Nossa Luta Contra o Pecado: Perfeccionismo: Uma Perspectiva Cristã

O desejo de fazer tudo com excelência é uma qualidade admirável e digna de ser buscada, mas, quando esse anseio se torna uma obsessão, a excelência dá lugar ao pecado da idolatria. O perfeccionismo é uma característica que pode se apresentar de várias formas e ter nomes diversos, mas conceitua-se pela busca da perfeição segundo padrões inalcançáveis. O desejo de agradar a Deus, e até mesmo agradar aos outros em certa medida, não é ruim por natureza, porém, quando fazemos desse desejo parte de nossa identidade, estamos diante de um problema que causa impactos profundos em nossas vidas. 

Será que Deus espera que sejamos perfeitos em tudo? Será que a falha é sinal de derrota? Como a Bíblia nos orienta sobre essa questão? Neste texto, exploraremos o que é o perfeccionismo, seus impactos e o que a Palavra de Deus nos ensina a respeito.

Definindo perfeccionismo

O perfeccionismo pode ser definido como a busca constante e excessiva por padrões extremamente altos de desempenho, acompanhada por uma autocrítica severa e um medo intenso de errar. Pessoas perfeccionistas muitas vezes acreditam que seu valor está condicionado ao seu desempenho e à aprovação dos outros. Isso pode gerar ansiedade, baixa autoestima, esgotamento físico e emocional e até mesmo procrastinação, pois o anseio pela oportunidade e execução perfeitas podem fazer o perfeccionista adiar indevidamente o que precisa ser feito.

Embora seja natural e positivo desejar fazer bem as coisas, o perfeccionismo vai além de um esforço saudável. Ele se torna prejudicial quando a pessoa não se permite errar, sente-se constantemente insatisfeita consigo mesma e carrega um peso de culpa e inadequação. Além da autocobrança severa, o perfeccionista também tende a esperar que os outros atendam adequadamente aos padrões que ele mesmo erigiu como ideais, gerando um ciclo de cobranças, críticas e falta de valorização nos relacionamentos. 

No contexto cristão, o perfeccionismo atinge raízes ainda mais profundas. É comum que o perfeccionista cristão busque um desempenho impecável como uma tentativa de merecer o amor de Deus, num sentido vertical, ou de provar sua espiritualidade amadurecida, num sentido horizontal. E assim ele entra no ciclo “busca por perfeição > falha > decepção > sensação de que perdeu o amor de Deus > recomeço da busca por perfeição para reconquistar esse amor”.

Na era digital, as tentações ao perfeccionismo parecem estar  ainda mais presentes. Não quero aqui atribuir às redes sociais a causa do perfeccionismo, pois a razão desse pecado está em nossos corações caídos e, assim sendo, já existia muito antes do advento das redes. Porém, é inegável que, em uma era onde a realidade pode ser facilmente maquiada, editada e milimetricamente forjada, as tentações para cair em uma busca irreal por perfeição aumentam significativamente. 

Como dito anteriormente, precisamos tratar o perfeccionismo como ele realmente é, um pecado. Ao contrário do que muitos dizem(que ser perfeccionista é uma qualidade), diante da definição de perfeccionismo, ainda mais segundo a cosmovisão cristã, precisamos enxergá-lo como um tipo de idolatria e, portanto, pecado. E, como todo ídolo, o perfeccionismo exige seus sacrifícios, sendo alguns deles as verdades das Escrituras, o amor ao próximo e uma identidade firmada em quem Deus diz que somos e não no que nosso desempenho tem a dizer sobre nós.

O que a Bíblia diz sobre perfeccionismo

A Bíblia nos ensina que Deus é santo e perfeito, e ele nos chama à santidade, como vemos em Mateus 5:48: “Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês”. No entanto, isso não significa que devemos almejar uma perfeição inatingível, especialmente enquanto estivermos neste mundo. O que esse versículo nos ensina é que devemos buscar uma vida de santidade, ou seja, de contínuo abandono do pecado e revestimento de Cristo em dependência da graça de Deus. 

O Senhor sabe que não alcançaremos a perfeição enquanto estivermos neste lado da eternidade; por isso, sua ordem para buscarmos a perfeição é mais uma forma de nos fazer olhar para a graça salvadora de Cristo e para a bendita esperança que nos aguarda no mundo vindouro.

Sendo assim, como podemos enfrentar o pecado do perfeccionismo segundo as Escrituras? Vejamos algumas diretrizes que a Palavra de Deus nos ensina:

  1. Somos justificados pela graça, não por desempenho
    Muitas vezes, o perfeccionismo nasce do medo de não sermos bons o suficiente para merecer o amor de Deus. Mas, me permita dizer uma verdade dolorosa e ao mesmo tempo libertadora: não merecemos mesmo. Não há nada que façamos bem o suficiente para sermos merecedoras do amor do Senhor. No entanto, Efésios 2:8-9 nos lembra: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie”. Nosso valor e aceitação diante de Deus não estão baseados em nosso desempenho, mas no que Cristo fez por nós.
  2. Deus usa nossa fraqueza
    O apóstolo Paulo lidou com sua própria limitação e ouviu do Senhor: “A minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12:9). Deus não nos chama para sermos autossuficientes, mas para depender dele. Nossa fraqueza não nos desqualifica; pelo contrário, abre espaço para a atuação do poder de Deus quando descansamos em dependência dele.
  3. Descanso em Deus, e não em nosso desempenho
    Jesus nos convida a descansar nele: “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mateus 11:28). O perfeccionismo muitas vezes nos sobrecarrega com exigências inalcançáveis, mas Deus nos convida a confiar nEle e descansar em Sua graça. Além disso, podemos ser nós aqueles que põem sobre outros fardos difíceis de carregar. Para esses problemas, Cristo Jesus tem a solução – colocar aos pés dele todo peso da performance e perfeição e descansar na perfeição de Jesus Cristo e em sua obra perfeita.
  4. O amor de Deus não depende de nossa perfeição
    Romanos 8:38-39 nos assegura que nada pode nos separar do amor de Deus. Isso significa que não precisamos ser perfeitos para sermos amados por ele. Seu amor é incondicional e não depende de nosso desempenho, somos amados porque ele simplesmente nos escolheu como objetos do seu amor.
  5. Chamados à excelência, não à obsessão
    Colossenses 3:23 nos orienta: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens”. Devemos buscar a excelência em nosso trabalho e vida cristã, mas isso não significa cair na armadilha do perfeccionismo. A excelência reconhece o valor do esforço sem exigir a impecabilidade. A excelência pode ser ao mesmo tempo detalhista e graciosa, exigente e paciente.

O perfeccionismo pode ser um fardo pesado e uma armadilha espiritual, levando-nos à exaustão e ao desânimo. No entanto, a Bíblia nos convida a confiar na graça de Deus e a descansar em seu amor incondicional. Em vez de buscar uma perfeição inatingível, devemos nos render ao Senhor, permitindo que ele trabalhe em nossas vidas e nos transforme à sua imagem, usando inclusive nossas falhas e fraquezas para levar-nos a uma vida mais santa.

O convite de Deus não é para que nos sobrecarreguemos tentando ser impecáveis, mas para que caminhemos em fé, confiando que ele é suficiente. Que possamos abandonar o perfeccionismo e abraçar a liberdade que há em Cristo, servindo a Deus com um coração sincero, mas sem a pressão de sermos impecáveis. Afinal, nosso valor não está em nosso desempenho, mas no amor inabalável do nosso Pai Celestial e no sacrifício perfeito que Cristo Jesus fez na cruz do calvário em nosso lugar.


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