Nossa Luta Contra o Pecado: Correndo da Comparação Tóxica

Estou aqui diante do meu computador tentando decidir por onde começar com esse assunto. Sabe quando se tem tanto para falar que as frases vêm todas de uma vez e acabam fazendo um zumbido confuso ao invés de um som que seja útil? Não digo isso pela confiança que tenho em falar sobre o assunto, mas pelo fato de eu mesma identificar essa tentação em minha vida. Se juntarmos todas nós em uma sala e iniciarmos uma conversa sobre a comparação ser a inimiga da alegria, creio que teríamos uma reação unânime e visível de cabeças balançando para cima e para baixo em concordância. É verdade. Todos sabemos disso. 

Vivemos em um mundo onde as pessoas são grandes e Deus é pequeno. Olhamos, observamos, comparamos, medimos, percebemos, recebemos e doamos. Usamos nossos sentidos e nosso corpo físico para experimentar esse mundo e navegá-lo. Em um mundo como esse, é simplesmente humano nos vermos em relação ao que está diante de nós. Se alguém diz: “meu pé é muito grande”, essa pessoa somente tomou essa ideia como verdade porque ela se mediu com o que estava diante dela, ou seja, outras pessoas da mesma estatura, sexo, e biotipo. Comparar é algo natural como quando se vai ao hortifruti, por exemplo: você olha e segura mais de uma ou duas frutas para ter certeza de que sua escolha será a melhor possível dentro daquele universo de abacates ou maçãs. Podemos ver a comparação, então, como um instrumento valioso e de certa forma, necessário em certos contextos, mas como usá-lo bem?

Vamos começar, porém, pelo “como não usá-lo”. É possível que o problema encontre-se no porquê tiramos esse instrumento da nossa maleta de ferramentas: nós olhamos para o outro com uma vontade de ser melhor ou ter mais. Em outras palavras, o problema encontra-se no coração, na motivação que está nos impulsionando a comparar. De um sorriso mais bonito a um tênis de bom gosto, a supervalorização daquilo que outros pensam de nós é lenha na fogueira da comparação tóxica. Passamos a desejar mais do que temos (em termos quantitativos) ou desejar ser “melhores” do que somos (em termos qualitativos) e, como se não fosse o suficiente, passamos a desejar que outros também pensem de nós de acordo com nossos próprios padrões desfocados.

Em um mundo de homens e mulheres criados pelas mãos do Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas, compararmos uns aos outros é quase como comparar banana com laranja — ambas são frutas, sim, mas completamente diferentes. Jamais teremos a mesma história e as mesmas circunstâncias para que nossas vidas possam ser, de fato, comparáveis. Se Ele nos criou de modo assombrosamente maravilhoso (Salmos 139:14), nos deu diferentes dons de acordo com a necessidade do Seu corpo (Romanos 12), como podemos ousar nos comparar com outra obra de Suas mãos? Se nos comparamos, acreditamos na mentira de que nosso Pai não é generoso, sábio, criativo ou poderoso o suficiente. 

Vejamos o que o autor de Hebreus diz no capítulo 12:1-3:

“Portanto, uma vez que estamos rodeados de tão grande multidão de testemunhas, livremo-nos de todo peso que nos torna vagarosos e do pecado que nos atrapalha, e corramos com perseverança a corrida que foi posta diante de nós.”

Se olharmos o capítulo anterior, entenderemos que a “multidão de testemunhas” são aqueles gigantes da “galeria da fé”. Homens e mulheres que nos ensinam até hoje com suas vidas a como crer em Deus mesmo quando as circunstâncias nos parecem desfavoráveis. Nessa grande multidão, está uma moça chamada Sara, e, se bem lembrarmos, foi essa Sara que se comparou a uma de suas servas e se achou menor por não poder dar filhos ao seu marido e cumprir a promessa que Deus tinha feito. Mas aqui está ela, nos rodeando ao lado de Abraão, Moisés, Raabe, Enoque, entre outros gigantes. Ela está nos mostrando que, sim, somos fracas e vamos tropeçar nas comparações, assim como ela tropeçou, mas a história não acaba aí: a fé no Deus Poderoso resulta em remissão dos nossos fracassos e falhas e nos livra de todo peso que atrapalha a nossa corrida.

Livremo-nos do pecado que nos atrapalha a viver com contentamento! Temos uma corrida proposta diante de nós, uma corrida que não permite que nossos olhos fiquem fixos nos que estão correndo ao nosso redor — frente, trás ou lado. Vejamos o que os versos 2-3 dizem: 

Mantenhamos o olhar firme em Jesus, o autor e aperfeiçoador de nossa fé. Por causa da alegria que o esperava, ele suportou a cruz sem se importar com a vergonha. Agora ele está sentado no lugar de honra à direita do trono de Deus. Pensem em toda a hostilidade que ele suportou dos pecadores; desse modo, vocês não ficarão cansados nem desanimados.”

Jesus Cristo não só nos dá fé para que possamos continuar a corrida, mas Ele também a aperfeiçoa para que não vejamos empecilhos como vergonha ou hostilidade como razões para desanimarmos. Ele viu esses obstáculos em seu próprio caminho, mas não se importou com eles. Sua decisão foi a de suportá-los, não de se adequar a eles ou evitá-los. Jesus Cristo é o nosso maior exemplo de um servo que, apesar do que pensavam dele, seguiu Sua missão sem temer a grande pequenez dos homens. Ele tinha confiança naquele que é fiel para completar a boa obra (Filipenses 1:6).

Quando nos comparamos e nos achamos “menores que”, estamos perdendo a confiança na paternidade doce e agradável do nosso Pai. Estamos acreditando que Ele nos esqueceu dentro da multidão de seus muitos filhos. Querida leitora, saiba hoje que isso não é verdade – isso é somente um peso tentando atrapalhar sua corrida. Creia na paternidade do nosso Senhor, que é bondoso conosco, e suportou toda a vergonha para que nós pudéssemos andar em confiança. 

Ainda que eu concorde que a comparação seja a inimiga da alegria, quero argumentar que nem toda comparação é tóxica. Como mencionado acima, a comparação pode ser uma ferramenta útil, desde que usada de maneira sã. Seja em um contexto de competição, de negócios, de ministério, de profissão ou qualquer outro cenário, quando alguém se observa em relação ao outro, existe um fator poderoso em jogo que não podemos ignorar: a oportunidade para a adoração. Quando perceber que alguém pode fazer algo melhor que você, por exemplo, não faça disso algo sobre si. Pelo contrário, olhe para o Criador e faça desse momento, um momento de celebração e adoração. Celebração pela vida daquela pessoa que possui tal qualidade e adoração ao Deus que é doador de todas as boas dádivas. Essa comparação não somente é sã, mas é cheia de edificação e louvor. 

É natural que queiramos adorar a Deus através da observação da natureza, dos animais e de acontecimentos sobrenaturais em nossas vidas. Mas já pensou que, diante dos seus olhos, Deus tem colocado pessoas em seu caminho que podem ser admiradas de uma maneira sã e que você pode ser levada a uma adoração mais profunda a Deus simplesmente pelo fato dessas pessoas existirem? Já pensou que os dons ou qualidades dessas pessoas com as quais você tem a tendência de se comparar foram dados por Deus e servem para a Sua glória somente?

Dito isso, vamos dar uma olhada em alguns instrumentos práticos para que possamos continuar correndo da tentação da comparação tóxica:

  • Quando você identificar alguma comparação que esteja acontecendo dentro do seu íntimo, convide o Senhor para essa conversa. Peça que Ele te ajude a olhar para seja lá o que está olhando e ver a beleza que Ele vê, sem precisar se sentir menor.
  • Seja grata pelo que o Senhor tem te dado e feito na sua vida. Uma das maiores razões para a amargura é a falta de gratidão. Quando não paramos para observar a beleza daquilo que Deus tem nos dado continuamos achando motivos para andarmos descontentes. 
  • Celebre de maneira genuína as vitórias daqueles ao seu redor, sabendo que o Senhor tem coisas boas para todos os Seus filhos e até mesmo para aqueles que não creem nEle, pela Sua graça comum. Ele é bom em todo o tempo. 
  • Ore constantemente para que o Senhor te ajude a se ver como Ele a vê: como filha amada e querida, que tem toda a Sua atenção e cuidado. Ele é um Deus onipresente e onipotente, não há como escaparmos da Sua bondade e amor. Ele se deleita em você. 

Não deixe que a comparação tóxica roube a sua alegria! Pelo contrário, fixe seus olhos no Autor e Consumador da nossa Fé e ache momentos para adorá-lo quando observar algo lindo diante dos seus olhos, deixando que essa adoração lhe traga alegria. Sorria pelo fato de que Ele é bom, criativo e generoso, e creia na provisão dEle, que prometeu não te abandonar e não deixar nada faltar para você. A corrida será mais leve assim!


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