O Fruto do Espírito: Alegria

“Estejam sempre alegres” — A recomendação vem do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses (cf. 1 Ts 5:16), e parece ser um tanto quanto mandatória, à primeira vista. Porém, ao estudar as Escrituras, comecei a enxergar com outros olhos e quero lhe convidar a caminhar conosco em mais um passo nesta trilha de aprendizados sobre o Fruto do Espírito.

O que é a tal da alegria?

Como é que alguém pode estar sempre alegre? De imediato, isso não lhe soa como falsidade? Uma velha canção diz: “quem tem Jesus gosta de cantar, está sempre sorrindo, mesmo quando não dá”. Pensando bem, vejo uma afirmação muito perigosa aí. A vida cristã não é um constante navegar em águas tranquilas, pelo contrário. Em um momento estamos dando risada numa noite de jogos entre amigos, e poucos minutos depois podemos receber uma notícia avassaladora que faz com que todo o cenário em volta de nós fique acinzentado e frio.

Como é que se mantém o sorriso no rosto quando um familiar vai a óbito, perdemos o emprego ou alguém bate na traseira do nosso carro? Não dá para viver sorrindo. Porém, a vida daqueles que são regenerados pelo poder de Deus conta com uma estratégica e transformadora carta na manga: o fruto do Espírito, a evidência normativa da obra de Deus na vida dos que estão sendo transformados, dia após dia, à imagem do Cristo vivo. 

A Bíblia de Estudo Scofield traz a seguinte análise sobre Gálatas 5:22: “O caráter cristão não é meramente retidão moral ou legalista, mas a posse e a manifestação das graças ou virtudes dos vv.22 e 23. Tomadas em conjunto, apresentam um retrato moral de Cristo e podem ser consideradas a explicação que o apóstolo faz sobre o v. 20, ‘vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim’”.

A alegria é um dos “gomos” deste fruto do qual fomos agraciados pelo Espírito, e ela nada tem a ver com sentimento, pois não é volátil, tampouco se deixa abalar por acontecimentos. O que ela é, então?

C. S. Lewis escreveu que “alegria é o assunto sério do céu” (do livro Cartas a Malcolm). No versículo 11 do Salmo 16 Davi confirma isto quando diz, “na tua presença há plenitude de alegria”. As Escrituras apontam para um Deus alegre, que se satisfaz ao criar o universo, que criou pessoas com capacidade de dar risada e dançar quando estão felizes. Nosso Pai não é um senhor mal humorado, sentado em sua velha poltrona de nuvens, esperando o momento certo para frustrar nossos planos. Ao contrário disso, seu propósito é nos dar plena alegria em sua presença, ainda que isso aconteça pelo caminho da dor.

Apenas como uma amostra de pesquisa, a versão Nova Almeida Atualizada da Bíblia apresenta 40 aparições da palavra Alegria, quatro aparições da palavra Alegre e 38 aparições da palavra Alegrar. O livro dos Salmos é o que mais contém estas palavras, somando 24 aparições. A Palavra de Deus é permeada por traços alegres.

Ao contrário do que define o dicionário português, alegria não é um sentimento de contentamento. Alegria é um presente de Deus em forma de virtude. Ela não foi criada como solução à dor do pecado, mas existe desde o princípio pois vem do próprio Deus. Se é possível criar uma sombra de definição de alegria, eu diria que se trata de um estado de graça que permite viver e enxergar a vida com bons olhos, ainda que o mundo inteiro esteja em colapso, afinal, “o coração alegre é um bom remédio” (Provérbios 17:22) e “o coração alegre aformoseia o rosto” (Provérbios 15:13).

Somos encorajados constantemente a servir com alegria (Salmo 100:2), esperar com alegria (Provérbios 10:28), nos alegramos com as promessas (Salmo 119:162), entre outras recomendações. Porém, a alegria não é algo que conquistamos, mas um presente da salvação pela graça. É sobre isso que Paulo está falando aos Gálatas (cf. 5:22). Todas as virtudes mencionadas por ele são um presente que o Espírito Santo nos dá ao transformar nossa mente, nossos sentimentos e nossas atitudes com, inclusive, a alegria.

Então, é perigoso dizer que o cristão não pode mais sentir tristeza, ou que precisa andar sempre com um sorriso no rosto. Não somos máquinas programadas para agir de forma automática, mas seres humanos à mercê das intempéries da vida. A grande diferença que há em nós é justamente este presente do fruto que o Espírito desenvolve em nós, quando nos submetemos ao seu agir e nos permitimos ser direcionados pela Sua Palavra. Ao invés de nos deixarmos dominar pelas circunstâncias ao nosso redor, podemos fazer uso desse poder dado por Deus de nadar contra a maré do mundo caído.

Por isso, podemos afirmar que teremos dias tristes, mas há alegria plantada em nossos corações transformados, e sempre haverá muito mais motivos para nos alegramos do que nos entristecermos, pois quanto mais nos parecermos com Cristo, menos nossos olhos fixarão o cenário neste mundo caído. Ainda que sintamos os efeitos do pecado e da ação de nosso inimigo, sabemos que estamos firmados na rocha inabalável, de onde flui alegria viva e permanente.

Os cristãos são conhecidos como aqueles que insistem em acreditar que há um final feliz na história da humanidade. Agostinho falava sobre isso quando escreveu o seguinte: “uma vez que fomos criados para isso, sempre buscaremos a alegria infinita que fomos projetados para encontrar em comunhão amorosa com o Divino” (do livro The City of God).

Um recado amoroso para o leitor no vale da tristeza

Em seu livro “Que eu diminua – encontrando alegria duradoura na era do eu”, a autora Jen Oshman lembra que nas cartas de Paulo, a alegria é apresentada como uma característica básica do cristão (Romanos 1:17) e está geralmente associada à nossa firme esperança (Romanos 5:2-5, 12:12): “Desejamos um propósito e um poder que sejam maiores que nós, participar de algo que realmente importa. Fomos criadas para a transcendência. Fomos criadas para desejar um sentido que ultrapasse nossas vidas e nossos próprios limites. Fomos projetadas para encontrar alegria na comunhão amorosa com o Divino.”

Não sei em que situação você se encontra hoje, se no alto da montanha ou no vale sombrio, mas posso afirmar que, quanto mais você investir em seu relacionamento com Deus, mais alegria terá, pois Ele tem prazer em nos encher de tudo o que é bom, tudo que dá vida aos nossos ossos, à nossa alma e ao nosso espírito. 

Já vivenciei um profundo vale da sombra da morte, onde o brilho dos meus olhos escureceu tal como o negro céu de uma tempestade. Minha história de vida passa pelos dias em que eu desejei a morte e duvidava que era possível encontrar alegria novamente. 

Mas, a alegria me encontrou quando me permiti ser cuidada pelo Bom Pastor. A alegria me encontrou quando olhei no espelho e reconheci que eu estava à deriva e somente Deus poderia me salvar. A alegria está em uma pessoa, Jesus Cristo, meu amado Redentor que me tirou do estado de angústia e ensinou que a vida é esta peregrinação pedregosa em direção ao verdadeiro lar.

Que Cristo preencha seu coração de alegria e graça. Derrame-se em vulnerabilidade na presença daquele que sonda os corações, mostra os caminhos maus e aponta para os caminhos de verdadeira vida. Confie no cuidado de quem troca nossas lágrimas por riso e devolve-nos o desejo de viver, e, melhor ainda, viver para Ele. A alegria é um assunto sério no céu e, por isso, o Santo Espírito de Deus deseja desenvolvê-la em sua vida. Que este bendito fruto continue crescendo e saciando sua alma!


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