Apóstolos: João

De “Filho do Trovão” a “Apóstolo Amado”, João se destaca como uma figura cativante em qualquer contexto. Autor de um evangelho, três epístolas e o livro do Apocalipse, além de contribuinte ativo na igreja primitiva e um dos discípulos mais próximos de Jesus, suas realizações são impressionantes.

No entanto, este texto vai além dos feitos de João como seguidor de Jesus. Convido você a ver João como um homem comum, cujo coração tempestuoso foi transformado em amoroso, e cujo amor pela verdade impactou muitas vidas.

João e sua fama como Filho do Trovão

Os trovões são intensos e muitas vezes assustadores. Antes de encontrar a Cristo, João, conhecido como o Filho do Trovão, refletia essa intensidade em sua personalidade agitada.

Irmão de Tiago e filho de Zebedeu, um empresário pesqueiro do mar da Galileia, e de Salomé (Marcos 15.40; Mateus 27.56). Sua família teve participação ativa no ministério de Jesus, inclusive financeiramente (Mateus 27.55, 56).

Mas, até conhecer pessoalmente a Cristo, João com certeza  seria o último a ser reconhecido como o apóstolo do amor. Em sua juventude, ele era intenso e explosivo, como MacArthur descreve: “Assim, fica claro a partir dos relatos dos Evangelhos que João era capaz de comportar-se de modo extremamente partidário, ignorante, inflexível, inconsequente e impetuoso. Era uma pessoa inconstante. Era atrevido. Era agressivo. Era intenso, zeloso e pessoalmente ambicioso — exatamente como seu irmão Tiago. Os dois eram farinha do mesmo saco.”

Isso nos lembra que, mesmo hoje, nossas melhores características podem se tornar pedras de tropeço devido à nossa natureza pecaminosa. Querida, já parou para pensar que é comum cairmos nessa armadilha? Nossas melhores características podem ser distorcidas pelo orgulho. Por exemplo, o zelo de João pela verdade podia o afastar do amor e da compaixão pelas pessoas. 

Hoje, vemos em nossa sociedade que o desejo por de sucesso e riqueza, se não equilibrado, pode levar ao egoísmo e à ruína espiritual. Por isso, devemos ouvir a voz de Cristo que nos chama a reconhecer nossas fraquezas e a nos render a Ele, permitindo que Ele seja o centro de nossas vidas. 

João e seu chamado junto às águas tranquilas

Uma praia deserta parece um cenário improvável para o início de uma jornada que mudaria a história cristã, não é mesmo? No entanto, foi nesse contexto que João teve seu encontro com Jesus. Ele estava pescando com seu irmão, Tiago, envolvido na rotina de lançar e recolher redes, quando foi atraído pelo convite de Jesus. Em Mateus 4:18-22, lemos que:

“Enquanto Jesus andava junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando as redes ao mar, pois eram pescadores. E Jesus lhes disse: ‘Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.’ Então, eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram. E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, num barco com seu pai, consertando as redes; e os chamou. Então, eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, o seguiram.”

Jesus os chamou para segui-lo e tornarem-se pescadores de homens. João não hesitou; ele abandonou imediatamente sua profissão para seguir o Mestre, demonstrando uma decisão rápida e determinada.

João deixou tudo para seguir Jesus sem olhar para trás. E nós? Estamos respondendo prontamente ao chamado de Cristo para sermos sal e luz neste mundo caótico ou estamos distraídas por preocupações que não têm Jesus como centro?

O chamado irresistível foi feito, e João o aceitou sem hesitação. Assim começou sua jornada, absorvendo cada palavra de seu Mestre, dos banquetes da comunhão aos momentos de caminhadas poeirentas, guardando todas em seu coração.

João e seu coração transformado

Há três lições preciosas que podemos extrair a partir da vida de João e todas elas têm como centro o processo de santificação. A transformação de um coração tempestuoso para um coração manso e humilde, como o de Cristo. 

  1. João abriu mão do zelo excessivo para amar ao próximo

João era extremamente zeloso pela verdade da Palavra de Deus desde cedo, tanto que reconheceu Jesus como o Cordeiro de Deus e o seguiu. No entanto, sua devoção à verdade muitas vezes o levava à falta de amor e compaixão, como quando proibiu alguém de expulsar demônios em nome de Jesus.

Mas, em Marcos 9, vemos a resposta de Jesus: Não o proíbam! Ninguém que faça milagres em meu nome falará mal de mim a seguir. Quem não é contra nós é a favor de nós”. Essa repreensão impactou profundamente João, que estava começando a compreender a necessidade de equilibrar amor e verdade em seu ministério. Esse foi um ponto crítico em sua jornada espiritual, em que ele aprendeu a importância de amar além de apenas defender a verdade. Essa repreensão foi crucial, começando a transformar João no apóstolo do amor que ele se tornaria.

  1. João abriu mão da ambição para ser humilde

Na juventude, João tinha ambições e planos para o futuro. Não há problema em desejar influência ou sucesso, mas é errado quando esses desejos são motivados pelo egoísmo, como parecia ser o caso de João. Ser ambicioso sem humildade pode levar ao egoísmo ou mesmo à megalomania.

Em Marcos 10, Tiago e João pedem a Jesus para se sentarem à sua direita e à sua esquerda no Reino, ignorando a lição anterior de humildade que Jesus havia ensinado. Mesmo depois de Jesus enfatizar a importância da humildade, eles persistem em seu pedido arrogante.

Seu desejo não era o problema em si, mas sim sua falta de humildade ao buscá-lo. Jesus deixou claro que as posições mais elevadas no Reino eram para os mais humildes. João, eventualmente, aprendeu essa lição e demonstrou humildade em seus escritos.

  1. João abriu mão do conforto para sofrer em nome de Cristo

João foi o único discípulo a viver até a velhice, mas também enfrentou sofrimentos únicos. Testemunhou a crucificação de Jesus e foi exilado em uma ilha, Patmos, onde recebeu e registrou as visões do livro de Apocalipse. Apesar das dificuldades, aprendeu a suportar o sofrimento com esperança na glória do reino prometido. Sua vida exemplifica o equilíbrio entre enfrentar as provações terrenas e ansiar pela glória celestial, tornando-se um modelo de caráter semelhante a Cristo.

Pelo poder do Espírito Santo, as fraquezas de João foram transformadas em virtudes ao longo de sua vida. Até seu falecimento em torno de 98 d.C., durante o reinado de Trajano, João continuou a amadurecer espiritualmente. Mesmo fraco e necessitando ser carregado pela igreja, ele repetia constantemente: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros”. John MacArthur escreve que: Ao ser perguntado por que dizia isso, ele respondeu: “É o mandamento do Senhor e, se de todas as coisas, somente esta for feita, já será suficiente”.

E quanto a nós?

A transformação de João, da fraqueza para a força, é um exemplo inspirador para todos nós que cremos e crescemos em Jesus. À medida que nos santificamos, a força de Cristo se manifesta em nossas fraquezas, moldando nossas ações, palavras e emoções à semelhança dele. Essa transformação é bela e real, permitindo que a vida de Cristo flua através de nós pelo mesmo Espírito Santo que atuou na vida de João. Assim, somos capacitados a amar e compartilhar esse amor onde quer que vamos.


Bibliografia Consultada:

  • 12 homens extraordinariamente comuns: Como os apóstolos foram moldados para alcançar o sucesso em sua missão, John MacArthur.

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