Nosso Passado Não Nos Define (Sobre Trauma)

Em uma pesquisa rápida e superficial na internet encontraremos com facilidade que, segundo os dicionários, a palavra “trauma” pode ser definida como perturbações causadas por lesões físicas ou experiências emocionais – desagradáveis – que ficam marcadas na mente de um indivíduo.

Quem lê uma definição assim, tão objetiva, muitas vezes não consegue imaginar a profundidade das raízes que um trauma pode ter no coração e na mente de alguém. Por conta de experiências vividas, muitos não apenas não sentem paz, mas também se acham indignos, merecedores de toda sorte de infortúnios e dor.

Dentre tantos efeitos que traumas vividos podem nos causar, consigo citar alguns como complexo de inferioridade, dificuldade para realizar certas atividades ou frequentar determinados lugares, tendências paranoicas (viver em desconfiança não razoável), depressão, etc.

O objetivo deste texto, queridas irmãs, de forma alguma é invalidar a gravidade destas marcas. A sua dor é válida. Seja um acidente, uma experiência de guerra, sequestros, assaltos, abusos, violências de qualquer tipo… a sua dor é válida e é sim natural precisarmos de um tempo para digerir acontecimentos assim. É como se a vida fosse linear, como se a rotina fosse tudo que iríamos conhecer até tudo mudar e o caos acontecer, até a tempestade vir e o medo nos assolar. De fato, certos abalos podem ter influenciado a sua forma de ver a vida, a sua maneira de se relacionar com as pessoas ou até mesmo com Deus. Sim, este mundo nos machuca.

Mas, então, como não viver na dor que o mundo nos causou?

É claro que eu não tenho todas as respostas para todos os casos possíveis, mas gostaria de expor aqui, de maneira geral, verdades preciosas que muitas vezes esquecemos de aplicar em nossas vidas.

Eu não posso voltar no tempo, não posso te encorajar a viver em uma realidade paralela de comercial de margarina como se o mal não tivesse te alcançado e te marcado profundamente. Mas, o que eu posso te dizer, minha irmã, é que o que nos faz seguir em frente é a forma como respondemos àquilo que não pudemos controlar.

As tragédias podem nos mostrar a fragilidade da vida humana, por exemplo, ou a superficialidade de muita coisa que achamos importante e inegociável. Os traumas mudam nossa perspectiva. A parte boa? É que Jesus Cristo nos restaura.

“… tornarei o seu pranto em júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a sua tristeza.” (Jeremias 31:13b)

Creia. Este é o primeiro passo. Creia que o Deus Todo-Poderoso pode, para Sua glória, transformar o teu pranto em alegria.

Não se conforme. Não se conforme como se você já estivesse fadada a ser tomada pelo seu trauma e dominada por ele. Você é consolada pelo Santo Espírito e nada – absolutamente nada – pode te separar do amor do Senhor do Universo, do Senhor dos Senhores.

“Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 8:35-39)

Apresente a Deus as suas súplicas. Amada, não falamos com ídolos que têm ouvidos, mas nada ouvem. Falamos com o Deus Vivo que podemos chamar de Pai. No momento escuro da sua alma, apresente a Ele todo o seu ser e clame por restauração. Chore, desabafe, fale em voz alta, ajoelhe-se, humilhe-se. Quanto tempo faz desde a última vez que você orou ao Senhor de peito aberto?

Sirva. A sua vida tem um propósito. Os olhos do nosso Deus viram a tua substância ainda informe, e no seu livro foram escritos todos os teus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda (Salmos 139:16). Eu não tenho como te dizer o porquê de algo ter acontecido com você, querida, mas eu posso te incentivar a usar esse trauma para a glória de Cristo e o serviço à igreja, guiando à luz outros irmãos presos na escuridão do passado. Você é importante e indispensável no corpo de Cristo e está ligada a mais irmãos e irmãs que podem estar precisando da sua empatia, do seu conselho, da sua ajuda. Seja forte também por eles.  

É claro que o processo para completa restauração pode demorar – e você pode precisar de ajuda médica, psicológica, de aconselhamento e tempo – mas o renovo é iminente.

No capítulo 11 de 2 Coríntios, encontramos relatos de diversas situações, consideradas traumáticas por muita gente, enfrentadas pelo Apóstolo Paulo em seu ministério, tais como açoites, naufrágio e prisões. À primeira vista pode parecer castigo ou até mesmo azar. Por que alguém que teve a sua vida completamente transformada pelo evangelho e vivia para a pregação da Palavra passaria por tanta dor?

No capítulo seguinte temos o balde de água fria:

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.

Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. (2 Coríntios 12:9,10)

O evangelho é radical. O amor de Cristo por você é radical. Que Cristo seja vivido e mostrado ao mundo até através dos nossos traumas, irmãs. Que a dor não supere o desejo de viver por Jesus, mesmo que precisemos superar os traumas apenas um pouco a cada dia.

Que possamos falar como Elisabeth Elliot em seu livro “O Sofrimento Nunca É Em Vão”:

Seja lá o que estiver no cálice que Deus está me oferecendo – dor, tristeza, sofrimento ou lamento, como também as superabundantes alegrias -, estou disposta a tomar, pois eu confio nele. (p. 73)

Confie.


Esse post faz parte da nossa série de postagens de Setembro com o tema “Saúde Mental”. Para ler todos os posts clique AQUI.