O Suicídio e a Cosmovisão Cristã

Há mais suicídios no mundo do que assassinatos, pense nisso por um momento. Mais de 50% das pessoas no mundo já pensaram em se matar como uma saída honorífica para seus problemas. Infelizmente, o suicídio está presente em todas as classes sociais, em todas as faixas etárias e em todos os seguimentos religiosos. Entre jovens e adolescentes, ele é a segunda causa de mortes, perdendo apenas para acidentes. Vimos durante o mês de Setembro ações para educar a população sobre doenças mentais e suicídio. Em muitas  igrejas há abertura para que os membros ouçam e possam ser ouvidos sobre esses assuntos hoje em dia. Contudo, apesar desses canais de diálogo, a igreja de Cristo continua sofrendo com mortes e tentativas de suicídio. Como devemos agir? Será que podemos fazer algo mais e aliviar o sofrimento que a Bíblia retrata que a humanidade pode sofrer desde Gênesis 3 até Apocalipse?

O que leva ao suicídio?

Segunda a Organização Mundial de Saúde (OMS) o suicídio é o ato deliberado de por fim à própria vida, seja por impulso ou premeditação, podendo adir de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. Definindo assim, podemos então concluir que as causas mais comuns do suicídio podem ser a depressão (a maior delas), o medo, a insegurança, o desejo de controle e a desesperança.

Embora o diálogo esteja aberto, a igreja de Cristo ainda tem visto a depressão erroneamente e isso prejudica o tratamento eficaz desta doença. Não nos deixemos enganar: uma pessoa piedosa e cheia do Espírito Santo pode sim ter depressão (recomendo que leiam o livro de John Piper “O Sorriso Escondido de Deus” se tiverem alguma dúvida quanto a isso). Essa doença parasita, que toma conta do corpo prejudicando-o e, às vezes, levando quem a deixa o dominar à prática do pecado, precisa ser tratada (que fique claro que ter depressão não é pecado e o pecado não é o estopim para o suicídio, mas ele pode ser o meio e o fim – pense em uma pessoa infeliz no casamento que acha que o adultério resolverá seus problemas). E o tratamento deve ser com fé, remédios e terapia. Se você encontra um irmão em Cristo e ele lhe conta que está com dores no peito, você não vai o aconselhar somente e orar e ler a Bíblia. Por que, então, faríamos isso com quem sofre de depressão?

Recentemente ouvi de uma pessoa próxima e que eu admiro muito por sua fidelidade e vida piedosa com Deus que ela havia tentado suicídio. Confesso que como a maioria das igrejas pensam eu pensei também: “Como pode? Como alguém cheio do Espírito Santo pode ter pensando em tirar a própria vida? A vida que Deus deu a ela para que O glorificasse através de sua passagem nessa Terra? O que leva alguém a fazer isso?” E então, estudando para escrever esse texto, eu me deparei com o motivo da depressão, do medo, da insegurança que leva uma pessoa pensar ou cometer suicídio: a condição de ser humano. Adão e Eva, ao pecar, nos tiraram os privilégios de viver um paraíso na Terra. Agora somos pecadores. E essa condição nos tira o privilégio de vivermos inteiramente nossa vida olhando para o alto apesar das sombras da morte que encontramos pelo vale.

Há perdão para pensamentos suicidas?

A afirmação que todo suicida comete pecado imperdoável é mentirosa. Deus é o único capaz de conhecer profundamente o coração do homem e ninguém além dEle tem a capacidade de julgar para onde irá a alma de outrem após sua morte. O único pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo e não o suicídio. Em Mateus 12.31-32, os fariseus acusavam Jesus de expulsar demônios não pelo poder do Espírito Santo, mas pelo de Belzebu, o pior deles.

Deus nunca permitirá que nos assentemos na cadeira de juiz. O melhor que temos que fazer é nos calar em vez de julgar. Só Deus conhece realmente os verdadeiros motivos de alguém e, pelo sacrifício redentor de Seu Filho, Ele pode nos julgar e perdoar. O reverendo Hernandes Dias Lopes diz sabiamente que “não podemos subestimar a misericórdia de Deus.” Nem o ato, nem o pensamento suicida condena alguém à separação eterna do amor de Cristo. Nem morte nem vida poderá nos separar.

O ato e o pensar em suicídio com certeza quebra o sexto mandamento, mas nenhum cristão pode perder sua salvação. Ser pecador por natureza não anula a cruz de Cristo. Mais uma vez o reverendo Hernandes nos lembra: “salvação e suicídio são duas questões separadas”.

Se até quem cometeu o ato de tirar sua própria vida pode receber o perdão eterno, da mesma maneira, as pessoas que pensaram ou tentaram o suicídio têm seus pecados perdoados em Cristo. Aquele que por nós morreu e em nosso lugar sofreu toda a ira de Deus destinada a nós, disse em seu último fôlego de vida no madeiro: “Está consumado.” Nossos pecados foram pagos pelo sangue inocente de nosso Senhor Jesus, o Cristo.

No meio evangélico, é comum vermos, erroneamente, a comparação de pessoas que tentaram suicídio com Judas Iscariotes. Judas pereceu porque não era convertido e muito menos se arrependeu. Ele teve remorso. O verdadeiro arrependimento vem de um coração que muda sua vida e seus pensamentos pela fé em Deus. Esse arrependimento leva à conversão e dá vida. O remorso só traz morte. E foi por isso que Judas ceifou sua vida.

Alguns mitos precisam ser desenraizados. Existe o do “não adianta ajudar uma pessoa com tendência suicida”. Sue Klebold era mãe de um dos dois jovens que se suicidaram antes de matarem 13 pessoas e deixarem várias feridas na Columbine High School no estado americano de Colorado há mais de 20 anos. Em uma de suas palestras encontradas na internet, a ativista em prevenções de suicídio diz que é constantemente questionada se ela não percebeu sinais de comportamento suicida e homicida em seu filho Dylan, de 18 anos. Depois que a sensação de levar uma facada no estômago passa, ela responde que só o amor que ela sentia pelo filho não foi o suficiente para perceber que havia algo de errado com ele. Ela tem certeza de que se tivesse oferecido ajuda, talvez fazendo as perguntas corretas, a vida de seu filho e daqueles outros jovens poderiam ter sido poupadas. Ela termina a palestra dizendo que nunca deveríamos parar de tentar entender o incompreensível. Jó, em seu livro, nos diz que o sofrimento é um problema inexplicável, porém, ele sabia que seu Redentor vive. Essa é a ajuda que todo cristão precisa em meio ao sofrimento: ser lembrado que Cristo é o seu Redentor e que Ele o resgata das sombras quando parecer não haver um fim em vista.

Outro mito é que “só uma pessoa sem Deus pensa ou comete suicídio”. Isso não é verdade. A Bíblia mostra que Moisés, Jeremias, Jó, Jonas e Elias desejaram a morte em momentos de profundo desespero. O problema é que a depressão faz com que a pessoa chegue a um momento tal que ela perde a capacidade de gerenciar seus sentimentos, e nesse momento de vulnerabilidade ele pode tirar sua vida. Reforço a ideia de que depressão precisa de tratamento adequado. Deus tratou o desespero de Elias com descanso e fazendo-o desabafar.

Se você tem tido pensamentos suicidas, procure ajuda imediatamente ou ligue para o número 188. Deixe-se ser ajudado. Procure seu pastor, um amigo, um familiar. Não acione sua própria mão contra sua vida usando seu falho entendimento de que sabe que tem o controle sobre ela. Lembre-se de que ninguém é autossuficiente e todos precisam de ajuda.

 Peça ajuda.


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