A Igreja Perseguida

“Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele.” 1 Coríntios 12.26

Estou escrevendo este texto em uma segunda-feira à tarde depois de um domingo cheio: escola bíblica dominical com ensino sobre Lamentações 3:33 e as misericórdias do Senhor que se renovam a cada manhã para a sala da turma de 10 a 11 anos, Escudos da Fé,) aniversário do amigo do filho com direito a oração antes do ônibus que levaria a turminha para jogar bola em um sítio partir, e culto de adoração a noite com a família inteira sentada no último banco da igreja, porque chegamos um pouquinho atrasados (não foi culpa da única mulher da casa que se arruma em dez minutos).

Um domingo bastante atarefado e comum, quase que ordinário, para uma família cristã que mora em uma cidade do interior. A liberdade de poder ensinar a Bíblia, orar em público em nome de Jesus e poder cultuar ao único Deus em um lugar especificamente destinado a isso, não tem preço. E nunca lembro de agradecer por isso.

Não nos lembramos que existem irmãos nossos em diferentes lugares do mundo que nunca vivenciaram um domingo assim, ou qualquer outro dia da semana, pois, por professarem sua fé em Cristo e na salvação que Ele os deu, são perseguidos. Perseguidos por opressão política, nacionalismo religioso ou paranóia ditatorial.

História de perseguição

A perseguição contra o bem começou no Éden e, até hoje, a batalha entre o bem e o mal é vista com horror e choca observadores como nós, brasileiros do século XXI, que desfrutam desse longo período de liberdade. Porém, a história nos mostra que não há garantias de que essa liberdade continue.

Depois da morte de Jesus na cruz, as perseguições eram esporádicas e localizadas. Quando Nero incendiou Roma, fazendo dos cristãos o seu bode expiatório, a perseguição se espalhou e muitos os cristãos foram torturados e queimados. A consequência disso é que boa parte do novo testamento foi escrita na prisão. Nesse ponto, a perseguição já era considerada parte da experiência cristã e durante bastante tempo os bárbaros e o islamismo trariam muita dor e sofrimento aos cristãos.

Nem mesmo a reforma protestante escapou da perseguição espiritual no século XVI. Entretanto, anos mais tarde, uma certa tolerância é iniciada junto ao movimento “iluminista” que pregava que a religião deveria ser separada da vida secular. Nesse período, vale destacar a obra do escritor John Foxe, “O livro dos mártires”, que foi muito influente na Inglaterra. Nela, o autor conta a história de alguns heróis da igreja e apresenta a interessante história de um deles que, ao caminho da fogueira onde seria executado por professar sua fé no Salvador, pede que parte daquela lenha seja levada às famílias que estavam passando frio, além disso, ao passar por um pobre na rua onde seria queimado vivo, ele tirou os sapatos e deu àquele homem.

Já no século XX, o regime nazista de Hitler conseguiu com que uma parte da igreja cristã colaborasse com o estado Alemão. Eles coordenavam um campo de concentração entre 1943 e 1945, onde centenas de pessoas eram obrigadas ao trabalho forçado, como parte de um plano de Hitler de criar uma Igreja Nacional, baseada na ideologia nazista. 

“… alguns pastores e cristãos pagaram com a própria vida por se posicionarem contra o regime nazista, como Dietrich Bonhoeffer. O ministro da Igreja Luterana e professor universitário deixava claro a posição contra a ditadura nazista e defendia que a igreja precisava se opor à injustiça do Estado e tinha o dever de apoiar as vítimas, mesmo elas não pertencendo à comunidade cristã, como era o caso dos judeus. Ele foi membro fundador da Igreja Confessante em 1934, ala protestante contrária ao nazismo. Mas em 1943, foi preso, passou pelo campo de concentração de Buchenwald e foi enforcado em abril de 1945.”  

Anos mais tarde, os líderes dessas igrejas reconheceram o erro e contribuíram com 4,9 milhões de dólares para um fundo de auxílio para as vítimas do nazismo.

Hoje, ainda há milhões de cristãos que sofrem com seus líderes ofensivos e agressivos, como é o caso dos nossos irmãos chineses. Após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, um novo ditador chegou ao poder da China e impôs um regime comunista e ateísta na Coreia do Norte. Iniciou-se uma guerra civil que separou a Coréia em dois países, Coreia do Norte e Coreia do Sul. A partir de então, muitos cristãos fugiram e outras dezenas de milhares de foram mortos, presos ou banidos do país. A igreja passou a ser clandestina e não poderia ter presença visível como antes. O país é número 1 na Lista Mundial da Perseguição desde 2002.

Portas Abertas

A Lista Mundial da Perseguição é uma maneira da organização Portas Abertas monitorar e medir a perseguição de cristãos no mundo (para mais informações e detalhes acesse este link). O Portas Abertas, fundado na Holanda em 1955, atua em mais de 60 países, “apoiando a Igreja Perseguida por meio de projetos realizados em lugares onde acontece a perseguição, para que a igreja local seja fortalecida e permaneça viva sendo o sal da terra e a luz de Cristo onde estiver.” 

O trabalho da Portas Abertas tem sido de muita importância para o fortalecimento da Igreja Perseguida. Sem esse apoio, nossos irmãos que sofrem com perseguições teriam muito mais dificuldades em continuar sendo o sal da terra e a luz de Cristo por onde passam. Estima-se que mais de 360 milhões de cristãos no mundo enfrentam algum tipo de oposição por seguirem a Jesus, enfrentando desde a proibição de compra de itens básicos, como alimentos, até a morte. A Portas Abertas ouve as necessidades dos cristãos perseguidos, identifica os problemas e planeja o socorro às comunidades, além de promover distribuição de Bíblias e oferecer ajuda econômica e jurídica às famílias e indivíduos que se encontram em situação vulnerável pela perseguição em seus países de origem ou de moradia.

Todos podemos colaborar com esses projetos. Além de socorrer nossos irmãos, nossa fé é aprofundada e enriquecida por meio dos testemunhos de união e transformação de nossos irmãos que sofrem ao redor do mundo e têm os direitos negados por escolherem seguir a Jesus. 

Perseverando e amando a igreja

Os relatos de Lucas no livro de Atos dos Apóstolos nos mostram como a igreja primitiva lidou com a perseguição e outras palavras não descreveriam tão bem o que eles tinham senão perseverança e amor.

É raro encontrarmos dificuldade em professar a nossa fé diante de familiares, amigos e entre irmãos, por isso, a palavra perseverança parece tão longe de nossa realidade como cristãos. Gostaríamos que, com esse texto, você refletisse sobre a importância que essas duas palavras têm para a proclamação do Evangelho, enquanto igreja que somos. A cada relato e testemunho de nossos irmãos perseguidos, contemplamos o amor e a perseverança deles em anunciar o verdadeiro Evangelho.

É possível sentir neles a fé em quem irá terminar a obra que começou. Jesus Cristo, nosso Salvador, o único Filho de Deus, é a nossa bandeira em meio à perseguição. Por causa dele podemos caminhar com ousadia como vencedores, porque grandes coisas tem feito por nós. Nosso papel é olhar os campos e sair com as mãos cheias de sementes, mesmo que no meio do choro e da dor. Devemos continuar servindo e semeando, orando e nos consagrando; e precisamos fazer isso com amor.  

Precisamos acreditar no legítimo Evangelho e, mesmo que ele traga perseguição, precisamos defendê-lo das mentiras que muitas vezes se transformam em outro tipo de “boas novas”. É no amor de Jesus Cristo que encorajamos a toda igreja a viver no amor de Deus, participando da graça que nos capacita a passar por perseguições.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Agosto com o tema “Missões”. Para ler todos os posts clique AQUI.