O fardo de viver para si e a luta diária para recomeçar

Eu sinceramente não sei qual o tema desse texto e se ele se encaixa na vida de outras pessoas. Não quero ser vista como um exemplo, mas não quero que irmãs em Cristo, se sofrem do mesmo mal, cometam o mesmo erro que eu e se deixem levar pela rotina sufocante e acabem se esquecendo das verdades pelas quais elas deveriam viver.

Passei por algumas dificuldades pessoais nesses últimos tempos, e acredito que sem a saúde – física e mental – que possuo hoje, não teria condições para enfrentá-las. Por isso, divido com vocês, amigas, o meu testemunho sobre amor próprio, gratidão por ser do Senhor, e por não existir sem propósito.

Há cerca de três anos, eu trabalhava em um escritório longe da minha casa e levava uma vida completamente ausente da rotina com minha família, igreja e amigos. Tentava encontrar na minha carreira de formação o propósito da minha existência e à medida que não conseguia ser feliz, deixava-me dominar pela ansiedade e pelo medo do amanhã.

Isolava-me durante a semana, questionava Deus sobre Seus propósitos e descontava toda minha angústia na comida. Estava engordando desde a época de caloura na faculdade, mas em 2016 atingi meu limite, pesando 96 kg com 1,66cm de altura. A comida substituía o aconselhamento pastoral, as devocionais que eu não fazia e o tempo de qualidade com meus pais.

O peso atrapalhava todo o funcionamento dos meus dias. Por conta dele – e do que eu comia – não tinha energia para participar de programações e projetos da minha igreja, não tinha ânimo para sair da cama, mal conseguia vencer o dia até o pôr-do-sol sem dor. Crises sérias de labirintite me atingiam quase que semanalmente e, como eu andava de ônibus, o pessoal do meu trabalho me segurava no escritório, temendo pela minha segurança ao tentar ir pra casa.

Acordava às 4:30h da manhã para pegar o primeiro ônibus e chegava em casa, descendo do último, quase às 19h. Perdi as contas de quantas vezes dormi com a roupa que eu estava, sem nem tirar os sapatos de tão exausta.

Acordava cedo demais para pensar em ler a Bíblia e justificava com o cansaço a falta de uma devocional noturna. Deus não estava na minha rotina. Não me lembrava de Suas promessas, de Seus feitos, de Sua aliança, de Seu poder e provisão. Não me lembrava da minha identidade e o mundo sugava tudo que eu tinha pra dar: meu corpo, minha saúde.

Não me entendam mal, meu trabalho não era ruim. Eu amo até hoje aquele lugar, aquelas pessoas. Graças àquele tempo, conheci amigos que levo comigo até hoje. Mas eu não estava bem, não estava vivendo com equilíbrio, com prudência. Depositava no pouco dinheiro, mas certo, no final do mês a minha segurança e acreditava que ter um emprego era ter controle sobre qualquer imprevisto ou dificuldade.

Ainda me lembro da sensação de comer como se o mundo fosse acabar e de dormir logo em seguida, porque a vida era vazia. Lembro-me do desespero que eu sentia aos domingos quando me percebia que a segunda-feira se aproximava. Chorava, odiava sentir tudo aquilo. Quem sofre de ansiedade sabe a luta interna que é. É diária.

Queridas, o Senhor teve misericórdia de mim e usou meus amigos para me alcançar. Talvez você esteja passando por uma situação parecida e não tenha ninguém para te abrir os olhos ou talvez você conheça alguém assim. Interfira.

Quando caí em mim, percebi que estava em pecado e precisava me arrepender. Ai, eram tantos pecados que nem tenho como listar nesse texto! Desde a gula, arrogância e preguiça até o pecado da autossuficiência. Por que não expus minhas aflições ao Senhor? Por que não contei a Ele os anseios do meu coração? Porque não cri que Ele era suficiente para eu ser feliz? Por que não busquei primeiro o Reino? Meus olhos foram abertos e uma nova jornada começou: a de arrependimento e conserto do que eu havia estragado, a começar pelo meu momento devocional e pelo meu corpo.

Passei a escrever minhas orações, aflições, sonhos, tudo que se passava no meu coração. Nem que eu precisasse ter menos horas de sono, abdicar de uns minutos do horário de almoço, ou no ônibus… eu tinha comigo a Bíblia e papel. Sempre que pensava na vida, pensava no Senhor e escrevia. Isso ajudou, inclusive, no processo de manutenção da minha ansiedade (diagnosticada pelos médicos como generalizada).

“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:6-7)

Fisicamente, eu tomei coragem (amigos, obrigada) e me matriculei numa academia e comecei uma dieta para recuperar os nutrientes que me faltavam. Eu só comia comida artificial e doces. Comecei do zero. Minha nutricionista era minha irmã em Cristo e juntas aceitamos esse desafio. Ela me alfabetizou, praticamente, sobre comida, sobre porque precisamos nos alimentar com o que o Senhor fez, sobre glorificá-lo em nossa mesa, nas refeições, sobre o louvor que existe em agradecer pelo pão de cada dia. Queridas, nosso relacionamento com o Pai pode ser tão profundo que o simples ato de nos alimentarmos pode resultar em adoração.

Não foi fácil, ainda não cheguei onde preciso chegar. Consegui recuperar as forças nos joelhos, a labirintite não me aflige mais, os meus medos são afastados com a Palavra da Verdade.

Entre tantos milagres que o Senhor fez nesse tempo, eu consegui um trabalho perto de casa e posso agora almoçar com meus pais, dormir melhor. Por mais que eu seja grata por essa bênção, continuo sem saber o dia de amanhã e luto todos os dias para não fraquejar.

Não se trata de exercícios e dieta. Não se trata de um mundo fitness ou de frases de autoajuda. É sobre achar forças no Único que pode preencher o vazio em nós e deixá-Lo irradiar para todas as áreas de nossas vidas.

Não se trata de exercícios, dieta, um mundo fitness ou frases de autoajuda. É sobre achar forças no Único que pode preencher o vazio em nós e deixá-Lo irradiar para todas as áreas de nossas vidas. Click To Tweet

Amigas, a filosofia da autoestima pode ser um fardo quando não sabemos para quê existimos. Não é por nós. Nosso trabalho e rotina perdem o sentido sem o propósito maior de sermos criação de um Criador soberano, amoroso e misericordioso.

“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.” (Romanos 6:8-13)

Compreender e aceitar que Cristo morreu por todos os nossos pecados e viver uma vida com os olhos da fé, para a glória de Deus, é a coisa mais difícil que podemos fazer, mas certamente é a mais feliz. Saber o caminho para recomeçarmos sempre que cairmos é reconfortante. Por Cristo, não somos mais dominadas por nossos pecados. Se conseguimos levantar uma vez, podemos levantar quantas vezes forem necessárias. Pela graça.

Jesus é a fonte de nossa alegria e contentamento. Jesus é o motivo de nosso louvor. Jesus é o Rei pelo qual vivemos. Seu Reino é o que buscamos! Jesus nos dá propósito. Jesus nos dá consolo e um fardo leve. Aprendamos dEle e fechemos nosso coração para a confusão do mundo e seus enganos.