O senhor pecado e o Senhor Jesus

Eu sempre me surpreendo com a capacidade tremenda que o apóstolo Paulo tinha de escrever coisas tão profundas de maneira que fossem compreensíveis a nós, desde os mais intelectuais até os mais simples. O capítulo 6 do livro de Romanos é um desses textos, onde o apóstolo faz uma explanação incrível sobre o pecado – o que ele é, o que ele não é mais, o que ele faz, e o que ele não precisa mais fazer.

De maneira simples e profunda Paulo nos mostra nesse capítulo que o pecado era nosso mestre, nosso dono (v. 17) , nos mantendo em suas correntes, nos torturando e pesando, e nos dando, finalmente, morte (v. 21 e 23). Imagine isso – ser escravo durante toda a sua existência e ao final da vida não receber nenhuma paz, nenhum descanso, nenhuma pausa. Apenas morte – eterna, completa, final.

Que senhor terrível e cruel era o pecado.

Mas logo em seguida vemos a gloriosa mudança no script: um dia, enquanto estávamos em nossas correntes, penando sob o cruel senhorio do pecado, Jesus veio e morreu a morte que era nossa (v. 5 e 8). Sofreu a tortura que era nossa. Pagou o preço por esses miseráveis escravos, preço alto, preço de sangue. E então, com gentil mão, Ele abriu nossas correntes, nos levantou, limpou nossas feridas, nos deu novas vestes, e nos disse que seria nosso novo Senhor, nosso novo dono (v. 22). Agora não mais escravos do pecado, nos tornamos escravos de Deus – um Senhor bom e amoroso, que nos promete eterna paz e alegria.

Mas o triste é que humanos que somos vez ou outra ainda queremos voltar ao nosso antigo senhor. Pensamos que os prazeres momentâneos que ele dá são suficientes para compensar a profunda dor que vem em seguida. O cálice que o pecado nos dá a beber é doce na boca e profundamente ácido no interior. E apesar de nosso novo Senhor, Jesus, nos oferecer um momentâneo cálice amargo que por fim será eternamente doce (2 Co. 4:17), nós preferimos a alegria momentânea e terrena do senhor pecado.

Infelizmente eu tento me amoldar ao senhor pecado muito mais do que gostaria, seja em minhas roupas, meu falar, nos lugares que frequento, nas coisas que assisto, e principalmente, naquilo que penso e sinto. E eu digo para mim mesma: ninguém sabe, e ninguém vê.

Mas, as consequências que seguem esses pecados são sempre, sempre tangíveis. Eu sempre posso vê-las reais e quase que imediatas – seja na minha mudança de atitude, seja no distanciamento daqueles que amo, seja na falta de sabedoria para escrever e frutificar. E principalmente, vejo as consequências tangíveis do pecado no meu distanciamento do meu doce Senhor Jesus. Quanto mais volto às minhas antigas correntes, menos íntima e próxima me sinto de meu novo Senhor, que morreu justamente para quebrar minhas correntes.

Não há nenhum pecado que não venha selado com seu salário: a morte. Pode ser de amizades, de relacionamentos, de paz, de inspiração. Alguma coisa sempre morre.

As consequências que seguem o pecado são sempre, sempre tangíveis. Alguma coisa sempre morre. Click To Tweet

Demorei 25 anos de vida e 9 anos de conversão pra chegar a um ponto onde percebo o quão palpáveis as consequências do pecado são, mesmo dos mais secretos, e o quanto Paulo tinha razão em lembrar a igreja de Roma da necessidade de não voltar ao senhor pecado, mas viver sob o senhorio doce de Jesus.

E sabe, conforme eu me lembro do quão cruel o senhor pecado é, e das consequências amargas que ele traz, mais fácil se torna, ainda que um pouco, conseguir escolher a dupla “difícil & certo” ao invés da “fácil & errado”, quando chego nas encruzilhadas da vida, nos momentos de tentação, onde minha lealdade é testada. E é só pela graça que escolho o Senhor Jesus e não o senhor pecado. Com o tempo eu passo a ser mais sensível às consequências dos meus pecados secretos, e enxergar a morte que eles sempre trazem.

Louvado seja Deus por essa eterna promessa que Ele fez aos seus miseráveis, pobres escravos:

Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna. (Romanos 6:22)

Vida eterna. Não mais correntes. Eu não preciso mais viver assim, caindo, caindo, me sujando, sentindo o amargo na boca. Eu posso ter vida eterna, posso ter vestes limpas, posso ser diferente do que fui. Há força e poder dEle em mim pra isso. Ele disse, através de Paulo, “Amada filha minha, você foi liberta do pecado” (cf. v. 22).

Livre sou.

Que eu viva sob o forte e poderoso peso dessa realidade.