O ensino como elo (Sobre a educação cristã)

O assunto “Educação Cristã” definitivamente é um dos meus campos de estudos preferidos, ao mesmo tempo que me preocupo e esforço para que, dentro de minhas capacidades possa me aprimorar nele. Alguns motivos cercam meu interesse pelo assunto, um deles é a sala de aula, na qual me encontro diariamente em minha profissão. Durante muito tempo achei que ser cristã e estar em um ambiente educacional limitava minha prática, achei que “minha mochila de fé” deveria ficar em casa, achei que ensino e religião juntos resultava em confusão, mas a verdade é que sempre estiveram juntas. Hoje, diferente desse tempo, (que graças a Deus já passou) consigo enxergar um pouco melhor o quanto educação cristã está aplicada (ou pelo menos deveria estar) em muitas outras áreas.

Por meio desse post gostaria de esboçar algumas percepções e te convido a pegar um café e pensarmos juntas.

Pensar em educação dentro do cenário brasileiro pode trazer muitas críticas, talvez o cenário atual, talvez os índices de desempenho ou talvez alguma experiência sua com a escolaridade. Quero te convidar a pensar de modo mais profundo sobre o assunto, relembrando seu tempo de escola. As áreas de filosofia e psicologia são as áreas que predominam a influência na prática de um professor, essas disciplinas formam muitas visões pedagógicas. Foi então nessas correntes teóricas que me vi confusa, principalmente no que se refere a “educar da maneira correta” e me vi distante da simples lição que Deuteronômio 6 destacou a tantos séculos atrás. Posso dizer que por um tempo relativizei e pensei “talvez o modo correto de educar e ensinar não exista, conforme os alunos aparecerem eu atendo as novas necessidades, aplicando as teorias no modo de enxergar o meu aluno e a prática da educação”. Pensei assim, sem perceber que já conhecia bem o conceito de ensino.

 A verdade é que quando verdades eternas são esquecidas o perigo do relativismo chega. O meu envolvimento com as discussões e práticas que envolviam ensino, tornaram a minha relação com teorias algo extremamente religioso. Tirei da ordem correta a minha primeira relação que jamais poderia ter sido negociada ou recolada. Deus como Deus da minha vida e nada mais. Assim, a luz de alerta acendeu, vermelha, gritante e urgente!

O Cristão e a prática de ensinar

O ensino do verdadeiro evangelho traz liberdade (Jo 8:31-32), mas minha pretensão não é  aprofundar a respeito do Evangelho, e sim trazer à luz a responsabilidade que temos em ensinar uns aos outros para que Cristo seja cada vez mais vivo em nós. Esse post não é direcionado apenas a professores e líderes de grupos, mas a todos os cristãos que naturalmente devem ser educadores (Cl 3.16). Então, precisamos saber a quem vamos ensinar, por que e também como e o quê. Lembre-se, o papo aqui não é sobre ou para professores somente, observe o que a Bíblia garante:

Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seus corações. Colossenses 3:16

Muitas lições aprendidas na caminhada cristã não são necessariamente aprendidas em sermões ou aulas, mas em conversas informais entre amigos e irmãos. Entenda que o objetivo não é encorajá-la a abrir uma escola ou uma igreja, ou formalize um grupo entre seus amigos, mas que você absorva a necessidade de ensinar em sua vida, porque a Bíblia nos diz que o ensino é algo que faz parte da vida daqueles que são chamados filhos de Deus.

Sabe o meu erro de posicionar teorias acima do senhorio de Cristo na minha vida? Fui ajudada por meio de um trabalho intensivo de ensino aplicado por meu marido e amigos, por meio de boas e longas conversas, orações e encorajamentos teológicos, que consegui me enxergar e passar a fundamentar o modo bíblico de pensar educação, na escola, na igreja e nas áreas de relacionamentos. 

Minha intenção é mostrar o quanto cada indivíduo que foi salvo pelo Senhor Jesus possui um compromisso com a transmissão das verdades eternas e o quanto os relacionamentos são ferramentas para isso. O compromisso com a Verdade não é somente dos líderes e pastores, o ensino das Escrituras por meio de aconselhamentos, relacionamentos e discipulados é uma ordem do Senhor a você e a mim (Mt 28:20). Ensino é uma das áreas em que muitos cristãos estão em atuação, ou por meio de liderança de jovens, discipulado, maternidade, exposição bíblica e etc, por isso minha decisão em partilhar algumas das lições que estou aprendendo.

Como é o ser humano

Ensinar requer olhar para o outro, nós ensinamos a seres humanos. O que é o ser humano, então?

Pedagogias filosóficas vão dizer que o homem é um ser neutro, assim, se corrompe pelo meio em que vive. Desse modo, a educacional em cenário não-confessional para ensinar a esses “seres neutros”, usam estratégias inadequadas para superar e enfrentar o problema do pecado, traçando ideias de um mundo melhor, decretando práticas a serem ensinas para que a transformação aconteça. Diferente da verdade que Romanos 3:23 nos ensina, certo? Pense comigo, existem essa e outras formas de enxergar o ser humano, por exemplo, se você acredita que o ser humano é puramente político, sua pedagogia, o modo de ensinar e suas ênfases caminharão para formação de um indivíduo que sabe fazer análises críticas do mundo ao seu redor. Desse modo, sem compreender verdadeiramente o que é o ser humano, facilmente podemos educar, por exemplo, nossos filhos e nossos irmãos por caminhos contrários a Deus, esse é um dos perigos da falta de conhecimento a respeito do que é o ser humano.

Qual a posição correta que devemos adotar então? Nós não compartilhamos dessa ou daquela visão, nós temos a antropologia verdadeira revelada por Deus em Gênesis 1:27, onde o Senhor nos diz o que o ser humano é – um ser a imagem e semelhança de Deus – um ser exclusivo, com um único objetivo de cumprir a finalidade pela qual fomos criados, que é manter uma relação permanente com quem nos criou (Ec 12:13). Isso nos direciona a pensar em como Deus é.

Como é Deus

Deus é um ser pessoal e relacional, Deus é trindade (Gn 1:26). Agostinho, grande teólogo dos primeiros séculos, vai dizer que Deus é um ser comunitário. Ou seja, se Deus é um ser que se relaciona e age em comunidade, naturalmente, em essência suas criaturas demandam a mesma necessidade de relações! Os seres humanos são dependentes de relacionamentos para serem humanos, prova disso é aprender a falar, se movimentar e outros desenvolvimentos a partir das relações humanas. 

Antes disso, precisamos estruturar uma ordem de relacionamentos aqui. A primeira e mais importante deve ser o compromisso com Deus, seguindo o primeiro mandamento e seguindo o compromisso estabelecido por Deus por amor ao seu próprio nome (Mt 22:37 – Is 48:11). O ser humano possui diversas necessidades relacionais, mas é inegável, inclusive cientificamente, que o ser humano é um ser religioso e que sua necessidade primária é essa, adorar. Aqui podemos classificar em ordem de importância o quanto a relação vertical entre “Deus e eu” deve ser a primeira na busca humana. Se esta não estiver em seu lugar devido, todas as outras relações serão afetadas drasticamente. Se Deus não estiver em seu lugar de rei do coração humano estaremos em pecado. Sejamos honestos, a idolatria a qualquer coisa que nos cause admiração é uma armadilha. Qual o desdobramento prático disso? Se não temos um relacionamento com Deus, não o conhecemos, se não o conhecemos, não conhecemos nada sobre nós mesmos.

Adão nos dá o testemunho de um erro fatal, com a quebra da relação primária, todas as suas outras relações também sofreram alterações desastrosas, com o próximo, com a criação, inclusive, consigo mesmo.

Em nossas comunidades encaramos a realidade das ordens trocadas, por exemplo, relações onde o matrimônio está posto em um lugar de importância acima do relacionamento com o Senhor, ou amizades e o que elas nos proporcionam, postas no lugar de Deus. O primeiro homem resistiu a voz do Senhor no início, nós resistimos a voz do Senhor ainda hoje com o legado de pecado que carregamos em nossas veias. 

Concluindo esse grande bloco, Deus nos fez à Sua imagem mas algo aconteceu, o pecado, que manchou e tornou imperfeita essa imagem em nós, e dessa forma passamos a não reconhecer a Deus. Assim, Ele próprio cuidou também desse cenário caótico, onde a separação estava decretada – Ele coloca sua imagem perfeita no mundo – Jesus (Cl 1:15)  nos entregando acesso novamente a Ele. 

Qual o objetivo da educação cristã?

Jesus é nosso referencial e depois de convertidos sabemos que caminhamos em direção a semelhança com Ele, esse é o período no qual estamos agora, em santificação (Rm 8:29). E aqui está todo o esforço da Educação Cristã — sermos ministradores das verdades de Cristo aos que estão ao nosso lado. Podemos enxergar nossa missão como aprender e educar para alcançarmos cada dia mais semelhança com Jesus Cristo. Estamos juntos nisso. Esse é o meu ponto! 

Mas se prepare, as pessoas não são receptivas ao Evangelho e suas verdades o tempo todo, mesmo alguns crentes. Por que isso acontece? Todos seguem sendo pecadores, o que dificulta a recepção. Por isso, somos dependentes da oração. E assim as ações começam!

Por meio de relacionamentos intencionais que visam a santificação entre os filhos de Deus, aqueles resgatados pelo sangue poderoso de Jesus, o ensino redentivo acontece, o ensino que visa redimir o homem e colocá-lo no caminho. O ensino da revelação é uma das estratégias de Deus para que a relação entre Ele e seus filhos voltasse para o caminho correto, para que a relação entre os filhos voltasse a ser harmônica e para que a relação do homem com a criação voltasse a ser zelosa. É conhecendo a Deus e a Sua palavra que a educação efetiva acontece.

Os momentos de oração entre amigos, mostrando vulnerabilidade, são momentos onde o ensino pode ser vivido. Conversas por Whatsapp (no caso, por exemplo, das voluntárias aqui do Graça) onde se discute a moral cristã em situações do cotidiano. Testemunhos, discipulado, momentos informais são oportunidades de enxergar o ensino aplicado por meio de afetividade, alegria e amor. No meu dia-a-dia enxergo a relação conjugal como uma das mais benéficas e didáticas que Deus me entregou para aprender e ensinar. A palavra de Deus sistematizada, estudada e embasada é rica e frutífera, mas a palavra vivida é do mesmo modo. Ensino pode ser sistematizado, mas considere também vivenciá-lo. 

Meu encorajamento com essa reflexão é pensar que todas as relações que um dia foram quebradas pelo pecado, foram perfeitamente ajustadas por Deus na pessoa de Cristo Jesus. Olhar para o ser humano em sua condição atual, redimido, por esse poder e misericórdia nos ajuda a ensinar com graça e aprender com humildade. 

Pensar sobre a necessidade de ensino da Palavra tornará nossas salas de EBD e pequenos grupos mais centrados no que precisamos nos formar de verdade, mais parecidos com Jesus. Tornará nossos líderes cada dia mais tementes e engajados na missão entregue de tornar famílias mais parecidas com o Senhor Jesus em seu legado. Tornará mães e professoras mais cuidadosas com o ensino aos pequenos. Tornará maridos mais intencionais em exercitar a piedade no casamento e também mulheres cada dia mais desejosas de sabedoria. Vivendo o ensino!

Minha oração é que Educação Cristã seja um elo entre os filhos e filhas de Deus no compromisso com a verdade, que esse assunto seja tão interessante e preocupante para você quanto é para mim. Que o melhor professor nos ensine, que em nossa formação ele encontre esmero e bons frutos de santificação, para honra e glória de seu nome!

Em Cristo,
Tairine