O que o Cristianismo Não É: Regras sem Fundamento

Você por acaso já reparou nos avisos na beira da praia com palavras que dizem: “perigo”; “cuidado”, “proibido entrar no mar”? Certamente você já foi guiada nas placas de trânsito para diminuir a velocidade ou parar, ou até mesmo ter cuidado com bichos soltos na estrada. Lembro-me bem de uma viagem que fiz até a Serra da Estrela, em Portugal. Subimos de carro até ao pico mais alto da Serra. Enquanto subíamos, várias placas nos alertavam do que estava à nossa frente. Não só isso, mas também de certa forma nos protegiam. Assim como esses avisos e alertas não são regras sem fundamentos, o Cristianismo também não o é.

Desde a criação, Deus nos dá ordenanças sobre como viver a eternidade no Jardim. Não havia segredos ou um mandamento impossível de ser cumprido. 

“O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.” (Gênesis 2:15)

Nunca foi uma regra sem fundamento. Nem sequer era uma regra, mas sim um propósito. Fomos chamados a cuidar, multiplicar, servir, se relacionar, dominar e o principal: ter comunhão com Deus. A ordenança de Deus para nós era servir em amor e ter relacionamento com Ele. A nossa resposta à sua ordenança foi desobedecer. (Cf. Gn 2:16-17; 19-20; Gn 3 :6-8)

Te convido a vir junto comigo nesse estudo para entendermos um pouco mais sobre a Lei, o seu cumprimento em Cristo e a nova aliança. Você vai perceber que mais do que seguir regras, viver o Cristianismo é viver o propósito para o qual fomos criados.

A Lei no Antigo Testamento

O Antigo Testamento é marcado pela queda do homem, pela promessa da redenção, pela libertação do povo de Deus e pela espera do Messias prometido. O alvo da Lei Mosaica era apontar para a vinda de Jesus. Por intermédio de profetas, sacerdotes e reis, Deus se manifestava para instruir, ensinar e exortar o seu povo. O pecado nos levou à morte, e só Cristo poderia nos dar vida novamente. Enquanto não havia o pagamento da dívida com Deus, a lei cumpria esse papel de guiar os israelitas no caminho contra o pecado. 

O Antigo Testamento é a Palavra de Deus para nossas vidas mesmo nos dias de hoje. Não da mesma forma que era para o povo hebreu, mas continua contendo princípios didáticos para nós enquanto cristãos. O nosso foco deve ser enxergar o Antigo Testamento com os olhos de Jesus. 

Existe graça no “não” de Deus. A Lei nos mostra o Senhor guiando o povo de Israel em toda a história, ao dizer “não” para uma eternidade longe Dele e “sim” para uma vida de santidade com Ele. O “não” de Deus hoje é para nós o “sim” do Reino que há de vir. Afinal, como nos lembra o autor de Hebreus: Sem santidade ninguém verá o Senhor (Cf. Hb 12:14).

Amadas, o nosso Deus não convive com o pecado. Como que poderíamos pensar que qualquer um de seus mandamentos seriam sem fundamento ou, pior, sem seu amor e misericórdia? Quando uma mãe diz ao seu filho pequeno que está iniciando os seus passos: “Cuidado, você pode cair!”, não é para sua proteção e seu bem? Assim também Deus, em nosso caminhar para a vida eterna nos guia em seus mandamentos.  

“Pois o mandamento é lâmpada, a instrução é luz, e as advertências da disciplina são o caminho que conduz à vida.” (Provérbios 6:23)

No livro O Fim da Lei, do Jason C. Meyer, é exposto o contraste entre Adão e Jesus. O autor diz,“A desobediência do primeiro Adão mergulhou a primeira criação no pecado e na morte. A obediência do novo Adão conduz à derrota do pecado e da morte no advento da nova criação.”

O fundamento das leis no Antigo Testamento eram impossíveis de serem totalmente cumpridos pela força do homem. Reis, juízes, sacerdotes, homens e mulheres de Deus, mesmo buscando seguir os Seus estatutos sem falhar, cometeram pecado. Todos pecaram. Pecaram lá atrás e continuamos pecando até aos dias de hoje. Só conhecemos um homem sem pecado, Cristo. Afinal, assim como em Adão nós pecamos, em Jesus somos convidados à vida Eterna. 

A nossa reconciliação com Deus não veio pela Lei, veio através de Cristo, o cumpridor da Lei.

“E uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20:6)

A nova aliança em Cristo Jesus

“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei.” (Hebreus 7:12)

O pastor e teólogo Yago Martins nos diz que “A Lei tem o seu télos – palavra de origem grega que significa alvo, objetivo – em Cristo, pois alcançou o seu propósito”. Nele, a Lei acertou o seu alvo. Jesus, em sua autoridade como novo sacerdote, veio para cumprir a Lei de maneira histórica e redentiva, sendo o nosso legislador. Nenhum homem poderia fazer isso por si, muito menos pelo outro. O alvo definitivo da Lei era o Messias. E Ele veio. Ele pagou pelo que eu e você não poderíamos pagar.

“Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir.” (Mateus 5:17)

Cristo nos trouxe uma nova lei e esta em nenhuma hipótese pode ser definida como sem fundamento. “E este é o seu mandamento: Que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou” 1 João 3:23. O fundamento do Cristianismo é o amor.

Em Cristo temos o pagamento não só da dívida pelos nossos pecados, mas também o cumprimento da Lei de Deus.

É vivendo a nova aliança, a nova Lei, que olhamos para o cristianismo não como um conjunto de regras, mas como uma nova conduta. Não é a nossa vida que vivemos, é a vida de quem é maior do que nós. É viver seguindo os passos do Mestre.

Como já disse Douglas J. Moo (2002, p.127, grifo nosso), “É a lei cumprida em Jesus que deve ser praticada, não a lei em sua forma original.” Minhas queridas, viver o Cristianismo não é sobre conseguirmos cumprir leis e mandamentos, mas viver uma vida que aponta para Jesus. A Lei deve ser praticada e obedecida assim como interpretada pelo nosso Senhor. Não é mais sobre uma Lei, mas é sobre Ele. 

Vivendo o Cristianismo hoje

Paulo em sua carta aos Filipenses vai nos afirmar que ele, embora fosse um fariseu, não contava mais com a sua própria justiça com base na obediência da Lei. Agora,  em Cristo, ele sabia que a justiça era por meio da fé em Jesus, pois é com base na fé que Deus nos declara justos (Cf. Fp 3:9).

O que Deus quer de nós não é ter um escravo que siga suas cartilhas de ordens com medo de sofrer castigo no fim do dia. O que o nosso Pai espera de seus filhos é que, por amor, eles ouçam os seus ensinos, obedeçam os seus mandamentos e vivam uma vida abundante em santidade!

Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. (Romanos 8:15)

Por fim, creio que a melhor maneira de viver o cristianismo é pedirmos por sabedoria a Deus e não simplesmente fazermos um check list de todos os mandamentos que achamos que conseguimos cumprir pela força do nosso braço. Como disse o Rev. Heber Campos Jr. em seu livro Tomando Decisões Segundo a Vontade de Deus: “Enfim, a sabedoria é necessária para que saibamos discernir o que agrada ao Senhor, pois o cristianismo não é um conjunto de regras moralistas.”

O centro da Lei de Cristo é o amor. Voltemos os nossos olhos para o que Cristo fez por nós e vivamos uma vida como seus imitadores, sabendo que Ele cumpriu o que não poderíamos cumprir. Agora nos foi confiada a nossa missão de seguí-Lo, conhecê-Lo e fazê-Lo conhecido. Não há Cristianismo sem isso.

“Porque o fim da lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê.” (Romanos 10:4)


Fontes:

https://www.youtube.com/watch?v=BLQDDUmptD4

https://www.youtube.com/watch?v=aJdXYcDMbBQ&t=1895s
Meyer, Jason. O Fim da Lei: a aliança mosaica na teologia paulina. Editora 371, 2020

Moo, Douglas. New Covenant Theology: Description Definition Defense. Frederick, Md.: New Covenant Media, 2002


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