Milagres de Jesus: A Multiplicação dos Pães e Peixes

“Tudo o que tem que ver com o Filho de Deus é assunto bastante apropriado para estudos mais profundos, e todos os seus ditos e feitos deveriam ser constantemente buscados por aqueles que neles se comprazem”, declarou o “príncipe dos pregadores”, como era conhecido Charles Spurgeon. Só podemos concordar, a começar pelo grande feito que nos levou da perdição aos braços amorosos do Pai da Eternidade. 

Em se tratando dos maravilhosos feitos que Spurgeon parece mencionar, tendo em vista os anos de ministério de Cristo, está o famoso milagre da multiplicação de pães e peixes na cidade de Betsaida. Uma demonstração escancarada de que no Reino de Deus todos são saciados pelo Pão da Vida.

Esta cena é narrada nos quatro evangelhos (Mateus 14.13-21; Marcos 6.30-44; Lucas 9.10-17; João 6: 1-14) e está entre as que mais chamam atenção nos relatos dos três anos de intenso trabalho do Salvador. Nela encontramos uma sequência de fatos bastante intrigantes: uma multidão faminta (espiritual e fisicamente), discípulos ansiosos por resolver uma situação à beira de se tornar polêmica, Cristo testando a fé de Seus alunos, um garoto generoso que decide oferecer seu lanche ao Mestre, cinco pães de cevada e dois peixinhos sendo multiplicados para alimentar mais de cinco mil pessoas e doze cestos sendo cheios com pedaços de pães que sobraram para mostrar que Deus tem sempre mais a oferecer aos corações famintos que o buscam.

Por alguns instantes, nos assentemos junto a essa multidão e aprendamos do Senhor o que o milagre da multiplicação tem a nos ensinar.

Nossa fé em Cristo sempre será provada

Ao comparar as narrativas, podemos notar que Mateus, Marcos e Lucas relatam uma leve provocação do Senhor Jesus ao dizer aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”, enquanto João traz outro ponto de vista: “Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para lhes dar a comer? Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que estava para fazer.”

Chega a ser um pouco cômico imaginar Cristo dizendo aos discípulos que dêem de comer a uma multidão de mais de cinco mil pessoas ou perguntando onde poderiam comprar tanta comida. A começar por sua condição financeira, passando pelo local onde estavam e chegando até o abalo emocional em que se encontravam, era óbvio que nenhum deles tinha como solucionar o problema da fome daquela multidão (e a deles também, diga-se de passagem). Sabendo do caráter de Cristo, podemos afirmar que Ele sempre tem todas as respostas. Mas, a julgar pelo comportamento que tiveram, vemos que os discípulos ainda não estavam totalmente convencidos disso.

O que nos leva a concluir que nossa salvação não nos garante uma posição cômoda e estável em relação ao tempo que passarmos deste lado da eternidade, tal como os discípulos que andaram lado a lado com Cristo não permaneceram “deitados eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo” depois de serem chamados a segui-lO. Até que o tempo determinado se cumpra, nossa fé nEle sempre será provada, pois o pecado (que nos faz duvidar, cair e ferir) ainda está presente e precisa ser combatido, ainda há muito trabalho pela frente na propagação das boas novas e o trabalho da expansão do Reino de Deus no mundo não foi concluído. Nós precisamos continuar confiando, crendo e indo, até que Ele venha!

A providência de Deus opera na nossa insuficiência

João narra que André traz um rapaz com algum alimento disponível. “Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas o que é isto para tanta gente?”, ele pergunta a Cristo (Jo 6:9). 

Há momentos em que, no altar do Senhor, derramamos nossa alma e oferecemos nossas vidas em serviço a Ele, mas ainda duvidando como André: “o que isso representa diante de necessidades tão grandes que o Reino tem?” Pois bem, chegou o tempo de mudarmos nossa postura. Tal como o rapaz silencioso que apenas entregou seus recursos, precisamos ofertar sem focar em nossa insuficiência, pois estamos diante de Quem detém o domínio do universo, é onipotente e extremamente criativo.

Cristo poderia ter repetido a chuva de maná que caiu no deserto ou ter ordenado aos anjos que trouxessem comida suficiente; ou, até mesmo, fazer brotar da relva verde um banquete suntuoso. Mas, sua providência veio de dois elementos populares, simples e que só serviriam para alimentar, no máximo, uma família pequena. Foi uma pequena amostra de que o grandioso Deus escolhe adentrar em nossa realidade ordinária e limitada para convertê-la em uma realidade extraordinária, sem precedentes e perfeitamente ilimitada.

O pouco, com Cristo, supera nossas necessidades

“Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam. E, quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.” ‭‭João‬ ‭6‬:‭11‬-‭12‬ 

Você também notou que a distribuição dos alimentos se tornou um grande buffet ao estilo “coma à vontade”? Mulheres, homens e crianças puderam comer o tanto que queriam, havendo até a possibilidade de levar um pouco para casa. Imagino que aquele rapaz pode ter titubeado em entregar sua marmita do dia, talvez pensando em como explicaria para sua família que todo o suprimento havia sido doado. E então, antes que seu coração pudesse desistir da suposta ação de caridade, o Mestre lhe providencia um cesto transbordante de provisão. Não é assim também conosco? Quantas vezes temos presenciado milagres em nossa despensa de alimentos? Quantas vezes você se coloca diante da Palavra de Deus desejando apenas um sopro de alívio na alma e é favorecida com paz que excede o entendimento? Quantas vezes abrimos nossa Bíblia para uma leitura rápida e somos surpreendidas por um banquete espiritual em um único verso? Em Cristo, nossa fé provada e aprovada garante fartura.

Por fim, quero destacar algo especialmente precioso que aquela multidão aprendeu. O único apóstolo que registrou este fato foi João: “Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles” (‭‭João‬ ‭6‬:‭11‬). Antes do milagre, Ele nos ensinou sobre gratidão. Tudo vem do alto, tudo pertence ao Pai e somos imensamente abençoadas por recebermos porções diárias de Sua bondade e graça. Por isso, antes mesmo de desfrutarmos das dádivas, devemos dar graças pelo simples fato de sermos alvo deste amor generoso. Esse exercício pode ser mais difícil em alguns momentos da vida, mas é certo que o Pai se agrada de estender a mão a quem O recorre com humildade e grata dependência.

Durante nossa vida, podemos ocupar vários lugares similares a esta cena: ora faremos parte da multidão faminta, ora seremos nós a oferecer algo aparentemente pequeno para o Reino, ora seremos aqueles a ver de perto o que o Filho de Deus pode fazer diante de uma situação crítica. Que nossa postura seja sempre de fé, oferta e gratidão.


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