Onde Estão os Profetas que Não Recebem Honra? (Sobre Missões Locais)

Sempre que ouço sobre missões logo meus pensamentos se dirigem aos nossos irmãos e irmãs que estão, neste momento, em países onde não há liberdade para a pregação do Evangelho de Jesus.

O contexto que vem em minha mente é o da perseguição com toda a violência e tristeza que ela representa, mas (e agora escrevo extremamente constrangida e envergonhada)  sequer penso sobre o meu dever missionário, enquanto membro de uma igreja local, na cidade onde moro ou, ainda, entre a minha família.

Com certeza, muitos de nós podemos, neste momento, lembrar daqueles nossos parentes que ainda não foram alcançados pelo Evangelho, nossos vizinhos, colegas de trabalho ou faculdade, os comerciantes que têm seus negócios perto de nossas casas, aquela pessoa que sempre nos cumprimenta na rua quando passamos por ela, os garis que trabalham na limpeza das ruas da cidade. O apóstolo João registrou o alerta do próprio Cristo:  “vejam, os campos já estão brancos, prontos para a colheita” (cf. Jo 4:35), porém baixamos nossos olhos e seguimos perdendo as oportunidades ou não perseverando na pregação pela aparente falta de sucesso.

No entanto, quero lembrar a vocês sobre uma situação narrada nas Escrituras a respeito do Senhor Jesus: apesar de trazer as Boas Novas para Nazaré, a cidade onde viveu com sua família, mesmo sendo o Filho de Deus, não foi bem recebido.

Nossa referência de Missões Locais

Segundo o relato do evangelista Mateus, enquanto Cristo ensinava na sinagoga e as pessoas se maravilhavam com sua sabedoria, ao mesmo tempo questionavam, “ora, não é este o filho do carpinteiro? O nome de sua mãe não é Maria, e o de seus irmãos: Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13:55). Aqueles ouvintes, por terem acompanhado o crescimento de Jesus Cristo e sua vida familiar na cidade, recusavam-se a acreditar que ele era o Messias prometido e anunciado pelos profetas do Antigo Testamento (cf. Lc 4:16-21) e, então, o expulsaram da cidade.

Antes de ser expulso Cristo declarou: “Somente em sua própria terra, junto aos seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não é devidamente honrado” (Mc 6:4). Com certeza, ele não estava preocupado primariamente em ser honrado pelos habitantes de Nazaré, mas tinha em mente que o Pai o enviou para os seus. Nesta ocasião, Cristo nos ensina que não devemos hesitar ou temer em falar a Verdade, os laços familiares e de amizade não devem se tornar um impedimento para anunciarmos a salvação.

No exato momento em que recebemos a mensagem do Evangelho, por meio da fé em Jesus Cristo e pela ação do Espírito Santo, nos tornamos portadores das Boas Novas e somos incumbidos da missão de pregar o glorioso Evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê no sacrifício de amor por nossas almas, ou seja, nossos familiares, os vizinhos de casa, os colegas de trabalho e faculdade, a mãe do coleguinha de escola do seu filho, o gari que limpa a rua da sua casa, enfim, os habitantes da sua cidade (cf. Rm 1:16).

Assim como o Senhor Jesus, fomos enviados para os nossos, mas não nos cabe saber, e nem deve ser a nossa preocupação, se irão nos  receber ou nos honrar ouvindo a Verdade que temos que anunciar a eles. Precisamos nos lembrar que todos os dias somos enviados como ovelhas para o matadouro, sofrendo pressões de todos os lados, como aflições, dúvidas e hostilidades, mas nunca estaremos desamparados e nem seremos derrotados, afinal, não existe neste mundo maior honra do que a de ser embaixador do Rei dos reis e Senhor dos senhores. 

Por onde e como começar?

Atualmente a Igreja brasileira tem concentrado o seu foco na manutenção do Evangelho dentro de seus muros, para a manutenção da vida em Igreja, mas pouco tem se preocupado com os que ainda estão fora dela, os que ainda estão nas trevas. Temos a melhor notícia de todas, temos a Salvação para partilhar, no entanto, a retemos conosco.

Muitas vezes nos perdemos em nosso denominacionalismo, em nossas defesas de sistemas bíblico-teológicos, nas interpretações de profecias escatológicas, nos debates sobre a economia de Deus com a humanidade, em nossa erudição acadêmica; e tudo isso tem seu lugar de importância na Igreja, mas não é a sua missão principal. A verdade, é que ficamos “inchados” de conhecimento e nos esquecemos que a teologia foi nos dada para a prática, para a pregação que visa a salvação dos pecadores.

Somos muito corajosos e combativos entre nós, entre a Igreja, na defesa de posicionamentos teológicos, mas a verdadeira prática da defesa da fé, a que produz frutos, é aquela feita perante os que ainda não conhecem o Evangelho. Ao anunciá-lo não podemos prever o que vai acontecer, se seremos amados ou odiados depois de falar ou de agir segundo as Boas Novas da Salvação, todavia, devemos fazê-lo em santa intrepidez para a glória de Deus, ainda que não reste honra alguma para nós.   

Gosto muito da analogia trazida por C.S. Lewis quanto a Aslam, a personagem que representa Jesus em As Crônicas de Nárnia, ser um Leão que não pode ser domesticado, pois ele tem livre curso, faz tudo como lhe apraz. E é exatamente assim que precisamos entender os efeitos da nossa missão em pregar a Cristo às pessoas, em toda sua graça, poder e verdade; não podemos manter o Leão em uma jaula por medo do que pode acontecer, é nosso dever soltá-lo. 

Ao sermos ministrados em nossas igrejas locais, estamos, culto após culto, sendo capacitados pelo Espírito a pregar a Palavra de Deus aos que estão nas trevas do pecado, somos sal da terra e luz do mundo. Não se esconde a luz, pois ela foi feita para iluminar a todos; nem se pode manter o sal concentrado em um recipiente, ele precisa ser espalhado para dar sabor ao que não tem gosto, não tem vida.

O autor Edison Queiroz, em seu livro A Igreja Local e Missões, ensina em passos simples como uma igreja pode fazer missões:

  1. confie em Deus, afinal, ele nos capacita para sua boa obra. Cristo nos conhece; temos um Sumo Sacerdote que compreende nossas fraquezas, ele nos ajudará.
  1. inicie um movimento de oração, pois é através da oração que as oportunidades e os missionários para a pregação do Evangelho surgirão.
  1. incentive os membros de sua igreja a se engajarem na obra missionária, trazendo testemunhos de quem está no campo e, principalmente, por meio do discipulado, busque ser um exemplo e apoie outros nesse chamado.
  1. financie a obra missionária, encorajando os membros de sua igreja local a se envolverem com projetos e ações contribuindo financeiramente para propagação das Boas Novas em sua cidade e também a unirem-se com outras igrejas locais com o objetivo de formar missionários.

Cientes da nossa missão, por amor a Cristo, não se acomode. Nas palavras atribuídas a Francisco de Assis: “Pregue o Evangelho em todo o tempo. Se necessário, use palavras”, seja um cristão que honre ao Senhor vivendo de acordo com o Evangelho (cf. Fp 1:27). Lembre-se que o objetivo da Igreja, e também a sua missão, é a pregação das Boas Novas de Salvação. 

Então, arregace as mangas! Peça ao Senhor da seara para que envie mais trabalhadores, pois os campos estão brancos e quão belo será ver o Leão correndo por eles (cf. Is 52.7). Que você possa ter a mesma coragem de Jesus em Nazaré, que não quis a honra dos homens, mas antes foi honrado  por Deus sendo a ele obediente em tudo, cumprindo fielmente sua missão. 


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Agosto com o tema “Missões”. Para ler todos os posts clique AQUI.