O Problema da Produtividade

Qual de nós já aderiu ao “full mode” de produtividade? Caí neste falso entendimento de que fazer tudo todos os dias iria me trazer paz e – pasmem – descanso interior.

Estamos há meses praticando o distanciamento social, seja obrigatória ou voluntariamente e ao permanecermos em nossos lares por tanto tempo, sentimos o desânimo pesar sobre nossos ombros. A fadiga aumenta à medida que a ansiedade nos causa dores no corpo e na mente.

Não podemos ser preguiçosas, não podemos dar lugar a posturas que não condizem com as escrituras. Precisamos dar um jeito para tudo ficar bem. Precisamos ser produtivas, ainda que durante uma pandemia, ou crise econômica, ou crise política.

O problema, contudo, aparece quando não temos limites nessa busca ou a motivação correta.

O pastor Kevin DeYoung em seu livro “Super Ocupado” publicado em português pela Editora Fiel, nos alerta sobre o estado de apatia em que podemos nos encontrar, mesmo quando cumprimos de forma aceitável a nossa lista de afazeres diários. Ele diz:

“Você e eu temos um problema. Na maioria das manhãs, nos arrastamos da cama, começamos a rotina diária e esperamos, contra a esperança, que simplesmente consigamos manter a linha. Talvez consigamos manter a casa em um estado apenas leve de desordem. Talvez consigamos realizar quase tudo da lista de coisas imprescindíveis a fazer. (…) Quem sabe, apenas talvez, consigamos fazer o bastante nas próximas dezoito horas para vencer o burro de carga da ocupação, e viver mais um dia. Em geral, não acordamos tentando servir, mas apenas tentando sobreviver.”

Não há nada de errado com sobreviver, queridas. Eu também luto para não me entregar ao desânimo todas as manhãs e busco lutar contra minha preguiça e meu estado de constante preocupação com aquilo que eu não posso mudar.

Pela lógica se não podemos mudar o caos lá fora, devemos focar no caos interno – nossas casas – e mudá-lo, não é mesmo? Vamos pintar as paredes, cortar o cabelo, reformar roupas, inovar em maquiagens pelas manhãs, desenvolver novos hobbies, finalizar todas as séries pendentes nos serviços de streaming e fazer maratonas literárias. Temos vinte e quatro horas para serem usadas.

Amigas, é difícil mesmo entender, mas lidar com as coisas ao nosso redor não vai nos dar o controle de nada. Fazer uma lista enorme de pendências não vai trazer paz ao nosso coração. Jesus é o príncipe da paz. Somente Ele pode te dar o que você tanto anseia ter.

Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos. Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor. Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. (Filipenses 4:4-7)

Mas pelo que podemos nos alegrar? Estamos com dificuldades em pagar nossas contas, estamos doentes ou com queridos nossos em hospitais, estamos sem saber como vai ser o dia seguinte. O dia precisa passar logo, o ano precisa acabar logo. Precisamos depositar todo nosso foco em 2021 porque esse ano – ainda em julho – já não tem mais nada a oferecer. Não é isso?

Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. (Salmos 118:24)

Tu és o meu Deus, render-te-ei graças; tu és o meu Deus, quero exaltar-te. Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre. (Salmos 118:28,29)

Talvez se passássemos mais tempo em oração e meditando nas verdades das Sagradas Escrituras, nos lembrássemos com mais frequência de que nosso Deus é bom, misericordioso, justo, fiel. Nada do que Ele faz é sem propósito. Se “… no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda…” (Salmo 139:16), porque não vamos confiar nEle quando enfrentamos pandemias, pragas e sistemas mundiais?

Nos céus, estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo. (Salmos 103:19)

Não existe pecado em tentarmos viver nossos dias da melhor forma que pudermos, nos esforçando para que tudo siga como sempre correu. Não é isso que estou pontuando aqui, minhas irmãs! Só gostaria de propor uma reflexão, para que essas ações sejam feitas por serviço e por amor ao Senhor, primeiramente, dividindo nosso tempo com sabedoria, entregando as primícias ao nosso Deus.

Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. (Efésios 5:15-17)

Mesmo “trancadas” em casa, seguimos numa guerra, uma guerra espiritual muito maior do que tudo isso que estamos passando. Vivemos por Cristo, para testemunharmos de Cristo, adorarmos a Cristo. Nada poderá nos separar do amor de Deus e isso não pode ser esquecido e sufocado em meio ao pânico desenfreado pela produtividade, pela vontade de fazermos o dia “prestar para alguma coisa”.

Precisamos abolir sim a preguiça, mas não podemos tirar um ídolo para colocar outro no lugar.

Busquemos o reino. Em todo o tempo.