O Vingador delas é forte – sobre minha viagem à Bolívia em 2013

Os muros são altos, o ambiente é sujo, a atmosfera opressora. E em meio a assassinos, estupradores, ladrões, e traficantes de drogas, elas correm e brincam, vivendo uma vida completamente diferente das crianças que conhecemos, mas vivendo a única forma de vida que elas conhecem como normal.

Assim é a realidade de mais de 3.000 crianças que residem dentro de presídios na Bolívia. Isso acontece porque um de seus pais está preso e sua família do lado de fora não tem condições de cuidar da criança, o que acarreta na mudança dela para dentro do ambiente opressor de um cárcere, algo que a lei boliviana permite e é considerado normal pela maioria da sociedade.

Quando essa situação é denunciada pela mídia, o governo sofre pressão e medidas são anunciadas, mas geralmente não vão muito além da retórica. Há muitos relatos de casos de abusos sexuais, violências e assassinatos dos quais nós nem sequer sabemos. Ter sido criado num ambiente com tanta exposição ao crime e violência, sob a vergonha e reprovação da sociedade, tem um impacto difícil de estimas para a vida futura destes pequeninos. Recentemente, em agosto de 2013, uma criança foi morta durante uma rebelião no presídio de Palmasola, em Santa Cruz de la Sierra.

Em Setembro de 2013 o Senhor deu a mim e mais oito amigos a oportunidade de entrar em um desses presídios e conhecer essa realidade terrível. Vimos crianças que sorriam e brincavam, mas que perderam o brilho nos olhos e que, visivelmente, não estavam felizes. Vimos uma realidade que nunca deveria ser contemplada por uma criança, um lugar que nunca deveria estar ao alcance de pequenas vidas. Conhecemos também presidiários que buscam em Deus uma saída para a vida miserável que conhecem. Pessoas que nos pediram oração por suas famílias que não os visitam há anos. Homens que se sentem completamente abandonados. Pessoas que ouviram o Evangelho, que tiveram a semente plantada no coração e que oramos para que frutifique. Almas sedentas por Cristo.

Entretanto, apesar do cenário vil e triste que parece predominar, há beleza naquele lugar.

Visitamos uma igreja implantada dentro do presídio por uma missionária coreana que se doou completamente para ver o caráter de Cristo formado naqueles presos. Essa mulher de Deus chegou até mesmo a mudar-se para dentro da prisão e, por anos, pregou o Evangelho a homens e mulheres internos, muitos deles hoje pastores e missionários fora da prisão, pois já cumpriram suas penas. Tivemos a oportunidade maravilhosa de conhecer um ex-presidiário que fazia parte de uma das gangues mais perigosas de dentro do presídio e hoje é o braço direito da missionária, um homem que nos tratou como irmãos amados, que nos mostrou como o serviço e a humildade cristã devem ser. Vimos um orfanato cuja estrutura física está perfeita e pronta para abrigar cerca de 100 crianças retiradas da prisão, mas que hoje está desativado por falta de apoio financeiro.

Tivemos também a alegria de passar uma semana em um outro orfanato, em Puerto Suárez, que foi aberto e é sustentado pela Expedição Mochila, uma organização cristã formada por brasileiros e que tem o objetivo de tirar as crianças dos presídios. Conhecemos 13 crianças que vivem nesse lugar e que são completamente diferentes dos pequenos que vimos dentro da prisão. Crianças que já foram maltratadas, abandonadas, negligenciadas, algumas órfãs, algumas cujos pais ainda estão presos, mas todas expressando a alegria de ter hoje um lugar onde se abrigar, uma missionária que cuida deles em tempo integral e, acima de tudo, um Deus que agora elas conhecem e amam. Essas crianças são um exemplo de redenção. De crianças que viviam numa realidade opressora, elas passaram a ser crianças que são amadas, cuidadas e queridas.

Irmãos, e conosco não foi assim? Chegamos a Deus assustados, cheios de sujeira em nós, mas Ele com Seu grande amor nos tocou, nos regenerou, nos transformou totalmente, e de repente podemos sorrir, podemos amar, sentimos paz na presença dEle. E pra que mais vivemos senão para ver e promover essa transformação em outros?

A Expedição Mochila tem tentado fazer isso. No próximo ano eles assumirão a direção daquele orfanato de Santa Cruz de la Sierra, que está pronto para receber mais de 100 crianças. Eles tentarão retirar essas crianças de dentro do presídio que visitamos. E mais do tirá-las dos presídios e dar a elas uma vida mais segura fisicamente, o maior desejo de todos nós é vê-las em um ambiente onde a Palavra de Deus será pregada, onde suas almas sedentas encontrarão paz, onde elas ouvirão da cruz de Cristo e da salvação que nela há. O objetivo maior de todo esse projeto é anunciar as grandezas daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (cf. 1 Pe. 2:9), fazer o nome de Jesus Cristo conhecido na Bolívia. Essas crianças são o futuro da igreja boliviana!

Amados irmãos, orem por isso. O inimigo tem vencido, ele tem oprimido essas pequenas vidas por todos os lados. Mas, Maior é o que está em nós do que o que está no mundo. Ajudem de todas as formas que puderem, esse orfanato precisa ser aberto o mais rápido possível e isso depende da Igreja, depende do povo de Deus. Nós iremos tapar nossos ouvidos ao clamor dessas almas? A Palavra do Senhor diz que o justo informa-se da causa dos pobres e oprimidos, mas que o insensato de nada disso quer saber (cf. Pv. 29:7). Agora que nós sabemos dessa triste realidade temos a responsabilidade de fazer alguma coisa. Orar, doar, ir e servir. Deus quer que você seja Suas mãos e pés para as crianças da Bolívia.

Nós que estivemos lá e vimos essa realidade de perto sabemos o quanto um lar fora da prisão faz a diferença para essas crianças. Enquanto nós não as conhecemos, elas são apenas números e estatísticas. Crianças distantes de nós que sofrem como muitas outras pelo mundo. Mas, hoje elas são realidade em nós, são marcas que levaremos para o resto da vida. Nós pegamos em suas mãozinhas enquanto ouvíamos a lição, vimos seus olhinhos brilhar enquanto nadávamos num dia quente, as seguramos no colo quando o cansaço batia e elas dormiam ao final do culto. Essas crianças são reais. As outras três mil também são. E agora nós somos responsáveis por elas, você e eu.

O que aprendi na Bolívia é que Deus é mais.

Deus é mais. Mais que minha fraqueza; mais que a pobreza; mais que a dor; mais que a culpa. Click To Tweet

Mais que meu medo e minha fraqueza; mais que a pobreza; mais que a dor; mais que a culpa; mais que piolhos, sarnas e mosquitos. Mais que nós. Mais que tudo. Eu vi sorrisos e vi lágrimas; vi escuridão e vi beleza. E eu vi uma obra que precisa ser feita. Uma obra que não é nossa, é dEle. Por tudo isso podemos descansar em saber que enquanto nós lutamos por essas crianças com nossos fracos braços, o Senhor luta por elas com braço forte.

Porque o Vingador [dos órfãos e viúvas] é forte.” (cf. Pv. 23:11)

Para saber mais sobre como ajudar esse projeto, por favor visite http://www.em.org.br.

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Enquanto vocês leem esse testemunho de minha viagem em 2013 eu estarei novamente em solo boliviano, novamente levando o Evangelho de Cristo a esse povo. O Senhor me levou há 2 anos e me permitiu agora ir de novo. Ele é bom! Você pode orar por mim? Estarei na Bolívia dos dias 9 a 18 de Julho, com mais cerca de 20 pessoas de minha igreja. Peça que o Pai cuide de nós e nos permita ser Seus pés e mãos ali. Obrigada!

Em Cristo,
assinatura

P.S.: Esse post é programado, enquanto ele é postado eu estou sem internet por lá, rs.