O descontentamento e a quebra do décimo mandamento

“Como eu queria ser uma mãe como Maria é!” “Por que eu não tenho um cabelo como de Joana?” “O casamento de Lia é invejável!” “Claro que Sara é feliz, se eu morasse onde ela mora, eu também seria!”

Pensamentos como estes já sondaram o seu coração e a sua mente? Você, querida amiga, já se pegou desejosa por algo que não era seu?

Em um ou em outro momento, o descontentamento surge em nosso coração como uma pequena semente de insatisfação, e em pouco tempo, floresce uma árvore de amargura e passamos a cobiçar uma outra vida que não é nossa.

Sempre insatisfeitas. Sempre querendo mais. Sempre querendo o melhor. Um saco-sem-fundo de cobiça, inveja e insatisfação. Afinal, o descontentamento nunca está só. Quantas vezes, inclusive, agimos motivadas por esse tipo de sentimento pecaminoso? Quantas vezes compramos uma roupa só porque vimos em alguém? Fazemos algo para verem que não estamos por baixo? Uma irmã dá um passo e você quer dar dois?. Compra uma casa e você compra uma casa maior? Corta o cabelo e você corta e pinta? Compra um carro novo e você quer um carro e uma moto? Não tem fim. O descontentamento, se dermos espaço, germina como erva daninha e toma conta de tudo, cobrindo lindas flores do jardim da graça.

Ah, Senhor! Quão ingratas somos. Como negligenciamos sua maravilhosa graça! Como, por vezes, rejeitamos sua gloriosa obra em nossa vida por estarmos ocupadas demais olhando para o lado. O descontentamento, além de tudo, nos torna amargas. Ele nos cega para tudo o que Deus faz em nós e para nós e nos dá olhos apenas para a vida alheia.

Você se lembra de Noemi? O descontentamento dela era tão grande que mudou seu nome de Noemi (agradável), para Mara (amarga). Você já se sentiu assim? Tão amarga que foi incapaz de ver a graça como raios de sol a iluminar sua vida?

Apesar de ser um sentimento comum, não podemos crer que é um sentimento aceitável aos olhos de Deus. O descontentamento é mais do que um sentimento: é um pecado. Um pecado gravíssimo, já que nunca está só. Ele vem com uma mala de viagem cheinha de outros pecados detestáveis. É a quebra de um mandamento, uma vez que a cobiça vem na mala. É uma obra da carne, vez que a inveja vem junto, como diz Paulo em Gálatas 5.

O descontentamento é inseparável da cobiça. Eu nunca estou apenas descontente, eu estou descontente justamente por querer algo que eu não tenho. Seja em questão de material, de bens, de personalidade e até mesmo de dons e talentos. 

O Senhor, que nos criou e nos conhece intimamente, sabendo que seríamos tentadas a cobiçar, nos alertou sobre isso há muito tempo e nos deu um mandamento contra este pecado:

“Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.” Êxodo 20.17

Cobiçar é um pensamento errado em si mesmo, é um desejo insatisfeito por algo que você não tem direito. É um coração insaciável desejando algo que o Senhor não lhe deu. É pensar que o que Ele deu a outra pessoa, deveria ter dado a você. E então, quando você cobiça, você afirma em seu coração que não está contente com a vontade de Deus. Ah! Que grande erro, querida amiga.

Poderia o Senhor, Aquele que veste os lírios e alimenta as aves, errar quando se trata de uma filha, à quem Ele ama? Poderia o Senhor não saber exatamente o que você precisa, e lhe dar conforme sua necessidade?

Percebe quão pecaminoso é olhar para alguém e desejar daquilo que ele possui? Fazer isso é afirmar que Deus não é perfeito em graça e sabedoria.

Assim como em todas as coisas em nossas vidas, precisamos urgentemente fixar nossos olhos na Cruz de Cristo e nos derramar aos seus pés, colocando sobre o madeiro todo pecado que há em nosso coração. Pecado não confessado é pecado alimentado e nutrido. Pecado confessado é pecado perdoado. Há na obra perfeita de Cristo cura para alma e alegria para o coração.

Enquanto nosso coração quer nos colocar no centro do mundo, desejando para si tudo o que puder ter como uma criança birrenta e mimada se aborrecendo quando não consegue ter, Jesus nos mostra nosso verdadeiro lugar: aos seus pés, confiantes na providência, soberania e sabedoria em nos dar exatamente o que precisamos. Ele nos dá olhos capazes de enxergar quem de fato somos e onde devemos estar. Quando olhamos para a perfeição do nosso Salvador, o descontentamento dá lugar à gratidão, a amargura dá lugar à alegria, a inveja dá lugar ao contentamento e a cobiça sai de cena para a satisfação entrar e ficar. Há descanso no Cristo ressurreto.

Mas como posso não cair na tentação de cobiçar? Louvando a Deus pelas Suas bençãos na vida dos seus irmãos. Ainda que você não tenha tanta habilidade como sua irmã em determinada área, louve a Deus pelo dom dela. Ainda que você nunca tenha trocado de carro enquanto sua irmã troca a cada dois anos, louve a Deus pelas bençãos derramadas sobre ela. Ainda que você esteja aprendendo sobre maternidade, enquanto a irmã tira de letra a criação do quinto filho, agradeça a Deus por sua graça sobre ela. Tudo o que temos, de graça recebemos do mesmo Pai amoroso e misericordioso. Não há motivo para insatisfação ou para exaltação. Não há nada do que temos que não tenha vindo pelas mãos graciosas do Senhor. Rejeitar o que Ele nos dá por achar que deveríamos ter outra coisa é como rejeitar um presente ganhado em seu aniversário e pedir para trocar por algo que você queira mais.

Cristo cumpriu perfeitamente todos os mandamentos, e graças a Ele podemos, pelo poder do Espírito Santo, obedecer quando o Senhor nos ordena a não cobiçar. Lembre-se: os mandamentos nos protegem.

Querida irmã, não faça do seu coração um abrigo aconchegante para o pecado. Olhe para Jesus. Aquele que é dono do céu e da terra é aquele que também disse: “As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9.58). Ele estava contente. Ele estava satisfeito pois conhecia a soberania de Deus. Aquele que poderia facilmente saciar sua própria necessidade e desejo contentou-se com aquilo que vinha da mão do Pai (Lc 4.1-12). Ele não cobiçou aquilo que não era propriamente seu, mas com paciente resistência recebeu sua herança por meio da cruz. Ele não precisava de nada além do que o Pai tinha para Ele, e nós, pela graça e pelo poder o Espírito Santo em nós, também não.

Louvado seja Deus.