O Fruto do Espírito: Domínio Próprio

Como cidade derrubada, que não tem muralhas, assim é aquele que não tem domínio próprio.

Provérbios 25:28

Chegamos ao fim da série Fruto do Espírito e, para fechar com chave de ouro, o apóstolo Paulo nos propõe um desafio digno de “season finale”, aquele encerramento que costuma nos deixar pensativos e inertes por alguns minutos, refletindo sobre como seguir a vida depois de tantas informações.

Eu não sei você, mas esse versículo de Provérbios me saltou aos olhos como se fosse algo novo em minha Bíblia, e é por isso que nós aqui no Graça em Flor amamos a vida e a eficácia que emana da Palavra de Deus. O domínio próprio tem a capacidade de nos proteger tal qual uma muralha forte que circunda uma cidade. Como isso soa para você?

Pensando na realidade que vivemos neste século, entendo que o equilíbrio é uma das características mais valiosas na vida de um cristão. Saber o que falar, como falar e quando falar; saber agir, como agir e quando agir, são características valiosas (e desafiadoras, por sinal!) de um discípulo de Cristo habitado pelo Espírito Santo. Mais desafiador ainda é ter este autocontrole que ajuda a decidir SE devemos falar e SE devemos agir.

Talvez o domínio próprio seja o último da lista de Gálatas 5:22 porque é preciso estar cheio de todas as outras virtudes para praticá-lo. É preciso buscarmos uma vida de temor a Deus e à sua Palavra para estarmos cheios do amor, da alegria e da paz, da paciência e da amabilidade, da bondade e da fidelidade, e de muita mansidão. Aí, então, será natural controlar nossa língua e o resto do corpo quando for necessário que nos posicionemos debaixo da orientação do Senhor. Vemos este princípio em Provérbios 2:6-8, quando Salomão escreve que o Senhor dá sabedoria, conhecimento e inteligência para os retos e atua como um escudo para os que buscam andar com integridade. 

Por exemplo: uma pessoa alegre em Cristo e cheia da paz que vem do Espírito Santo não irá se ofender facilmente em situações do dia a dia, pois está com o coração satisfeito e descansado no Senhor. Um crente que exerce a paciência como Cristo fez aqui na terra não irá se exceder em palavras ou atitudes precipitadas quando vierem os conflitos (internos ou externos). Bem como uma pessoa movida por amor, empatia e compaixão, imitando ao Senhor Jesus, irá reagir de forma moderada perante uma ofensa ou uma situação injusta. Por fim, alguém que está cheio do Espírito Santo será fiel e leal mesmo em situações adversas e que desafiem o próprio ego. Em todas as provas, há uma oportunidade de ser mais parecido com Cristo.

Não eu, mas Cristo

No texto sobre bondade, nossa querida Mayara nos alertou sobre não desanimarmos se, após as reflexões, nos percebermos em um lugar em que não gostaríamos de estar, ou seja, longe do ideal. E faço dela as minhas palavras, pois sei que a prática de tudo o que aprendemos é incrivelmente mais difícil do que a própria persistência em estudar a Palavra e ser exortado. Porém, me apego às palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: “Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” (2 Timóteo 1:7).

Irmã querida, o desafio real de viver em Cristo e no poder do Espírito Santo não é sobre você, eu e nossas lutas diárias. É sobre o que Cristo pode e quer fazer apesar e através de nossas vidas. Não é sobre conseguir viver de forma equilibrada para aparentar um viver piedoso e servir de modelo para outros cristãos. É sobre a transformação de nossos corações, é sobre amar o que ele ama, odiar o que ele odeia e viver como ele viveu. É sermos tão cheias do Espírito Santo que não vivamos mais por nós e nossos desejos. Ainda que dotadas de personalidade e características pessoais, sejamos vazias de nós e cheias de Cristo. A pura e simples subtração do eu, como diz a letra de uma música que gosto, da banda “Morada”: “Meus acertos não acrescentam amor, meus erros não o diminuem; minha falha correu pro Teu favor”.

Quero concluir estas reflexões lembrando de um belo trecho do livro “Organize suas emoções”, dos autores Alasdair Groves e Winston T. Smith. “Está chegando um dia em que nunca mais sentiremos tristeza, raiva, medo ou desgosto, pois não haverá nada sobre o qual nos sentirmos tristes, irados, amedrontados ou desgostosos. Até lá, porém, é somente participando das alegrias e das dores do amor de Deus por seus filhos que poderemos viver em um relacionamento honesto e sábio com Aquele que nos fez. Somente aqueles que amam o Senhor o suficiente para abrir seu coração à dor de seu mundo poderão participar também da alegria dele.”

A lógica do “já, mas ainda não” passa pelo que aprendemos sobre o fruto do Espírito. Já o recebemos na salvação em Cristo, mas ainda não o desenvolvemos por completo. Já sabemos que temos inúmeros recursos espirituais à disposição para transformar nosso coração, mas ainda não alcançamos o estado de perfeição. Já sabemos o que podemos fazer para melhorar, mas ainda não conseguimos cumprir com fidelidade e perseverança. Entretanto, seguimos. Pela fé e na intensa esperança de que Cristo está no barco conosco, até aquele glorioso dia.