O Mediador Acessível (Cristo Como Sacerdote)

Quem é Jesus Cristo para você? Para muitas pessoas ao redor do mundo, Ele representa apenas um profeta. Para muitos cristãos, é fácil enxergá-lo principalmente como Rei ou Salvador. Encaremos, então, como um desafio, desbravar as maravilhosas implicações do que significa ver nosso Cristo como Sacerdote na história da humanidade e em nossas histórias pessoais.

Uma solução temporária

Deus nos lança muita luz a respeito da função dos sacerdotes por meio do livro de Hebreus. O capítulo 5, em especial, é muito esclarecedor:

“Cada sumo sacerdote, sendo escolhido dentre os homens, é constituído nas coisas relacionadas com Deus, a favor dos homens, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. […] Por esta razão, deve oferecer sacrifícios pelos pecados, tanto do povo como de si mesmo. E ninguém toma esta honra para si mesmo, a não ser quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão.” (v. 1-4 NAA)

Meu pastor costuma dizer que quem cria, estabelece a regra. Ou seja, se Deus criou a Lei (para o bem da humanidade e ordem da sociedade), é necessário que Ele mesmo estabeleça a forma de redimir os que dela fugissem. Para cada erro, uma consequência, bem como para cada pecado, um sacrifício. A figura do sacerdote é a de porta-voz do povo,  levando a Deus os sacrifícios de forma solene e seguindo protocolos bastante específicos, como a roupa certa, o local apropriado para depósito do sacrifício e instrumentos exclusivamente destinados para aquele momento (o livro de Levítico explica estes detalhes com bastante minuciosidade). Não era uma simples função, e sim o mais alto posto religioso do Antigo Testamento. Eles eram a autoridade, bem como o Rei, cada qual exercendo sua função em postos diferentes (liderança religiosa e política, respectivamente).

O primeiro sacerdote registrado na Bíblia é Melquisedeque, também conhecido como “Rei de Salém” (ou de Jerusalém). A narrativa bíblica de Gênesis 14:18 a 20 não vai muito a fundo sobre quem ele era ou de onde veio, limitando-se a dizer apenas que era um sacerdote do Deus Altíssimo que levou pão e vinho a Abraão, que voltava de uma batalha, e em seguida abençoou o patriarca. Após ele, vieram muitos outros, como Arão e Eli, que são os mais conhecidos entre as histórias bíblicas.

Porém, tudo se tratava de uma solução temporária. Nenhum sacerdote era capaz de fazer uma expiação permanente, pois o povo sempre voltava a pecar e ele mesmo não era isento da natureza pecaminosa, como aprendemos no versículo 3 do Salmo 14: “não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” Somente Jesus Cristo foi capaz de fazer uma oferta suficiente para o eterno perdão dos pecados e, por ser isento de pecado, não necessitou de expiação por si mesmo. “A oferta expiatória de Jesus foi eterna, completa e de uma vez por todas” (Comentário da Bíblia de Estudo Nova Almeida Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil).

O autor de Hebreus afirma que Deus nomeou a Cristo como sumo sacerdote após o ato de obediência demonstrado em sua morte voluntária na cruz, tornando-o o Autor da Salvação. Porém, há um detalhe que o texto frisa: “segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5:10), ou seja, como ele, no sentido de ser tanto um rei como um sacerdote. O profeta Zacarias já havia tido uma visão a respeito disso, quando se referiu ao “Renovo”, no capítulo 6:

“Eis aqui o homem cujo nome é Renovo. Ele brotará do seu lugar e edificará o templo do Senhor. Ele mesmo edificará o templo do Senhor e será revestido de glória. Ele se assentará no seu trono, e dominará, e será sacerdote no seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios.” (NAA)

Em nenhuma passagem do Antigo Testamento há menção de um rei da linhagem de Davi que exerça tanto o sacerdócio como o reinado soberano. Por isso, entendemos que se trata do próprio Messias, também mencionado por Davi no Salmo 110, versículo 6: “O Senhor jurou e não voltará atrás: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.” (ARA)

Embora tenhamos a impressão que o nascimento de Jesus mudou tudo, a verdade é que foi Sua morte que selou a solução eterna para o problema do pecado. Como o autor de Hebreus faz questão de frisar, Cristo é o Messias por quem os judeus esperavam; é o rei de Israel e o perfeito sumo sacerdote.

Um sacerdote acessível

Jesus transforma a figura do sacerdote que temos em nossa mente, e o contraste é muito grande. Enquanto os sacerdotes do Antigo Testamento deveriam usar roupas especiais, viver separados do restante do povo e com uma responsabilidade que os colocava em alta posição aos olhos humanos, Cristo provavelmente usava roupas de tecidos baratos, não tinha residência fixa e muitas vezes dormia em regiões desertas, além de ser desprezado entre os homens. Sua aparência em nada chamava atenção por onde passava, enquanto os sacerdotes muito provavelmente abriam caminho entre as multidões. Ele andava com pescadores, não com políticos. Mas Cristo era igualmente acessível aos líderes da época, como Nicodemos que pediu para se encontrar com Ele à noite.

O Deus todo poderoso desceu aos céus para se fazer acessível novamente, tal como era no jardim, antes da queda. Ele se entregou em nosso lugar para que pudéssemos andar lado a lado e o tivéssemos novamente como amigo. Nosso Cristo é o sumo sacerdote acessível, que nos compreende, se compadece de nossas dores e adentra a presença do Pai com toda autoridade, levando consigo nosso coração contrito, traído, machucado e cheio de pecado. No livro “Manso e humilde”, Dane Ortlund traduz isso em uma frase: “O seu coração adentra emocionalmente a nossa aflição.”

A obra sacerdotal de Cristo envolve duas especialidades: expiação e intercessão.

  • Na expiação, Ele converte inimigos em amigos e aniquila o castigo do pecado, pois Seu sacrifício tem valor suficiente para pagar o preço que Deus exige. Ele tomou o lugar dos pecadores e suportou a ira de Deus, como nosso substituto (2 Coríntios 5:21).
  • Na intercessão, Ele nos representa agora e para sempre (Romanos 8:34), levando nossos pedidos ao trono de Deus e intervindo em nosso favor. É o nosso Advogado que nunca perde uma causa, pois é o Justo (1 João 2:1).

Se para muitos, Deus ainda é representado na figura de um senhor idoso que fica do céu lançando raios em direção aos que o desobedecem e destruindo sonhos que homens e mulheres nutrem durante a vida, a Bíblia nos apresenta o Deus que se fez homem não para nos envergonhar, mas para nos estender a mão e reconstruir o caminho (o único caminho!) de volta ao Pai (João 14:6). Ao mesmo tempo que Sua santidade evidencia nossos ídolos, também nos oferece cura sem nos destruir. 

Propositalmente, ocultei um pedaço do texto de Hebreus 5 no início do artigo, pois queria evidenciá-lo neste momento específico: “Ele é capaz de se compadecer dos ignorantes e dos que se desviam do caminho, pois também ele mesmo está rodeado de fraquezas” (v.2). Sabemos e cremos que Cristo nunca pecou, mas ao invés de nos sentirmos desencorajados por Ele não se solidarizar conosco na culpa e na vergonha, podemos nos sentir atraídos. Como? Bem, se Ele não está conosco na lama do pecado, significa que pode nos tirar de lá e limpar nossa sujeira.

Dane Ortlund, ainda no livro “Manso e Humilde” nos leva a pensar que o que suscita a ternura em Jesus não é a severidade do nosso pecado, mas o fato de irmos a Ele. “Quando pecamos, somos encorajados a levar a nossa bagunça a Jesus porque ele saberá exatamente como nos receber. Ele não nos trata com dureza.”

Quero finalizar com um convite: não se esconda de Jesus. Corra para Ele nos momentos mais vulneráveis de vergonha, soterrados por culpa e com sentimentos controversos. Tire os olhos da lama e enxergue a mão que se estende para lhe socorrer. Deixe que Ele purifique seu coração e interceda em seu lugar. O nosso Cristo é terno, amável e sabe tão bem o que é sofrer, que nos quer livre desse peso. Ele pode nos socorrer, pois Ele mesmo é o nosso socorro.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Dezembro com o tema “A Pessoa de Jesus Cristo”. Para ler todos os posts clique AQUI.