A satisfação do justo (Um estudo no Salmo 1)

O Salmo 1 é famoso na tradição cristã, sendo um dos textos que fixa-se em nossa mente, gerando afeição pela profundidade e ao mesmo tempo simplicidade de sua mensagem. Hoje, minha proposta com esse artigo é poder captar o que esse texto nos ensina acerca de nós mesmos, através do conhecimento que o Salmo nos dá de Deus.

Dessa forma minha ideia é usar o Salmo 1 como um espelho que me leva a me ver melhor. Sim, o Salmo 1 tem essa força! Davi, provável autor do Salmo, inspirado pelo Espírito, escreveu um dos mais notáveis textos bíblicos (se é que existe texto mais notável que o outro na Bíblia). Primeiramente, para que esse texto torne-se significativo e compreensivo, convido você a fazer a leitura do Salmo 1 completo:

Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores!
Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.
É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!
Não é o caso dos ímpios! São como palha que o vento leva.
Por isso os ímpios não resistirão no julgamento, nem os pecadores na comunidade dos justos.
Pois o Senhor aprova o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição! (Salmos 1:1-6)

O Salmo 1 é de uma categoria de “Salmos didáticos”, e isso já se percebe na própria ordem de argumentos. Nos dois primeiros versos Davi explica o que faz um homem alegre, completo, satisfeito. Mas Davi não é nada óbvio na sua abordagem, repare que ele começa com uma negativa: “bem-aventurado o homem que NÃO”. É possível que logo de início o autor bíblico já trabalhe para desconstruir falsos conceitos sobre felicidade. Muito provavelmente o leitor israelita, destinatário primário de Davi, fosse muito parecido conosco, e já tivesse seu pré-conhecimento sobre felicidade.

Nós achamos que sabemos o caminho onde a satisfação de nossa alma pode ser encontrada. Às vezes enxergamos um relacionamento como o meio ideal para a plena satisfação, outras vezes achamos que a satisfação da alma esteja numa vida bem estruturada, minimamente organizada e sistematizada, com tudo sob nosso controle. Outras vezes pensamos o contrário, achando que vivendo sem preocupações e responsabilidades encontraremos felicidade, pensamos estar satisfeitas em simplesmente deixar as coisas acontecerem ‘naturalmente’. É provável que os contemporâneos de Davi, assim como nós, também construíssem suas ideias sobre felicidade a partir de suas próprias reflexões.

Chego a pensar que talvez ainda hoje achemos que a felicidade está no caminho do ímpio, do pecador viciado em viver conforme quer, ou no caminho do zombador que supera as tristezas da vida rindo de tudo, tirando sarro de tudo, desconsiderando a seriedade de tudo. Como o Salmo 1 é sério, não? A narrativa bíblica é incrivelmente atual.

A leitura nos tira o sorriso do rosto em alguns versos, a seriedade da passagem nos força a pensar e repensar: “para onde ir?” Mas, podemos ficar tranquilas e respirar. Davi dá o caminho certo no verso dois, afinal, o bem-aventurado encontra o seu prazer na Lei do Senhor, e nela medita de dia e de noite. O que isso significa? Significa que o que satisfaz o cristão, o justo, o bem-aventurado, é o prazer proveniente da Lei do Senhor; não que o simples ato de ler a Palavra de Deus gere prazer imediato, mas que o meditar na Lei do Senhor leva ao conhecimento de quem é o Senhor da Lei. O conhecimento de Deus, conhecimento de Sua vontade, de Seu padrão e de como glorifica-lO é o caminho e a chave para a bem-aventurança, para o tesouro da satisfação.

Ou seja, se a Palavra expressa a vontade de Deus, ao lermos Sua vontade temos o nosso conceito de Deus corrigido, afinado, refinado, e podemos pensar mais conforme o pensar de Deus. Podemos achar bom o que Ele diz que é bom e achar ruim o que Ele odeia.

É esse tipo de meditação que nos torna mais obedientes e tementes. E o que mais conforta meu coração é que a Bíblia, a palavra de Deus, comprova que uma vida regada dessa obediência e disposição nos traz transformação no processo de santificação. Uma vida descrita dessa forma é fortalecida e glorifica ao Senhor.

Retornando ao texto bíblico, Davi capricha mais um pouco ao exemplificar a ideia dos dois primeiros versos nos dois versos seguintes, com a figura da árvore em contraste com a palha. Ou seja, o que encontra seu prazer no pensamento de Deus, é comparado a uma árvore sólida e bem nutrida, que se posiciona ao lado de um rio que o fortalece. Já o que resolve buscar felicidade do seu próprio jeito, por seus próprios meios, é fútil em comparação com o que possui a solidez da árvore. O ímpio segue para onde os ventos sopram, torna-se negativamente vulnerável, absurdamente o oposto da árvore, que se mantém firme, presa ao solo fértil, enraizada e inabalável diante das tempestades. Quão superior é termos a ocasião de buscarmos um prazer superior? O prazer de Deus!

Nos últimos dois versos, o desfecho, vemos o resultado escancarado da superioridade da vida do justo com a vida do ímpio. O ímpio não suporta estar junto com os justos, com o contente, com o bem-aventurado; e desse mesmo modo não suportará o juízo, no grande dia. O texto nos confirma que os justos são fortalecidos, satisfeitos, preparados e amparados pelo Senhor que tanto buscam.

Aqui quero dar uma pausa para observar o que acabei de afirmar. Vejamos, se o ímpio não suporta o justo, se a presença de um cristão incomoda o ímpio, o que deveríamos sentir em relação aos prazeres dos ímpios? Será que devemos flertar com o modo ímpio de viver, pensar, se relacionar, etc? Será que devemos aturar o que o ímpio aprova? Será que devemos olhar com normalidade para o modo de viver do ímpio? Será que o mais correto não era nos sentirmos tristes ao ver gente pensando, sentindo e vivendo à parte do querer de Deus? Será que aceitamos os padrões de vestimenta dos ímpios ou nos envergonhamos pela proposta de sexualidade por trás de qualquer roupa? Será que o nosso padrão de relacionamento familiar não se equipara ao que temos visto em séries de TV? Será que o nosso posicionamento social transmite o que dizemos crer?

Por último, a afirmação mais contundente da superioridade da vida do cristão: “o Senhor conhece o caminho do justo”. A firme e grandiosa resolução chega. O Senhor aprova, o Senhor se relaciona com quem está no caminho da retidão, o Senhor nos olha andando por esse caminho de vida eterna. Ele nos conhece, nos convidou a estar aqui e a caminhar por essa rota. Você consegue enxergar o grande privilégio do justo em comparação com a desgraça do ímpio?

Minha querida, meu coração foi motivado a refletir e passar a meditar mais na Palavra do Senhor, confesso que o comando desse Salmo é desafiador, porém, recompensador. Nosso Deus é completamente perfeito em seus desígnios e planos para nós, acredite, a obediência é um fator transformador na caminhada cristã, precisamos diariamente nos ajustar à Verdade.

Nosso Deus é completamente perfeito em seus desígnios e planos para nós. Click To Tweet

Esse post foi baseado numa pregação de meu noivo, a exposição bíblica é rica. Finalizo com o justo e desesperador aviso de que, quanto ao ímpio, seu destino é triste, porque na busca de seu próprio modo de viver à parte de Deus, só pode encontrar a ruína.

Que o Senhor nos ajude a encontrar em Sua palavra e em Sua presença a plena e perfeita satisfação. Que nossa mente esteja cativa à Escritura, pois só assim desfrutaremos de verdadeira liberdade e satisfação. Que às palavras de Lutero sejam nossas:

“Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.”

Se você quiser pode compartilhar conosco comentários sobre esse tema.

Abraço,
Tairine Corina