O Fruto do Espírito: Amabilidade

Em meio à enxurrada de informações que encontramos na internet, algumas nos fazem parar, respirar fundo e soltar um sorriso diante da tela do celular. São aquelas histórias de bons exemplos que deveriam ser a regra e acabam se tornando a exceção, como as de pessoas que encontram enormes quantias de dinheiro e as devolvem aos donos. Há também aqueles que encontram uma conta caída na rua e pagam para que quem perdeu não fique prejudicado. 

Em nosso dia a dia também, por vezes presenciamos cenas que nos aquecem o coração: o jovem que ajuda a idosa a atravessar a rua; o cliente que tira o carrinho deixado por outro no estacionamento do supermercado e o coloca no lugar; a pessoa que distrai a criança que chora enquanto um dos pais está em uma longa fila de espera; aquele que completa o dinheiro da passagem para que o desconhecido possa embarcar no ônibus.

Muitos de nós conhecemos a seguinte história: um homem andando por uma estrada é assaltado e espancado, seus pertences são levados e ele é deixado semimorto à beira do caminho. Seus conterrâneos, ao o avistarem caído, passavam de longe e seguiam normalmente para seus destinos. Um outro homem, de uma região historicamente rival, passou perto e teve compaixão. Fez ali os primeiros-socorros, colocou-o sobre seu animal e o levou a uma hospedaria para que fosse cuidado. Pagou adiantado e deixou avisado que, caso fosse preciso gastar mais, na volta ele acertaria a diferença. Essa foi uma parábola contada por Jesus e registrada no evangelho de Lucas, capítulo 10, do verso 25 ao 37.

O que essas histórias têm em comum? Em todas elas, os atos praticados beneficiaram outras pessoas e os autores das ações não esperavam nada em troca, aliás, muitos dos que receberam não tinham condições de retribuir. Temos aqui a ilustração da amabilidade, que é a parte, ou o “gomo”, do fruto do Espírito sobre a qual refletiremos hoje.

Definindo a amabilidade

Segundo o Dicionário Michaelis, amabilidade, também chamada de benignidade em algumas traduções da Bíblia,  é a “qualidade ou característica de quem é amável, delicado ou gentil; afabilidade, delicadeza, gentileza”.

De acordo com o apóstolo Paulo em Gálatas 5.22, a amabilidade é uma característica que deve ser visível naqueles que foram salvos, em cujas vidas o Espírito Santo habita e atua, removendo as ervas daninhas do pecado e plantando a boa semente da nova vida em Cristo Jesus. Assim como na agricultura, o resultado é um fruto recheado de coisas boas.

Do mesmo modo como os outros “gomos” do fruto, a amabilidade não é apenas um conceito ou um sentimento, ela se materializa, envolve ação. Podemos definir sua essência com a chamada Regra de Ouro, citada por Jesus em Mateus 7.12: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”. 

A amabilidade consiste em se fazer duas perguntas: 

1 – “Se fosse comigo, o que eu gostaria que fizessem?”

Ser amável envolve empatia. Nós nos imaginamos na situação do outro —  digo imaginar porque não podemos saber exatamente em qual contexto ele se encontra — e então fazemos algo. Precisamos de sensibilidade e atenção. É não apenas “passar os olhos”, mas enxergar o próximo, se interessar por seus sentimentos, dedicar parte do nosso precioso tempo nos preocupando com alguém além de nós mesmos. É amar o próximo como a nós mesmos.

2 – “O que Jesus fez estando em situação semelhante?”

A Bíblia traz respostas diretas ou princípios que nos norteiam em todas as situações pelas quais passamos. O Senhor Jesus Cristo é nosso exemplo maior, ele é o irmão mais velho a quem devemos imitar (Ef 5.1,2). Nosso Salvador exalava amabilidade, vemos isso, por exemplo, na cura da mulher com o fluxo de sangue no meio da multidão que a esmagava, enquanto ele corria para acudir um outro chamado (Marcos 5.25-34); e na cura do cego de Jericó que implorava por misericórdia à beira do caminho (Marcos 10.46-51). Cristo era movido por compaixão.Se nos fizermos essas duas perguntas, certamente saberemos como agir de modo digno do Evangelho e que traga glória ao nome de Cristo. É importante ressaltar que a amabilidade não é demonstrada apenas em momentos específicos de perigo, ou em grandes eventos. Assim como aconteceu no ministério do Mestre, ela é vivida no ordinário, no cotidiano. Está presente em um bom dia ao atendente da loja, ao se segurar a porta do elevador pra alguém, quando se elogia um corte de cabelo ou uma roupa nova. É fazer o que eu gostaria que fizessem por mim no dia a dia, em tudo imitando a Cristo.

A motivação

Você há de concordar comigo que não são apenas os cristãos que agem de forma amável. As histórias citadas no início do texto e as que presenciamos no cotidiano são feitas por todos os tipos de pessoa. Pela graça comum de Deus, salvos e não salvos podem fazer coisas boas. A diferença está no que os impulsiona a agir de determinada maneira, que pode ser a simples preocupação com o próximo, o desejo de autopromoção, segundas intenções, dentre outros.

Mas a motivação do cristão deve ser o próprio Deus. A amabilidade faz parte do caráter do Senhor. Ele agiu assim conosco quando não nos deu o pagamento que merecíamos por nossos pecados. Ele nos amou quando nada de bom havia em nós. Ele nos concede salvação quando não podemos fazer nada e nos perdoa, mesmo sabendo que o ofenderemos novamente. 

Somente com essa motivação teremos condições de dar a outra face, andar duas milhas com o que nos chama para andar uma, e dar também a capa ao que pede a túnica, como Cristo nos ensina no Sermão do Monte (Mateus 5.38-48). 

Não é um simples direcionar da amabilidade para o nosso próximo, seja ele quem for. Não vem de nós mesmos, não faz parte da nossa natureza pecaminosa. Por isso ela é um fruto gerado pelo Espírito Santo em nós. É resultado de uma ação sobrenatural diária em nossas vidas. 

Somos humanos. Hormônios, emoções, as circunstâncias da vida, o pecado, tudo nos afeta e influencia. Não acordamos animados e pacientes todos os dias. Nos atrasamos, temos mau humor, sofremos injustiças, perdas e dores. A vida desse lado da eternidade não é fácil. Haverá dias em que seremos grosseiros com quem não merece, iremos ignorar nosso próximo e não trataremos as pessoas com educação.

Em outros momentos, não somos amáveis porque não queremos. Estamos ocupados demais, não queremos ser interrompidos no que estamos fazendo ou falando, não desejamos sair da zona de conforto. Há também o lema do “olho por olho, dente por dente”, que nos leva a não querer fazer o bem porque não nos trataram bem. O altruísmo não encontra espaço em meio a tanto egoísmo, que funciona como uma praga que sufoca o fruto.

Nem sempre teremos segundas chances, mas contaremos com o Espírito em nós, nos incomodando, mostrando onde falhamos e como consertar. Em algumas ocasiões teremos a oportunidade de um pedido de desculpas, em outras, vamos nos deparar com situações semelhantes para que possamos agir como Cristo nos ensinou. Dessa maneira, vamos matando o velho homem e dando lugar ao novo, como o apóstolo Paulo nos exorta em Efésios 4.22-24.

Assim como o fruto leva tempo para amadurecer, também a amabilidade na vida do cristão, para que ela se desenvolva de forma saudável é preciso que lhe sejam fornecidos os nutrientes corretos. A Palavra de Deus é a base: à medida que meditamos nela, vamos assimilando como deve ser nosso relacionamento com Deus e com o próximo. A vida em comunidade também ajuda. A comunhão, o serviço e a vulnerabilidade que vivenciamos na igreja são instrumentos aperfeiçoadores dessa parte do fruto do Espírito em nós.  

Cultivando a amabilidade

Como vimos, a amabilidade é parte do fruto que o Espírito Santo gera naqueles que receberam nova vida. Ao mesmo tempo em que consiste em uma dádiva, é também um desafio. É muito bom saber que Ele gera boas ações e sentimentos em nós, mas nem sempre é fácil manter a constância e colocá-los em prática.

Uma vida alinhada com a vontade do Senhor nos leva a agir com a motivação correta e traz glória para o nome dele. Cristo é visto e conhecido através de nós, enquanto vivemos nossas vidas ordinárias. Isso precisa estar sempre diante de nós: qual imagem de Jesus as pessoas têm visto através de mim? Um Cristo excludente, soberbo, que não olha para os lados e não se importa com as pessoas, ou um Deus bondoso, que enxerga o que os demais não percebem, que se importa e trata as pessoas com amor?

Exercer a amabilidade se torna mais fácil quando olhamos para a cruz. Não foi fácil para o Soberano do Universo nos amar ao invés de nos destruir, quando era isso que merecíamos por nosso pecado. Não foi fácil pra Deus se fazer Homem e conviver com suas criaturas, sendo hostilizado por muitas delas. Não foi fácil estar sozinho no Calvário, sofrendo o peso da ira de Deus por todos os pecados, de todos os eleitos, de todos os tempos. Ele não precisava, mas fez.

Diante de tão grande obra de salvação, a única resposta possível é uma vida de devoção, que se espelha no que o Senhor Jesus fez e se submete ao agir e à direção do Espírito Santo. Não há espaço para o orgulho e o egoísmo. Que tudo o que nos impede de frutificar seja lançado por terra e, ao ser enterrado, abra espaço para a amabilidade crescer forte e tocar todas as vidas que passarem por nós, para que se sintam amadas e atraídas para o Maior Amor do mundo. 


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Fevereiro com o tema “O Fruto do Espírito”. Para ler todos os posts clique AQUI.