O que o outro é para mim: limites quanto à carência emocional

Carência. Segundo uma breve e simples pesquisa na internet, carência é uma necessidade afetiva. Não é difícil relacionar a carência com aquele estereótipo de moça ingênua, que namora um rapaz que a trata mal, certo?

Porém, em nosso meio cristão, a carência é muito mais profunda do que isso. O excesso de carência, o excesso de busca por atenção, cuidado, carinho pode gerar um péssimo testemunho da nossa fé, pode afastar as pessoas do Senhor, pode criar conflitos desnecessários, pode mostrar uma falta de confiança imensa em Deus e nos Seus planos eternos e, por fim, pode gerar ídolos em nossos corações.

É pesado, eu sei. Mas nós, como crentes, precisamos buscar o equilíbrio emocional e encarar a vida de acordo com a Palavra de Deus e não de acordo com nossos sentimentos e necessidades insensatas.

Será que paramos para analisar o tipo de pessoa que nos tornamos quando nos deixamos levar pela ansiedade e tristeza de estarmos sozinhas? Meninas que são amigas “possessivas” sabem bem do que eu estou falando. Imaginem a primeira cena:

Você está em casa, sem nada para fazer e liga para sua melhor amiga esperando que ela largue tudo que ela está fazendo para ir ao seu encontro (nem que seja para fazerem nada juntas). Sua amiga, ao atender ao telefone, parece estar muito sorridente e te informa que infelizmente não poderá te encontrar porque ela saiu com uma outra amiga e as duas estão neste momento se divertindo, ainda no meio do roteiro que tinham planejado.

Como você se sente? Você fica com raiva? Acha um absurdo ser deixada de lado? Acha que deveria ser a prioridade? Fica ressentida com essa amiga, magoada, sente-se abandonada… até traída?

Martha Peace, em seu livro Mulheres em Apuros – Soluções bíblicas para os problemas que as mulheres enfrentam nos explica que essa é uma típica situação em que sofremos por algo que não nos foi causado intencionalmente. É uma carência excessiva por atenção.

A referida autora é muito clara ao pontuar que “em geral, a pessoa que interpreta algo como doloroso é excessivamente sensível, tímida, orgulhosa e egoísta. Seja qual for a forma que o pecado dela tende a assumir, ela deve dar aos outros uma resposta justa, humilde.”

E continua:

“Em vez de ficarmos ofendidas e magoadas, devemos aprender a dar aos outros o benefício da dúvida. Em Filipenses 4:8, a Bíblia nos diz para termos pensamentos verdadeiros e amáveis. Pensamentos verdadeiros enfrentam a realidade. Pensamentos amáveis presumem o melhor sobre a outra pessoa a menos que seja provado o contrário. Portanto, a menos que fique bem claro que as coisas ditas ou feitas por outra pessoa tinham a intenção de machucar, você deve dar-lhe o benefício da dúvida.”

Amigas, o crente, por mais carente que seja, não pode endurecer seu coração, nem tampouco maldizer os outros por conta de uma realidade paralela que ele mesmo cria. Se alguma de nós reage desta forma, precisamos nos arrepender diante do Senhor e parar de pecar.

O crente, por mais carente que seja, não pode endurecer seu coração, nem tampouco maldizer os outros por conta de uma realidade paralela que ele mesmo cria. Click To Tweet

Mas para não termos apenas um exemplo, existe também aquelas moças que – por falta de confiança no Senhor e em Seu propósito – buscando tão somente saciar seus desejos de atenção e amor, envolvem-se com rapazes que não professam a mesma fé que nós e acabam sofrendo profundamente as consequências, criando ligações emocionais até idólatras. “Eu não posso viver sem ele”, “Os rapazes da igreja não são tão bons quanto ele”, “Se eu terminar, ficarei sozinha”, “Você não entende, eu não tenho mais idade para esperar o príncipe encantado chegar”.

O que buscamos em tais relacionamentos? O que esperamos de um casamento futuro? Como os nossos filhos seriam criados? Quem seria o Deus das nossas casas?

Martha Peace segue nos auxiliando, explanando que “ligações emocionais idólatras são aqueles relacionamentos que envolvem anseios desordenados por outra pessoa e uma crença de que você não consegue viver sem ela. Esses relacionamentos geralmente envolvem imoralidade sexual. Por causa do pecado envolvido, as emoções são excessivas e aparentemente muito difíceis de superar. […] O parceiro desta pessoa no pecado realmente torna-se o deus dela, visto ser ela muito mais leal a seu parceiro do que ao Senhor Jesus”.

Queridas, se devemos até comer e beber para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31), imaginem qual deve ser o padrão para os nossos relacionamentos! Falamos tanto de relacionamentos intencionais, de sermos igreja, de amarmos uns aos outros, mas não podemos – de forma alguma – esquecer que Cristo é o cabeça do corpo (Colossenses 1:18) e mais ninguém. Ele é o centro e nossas emoções e necessidades devem ser todas supridas nEle. Mentes cativas a Jesus, sem confiar em nossos corações.

Devemos olhar todas as situações com a visão da fé, com o entendimento de pecado, de redenção, de obediência e de confiança em Deus. Se estamos reagindo mal, se estamos precisando de outrem que não nosso Redentor para nos validar, para nos fazer sentirmos como se estivéssemos completas e felizes, então precisamos urgentemente clamar aos céus e rogar por perdão e restauração.

Escolhamos hoje a quem iremos servir.

Elyse Fitzpatrick, no livro Ídolos do Coração – Aprendendo a Desejar Apenas Deus, faz uma reflexão interessante quanto à motivação para lutarmos firmes até revertermos toda essa situação, por maior que seja a dor no processo. Ela diz:

“Bem, você pode estar pensando, ‘se meu coração é tão enganoso, por que me importar em lutar contra a idolatria?’ Minha resposta pode parecer simplista, mas devemos lutar contra nossos corações pecaminosos porque Deus ordena que o façamos. Como iremos amar o Senhor nosso Deus se todo nosso coração, alma, e mente se não combatermos as maneiras pelas quais deixamos de fazê-lo?”

E continua:

“Essa luta contra o pecado em nosso coração é preciosa porque por ela aprendemos quão imenso foi o preço que Jesus pagou. É nessa luta que aprendemos a confiar nEle e a desconfiar de nós mesmos, a odiar o pecado e amar a santidade, a cultivar a humildade e a ansiar pelo céu. E em meio a tudo isso, descobriremos a alegria da obediência e a felicidade que só se acha no amor a Deus.”

É valido ressaltar que este post não tem a intenção de esgotar esse assunto. Como eu disse no início, a carência excessiva é um problema profundo e algo muito doloroso de ser tratado e vencido. Importa é que saibamos nosso valor em Cristo, quem somos nEle e quem Ele é. Nem que para isso precisemos nos lembrar disso todos os dias, clamar todos os dias, buscar o Senhor em Sua Palavra todos os dias e fugir do pecado todos os dias.

O Senhor nos promete que valerá a pena, amigas. Creiamos!